Entre os dias 28 de julho e 08 de agosto aconteceu na cidade do Rio de Janeiro o XV Festival Brasileiro de Cinema Universitário. Nessa edição debutante do festival, o homenageado foi o cineasta Vladimir Carvalho, com uma mostra especial de seus longas.
Além disso, o festival ainda contou com oficinas de Cinema Narrativo ao Vivo, Capitalização à Finalização Digital, um curso sobre Dogma 95, que debuta junto do festival, além de outras atrações não menos interessantes.
Para a Mostra Competitiva Nacional foram selecionados 46 curtas de diversas universidades, distribuídos em sete programas que contaram com a grande presença do público e calorosos debates. O júri foi composto por Luiz Fernando Goulart (cineasta, produtor e diretor de TV), Thereza Jesseroun (já trabalhou como continuista, fotógrafa e como assistente e produtora de Eduardo Coutinho), Rubens Machado Júnior (professor da ECA-USP), além de alunos convidados: Giovani Barros (UFF), Gustavo Peroba (FTC), Marcus Neto (UMA) e Pedro Cortese (USP).
Dos programas da Mostra Competitiva pude acompanhar apenas alguns, pois estava envolvido com outras atividades do Festival, que comentarei em breve. O primeiro programa que assisti foi o 4º na ordem de apresentação, que contou com os filmes “Pela Janela” (UFSCar), “Cerimônia” (ANHEMBI-MORUMBI), “Fácil Como a Vida” (UFF), “Ruído Negro” (UERJ) e “Pequenina” (UNISINOS). Dessa mostra, algumas coisas se destacaram, como a coragem do roteiro e das escolhas de direção de “Cerimônia”. Sem medo de trabalhar com os atores, a diretora enfrenta um tema pesado de forma direta, a ausência está ali na tela, a dor e o sofrimento das personagens estão na interpretação dos atores, tudo é mostrado sem truques, ou melhor, sem apelar para clichês e sem fugir completamente deles (de maneira que tornaria a narrativa incompreensível). Ainda é interessante comentar a coerência técnica de “Fácil Como a Vida” e a ousadia de trabalho com o som de “Pequenina”.
Na noite seguinte, uma programação um pouco mais interessante. Primeiro, o curioso trabalho de sensação de calor em “Verão” (UNIFOR), um filme em preto e branco, que foge dos clichês das cores para transmitir algo “quente”. Em seguida, “José” (UFF) trabalha a ausência e a memória num roteiro bem elaborado. O roteiro também é o ponto forte de “Quebra Corrente” (ANHEMBI-MORUMBI) e um dos elementos bem trabalhados da animação “Izamara” (ANHEMBI-MORUMBI), que tem um apelo estético nos desenhos, totalmente conciso. O curta-metragem “Devir” (USP) talvez tenha sido um dos mais interessantes de todo o festival, o trabalho dos atores com a câmera não apresenta falhas, é extremamente bem ensaiado e prende a atenção na tela, que não pára de girar. A montagem também impressiona, trazendo agilidade para a narrativa. A sessão ainda contou com “Mira” (FAAP) e “Dois pra lá, Dois pra cá” (UFF) que ganhou o prêmio de voto do público.
O último programa que acompanhei, e também último do festival já começa com um belo filme “Mar Exílio” (UNESA), que trabalha em todos os níveis da imagem e do som a sensação de ausência com o elemento água. Ainda tiveram “3.33” (FAAP), a animação “Um Lugar Comum” (UFSCar), “Feijão com Arroz” (UnB), “O Capitão Chamava Carlos” (FAAP), um filme que gerou discussão por tratar o tema da ditadura através de um olhar pouco comum, o do torturador, que em certa medida é colocado também como uma vítima, “Circuito Interno” (FAAP) e “Avós” (FAAP) que provocou risos da platéia mesmo trabalhando com temas delicados.
Independente dos vencedores, cada um desses programas contribui para uma ampla discussão e pensamento para todos os presentes na sessão, os debates e questões levantadas após os filmes, nos leva a pensar coisas novas e à possibilidade de aplicar muitas coisas ali apreendidas em nossos próximos projetos.
Contudo, o que mais pude acompanhar, pois estava participando, foi a Oficina do Projeto Sal Grosso. Foram três dias de intensa discussão com excelentes profissionais: Bruno Safadi, Anna Azevedo e Sabina Anzuategui, cada um com suas experiências e com gostos diferentes.
Resumindo, o projeto consiste na escolha de 12 roteiros de estudantes de diferentes universidades para os três dias de oficina, após essas intensas discussões, um desses roteiros é escolhido para ser filmado e estrear no próximo FBCU. Ao chegar no primeiro dia, não conhecia nenhuma pessoa que estava presente ali, fomos então divididos em três grupos e cada oficineiro fica responsável por um grupo naquele dia. Começam então os debates, analisamos roteiro por roteiro e questionamos o que funciona, o que não funciona, propostas de melhoria, propostas até mesmo de direção. A cada dia que passava, novos pontos eram levantados, cada vez mais as pessoas iam interagindo e tendo liberdade para conversar sobre os projetos até mesmo fora do horário de oficina. Os doze, e mais os dois alunos de Ensino Médio convidados a assistir como ouvintes (e que contribuíram bastante com a presença, trazendo um olhar “externo” ao meio cinematográfico) passa a agir como um grupo que está mais preocupado com a evolução em conhecimento de roteiro e de cinema, do que com preocupações internas na melhoria de um roteiro pessoal, o que faz com que o trabalho torne-se mais divertido e relevante. Todos têm liberdade para opinar e abertura para ouvir, o que ao final dos três dias faz com que estejamos bem mais íntimos e com vontade de continuar fazendo coisas juntos. O roteiro escolhido foi “Jantar” de Eduardo Morotó da UNESA. Mas sem demagogias, todos ali saem como vencedores pela experiência e talvez esse seja o ponto forte que torna o festival tão interessante. A troca não só com os que estavam no Sal Grosso, mas com todos os realizadores é uma coisa que vai ser levada por toda a carreira cinematográfica de quem participa, entramos em contato com o que é produzido em todas as regiões do país, percebemos semelhanças e criamos laços de parceria e amizade que com certeza serão levados por um bom tempo, instigando-nos a cada vez mais experimentar e produzir conteúdo audiovisual.
Após o encerramento do festival, com uma divertida entrega de prêmios, fica uma sensação de dever cumprido e a vontade de retornar no ano seguinte e apresentar os projetos que foram desenvolvidos à partir dali.
Vitor Vilaverde é graduando em Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)
Pingback: Crítica na revista RUA « Curta-metragem Cerimônia
Olá!
Obrigada pelas observações sobre o “Cerimônia”, é bom ver alguém falando do filme aqui, li muito a RUA durante a faculdade.
Se quiser saber mais sobre o curta, temos um blog: http://curtacerimonia.wordpress.com/
Abraços,
Francine Barbosa.
OI eu me chamo Clara Barros e fui a atriz do curta metragem ¨Cerimônia¨.
Obrigada por ter comentado sobre o filme, gostei muito e espero que o curta seja comentado em muitas revistas.
Obrigada
Clara.