6º Música e Mídia: a música de/para

Percepções gerais

O evento Música e Mídia aconteceu na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, do dia 15 até o dia 17 de setembro. Procurando discutir as constantes transformações da música, da criação à recepção, vários pesquisadores de diferentes ideias, estudos e pensamentos se reuniram. Pessoalmente, foi muito gratificante ter a reunião de todos esses estudos e trabalhos, de áreas ou assuntos em que muitas vezes o profissional, professor, pesquisador ou estudante se vêem sozinhos. Estavam no evento pessoas de todas as regiões brasileiras, de vários Estados, de norte a sul.

Como exposto pela Comissão organizadora, os eixos temáticos propostos eram:

1- O artista e a imagem do artista como polos de informação e difusão da obra;

2- Novas linguagens e novos hábitos de escuta;

3- Música, comunicação e recepção;

4- Música, linguagens sonoras, linguagens audiovisuais e performance ao vivo.

Relacionado ao Centro de Estudos em Música e Mídia, o evento original da cidade de Santos subiu a serra com a coordenação da Profa. Heloísa Valente, Prof. e compositor Paulo Chagas e Prof. Ricardo Santhiago, e é claro de muitas outras pessoas que colaboraram com a realização da sexta edição.

Apesar pelos muitos contratempos, o evento seguiu abordando essa área de estudos híbrida e transdisciplinar que não é coberta pelas áreas da CAPES, apesar da sua importância. Para vencer o desafio da pesquisa, propôs-se a criação de uma Associação Brasileira de Música e Mídia, que não foi discutida de maneira formal apesar da relevância do projeto.

A área relacionada a música e mídia tem sido cada vez mais estudada, pensando a relação do meio sonoro e seus meios de gravação, manipulação, reprodução, e surgimento de novas linguagens, sendo que cada vez mais há convergência, dando origem a outros formatos.

Mostrar que não há obstáculos entre a prática artística, tecnologia e ciência, expondo pesquisas tão múltiplas e diversificadas, foi um grande ponto criado pelos participantes do evento.

Os resumos dos trabalhos podem ser lidos aqui.

Sobre a programação

Como muitos trabalhos diferentes foram expostos, faço aqui apenas um delineamento geral.

Um destaque na programação, aguardado por muitos participantes do evento, foi o lançamento do livro “Ensaio sobre o rádio e o cinema: estética e técnica das artes-relé, 1941–1942 – Pierre Schaeffer”. O livro foi resultado de um grande trabalho do Prof. Dr. Carlos Palombini e Sophie Brunet, secretária de Pierre Schaeffer. O livro conta com textos inéditos de Pierre Scheffer, importante figura da música, estudioso e profissional do rádio e um dos criadores da música concreta.

Ainda que muitos assuntos não tenham sido abordados, as discussões e apresentações do eventos foram marcadas por uma transdisciplinaridade muito cara a abordagem de temas como música e mídia. Muitas pesquisas não tinham como enfoque somente o universo sonoro, houve uma persistência saudável e interessante da imagem em vários trabalhos, que abordavam as relações com a música em cinema, vídeo, vídeo-jogos e televisão, até sinestesia, trans-sensorialidade, música ubíqua e interações. Enfim, áreas ainda não solidificadas ou reconhecidas por agências financiadoras de pesquisa. Junto a tudo, também foi uma marca do evento a música portuguesa, que disputava o espaço da programação.

Da Universidade Federal de São Carlos participaram Fernanda Carolina Armando Duarte, mestranda em Imagem e Som, abordando a relação entre a MTV, o videoclipe e o movimento MangueBeat, e eu, Luciana Santos Roça, atualmente professora substituta do curso de Imagem e Som, abordando a transformação da paisagem sonora e sua relação com o papel das mídias sonoras portáteis na desterritorialização da escuta.

Impressões

A música às vezes parece caminhar além do sonoro. Tal fato é identificado não somente por trabalhos sobre a linguagem do DVD musical, mas também por vários trabalhos que evocam a linguagem audiovisual – não só abordando a relação entre sons e imagens, mas também linguagens audiovisuais existentes, como cinema e televisão.

Evidenciam-se as perguntas clássicas: será que a música como é conhecida hoje Sobreviverá? Quais são as possibilidades de aberturas no processo de criação? Essas aberturas são desejáveis? Como é a relação da música com a imagem? Como deve atuar o mercado? Até quando um evento sonoro é uma música? A música hoje feita com a parceria da imagem é música ou audiovisual? Afinal… o que é música?

Luciana Santos Roça é graduada em Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos e atualmente professora substituta na instituição.

Author Image

RUA

RUA - Revista Universitária do Audiovisual

More Posts

RUA

RUA - Revista Universitária do Audiovisual

Deixe uma resposta