Por Loiane Vilefort *
Fotos por Jéssica Agostinho*
A rede cineclubista sempre foi pautada ao longo da história do festival CONTATO. Na edição anterior ganhou uma cuidadosa exposição sobre o histórico cineclubista da cidade sede do festival, São Carlos, e nesse ano surge de maneira mais direta e dialogada: em uma roda de conversa com representantes cineclubistas.
Atualmente são aproximadamente 16 cineclubes espalhados pela cidade e, como muito bem apontado durante a própria conversa, este número se refere apenas aos cineclubes conhecidos, inevitavelmente deixando uma boa parcela fora do mapeamento.
A conversa aconteceu na emblemática Geodésica, em frente à Rádio UFSCar, ponto chave do festival, em um encontro que reuniu alguns dos cineclubistas da cidade. Com uma breve apresentação de seus respectivos cineclubes, ficaram claras as propostas de exibição, como, por exemplo, as de teor temático, como o Cine ConsumoSol, onde o foco são documentários que de alguma forma debatam o consumo consciente. Outras propostas, no entanto, estão mais voltadas à ocupação dos espaços, como o Cine São Roque que possuía o objetivo de alcançar um bairro distante da cidade. Além de outros, como o Cine Gonzaguinha, que se baseia em um público específico, o infanto-juvenil, no Jardim Gonzaga, outro bairro periférico de São Carlos.
Um dos apontamentos da discussão foi exatamente a integração entre os cineclubes que, muitas vezes, acabam dispersos e sem comunicação. Foi evidenciada uma proposta de formação de uma rede cineclubista da cidade. Os convidados debateram a respeito, argumentando a importância de tal ação no intuito de reconhecimento do trabalho cineclubista, e de agregar forças uns aos outros. Uma das cineclubistas presentes, Réa Silvia, apontou que embora não seja possível estar em todos os cineclubes, é importante possibilitar a visibilidade dos outros espaços. Novas parcerias e novos meios de divulgação possibilitam que o cineclube chame públicos diversificados, agregando mais discussão às exibições e mais pessoas ao debate.
A importância de existirem outros espaços para a exibição cinematográfica é um dos impulsos desses cineclubes. Tirar o foco das salas de shopping, onde o circuito de distribuição é preso à lógicas de indústria e mercado, e onde o que importa não são as pessoas, mas sim os ingressos vendidos. Uma contraposição que se mostra muito clara nos cineclubes, onde os espectadores tem grande interferência no processo. Durante a conversa, foram citados exemplos, como um rapaz que levou seu pai em uma exibição do Pró-Cannabis TH Cine para a discussão de um assunto ainda tão coberto de tabu.
A ideia debatida foi que as pessoas não precisam necessariamente ser fiéis a um único cineclube, mas que saibam da existência dessa rede alternativa de cinema e que nela há a possibilidade de debate além de uma simples exibição. Alguns dos presentes comentaram sobre oficinas de cineclube já realizadas e que o interessante é que a prática seja cada vez mais habitual na vida das pessoas e de suas comunidades, possibilitando debates pertinentes a elas.
Uma das questões mais interessantes durante o encontro foi o trabalho cineclubista em realidades diferentes dos realizadores. Até que ponto a interferência externa contribui para a comunidade? Ouvindo relatos dos próprios cineclubistas podemos perceber o quanto é pessoalmente enriquecedor o trabalho de viabilizar as exibições e discussões. Mas em uma das falas, muito bem colocada, a questão do cuidado na escolha temática foi problematizado. Um erro fácil seria a escolha de temas que na verdade não condizem com a realidade das pessoas, ou de um tema que elas simplesmente não tem interesse em discutir no momento. Novamente voltamos a uma das ideias primordiais do cineclubismo: o protagonismo dos espectadores.
O grande número de cineclubes atuantes, tomadas as proporções da cidade, demonstra a vontade de vários grupos espalhados por São Carlos em promover a discussão através do cinema. Uma tarefa que, apesar de simples, requer trabalho, como apontado por Maurício Zattoni, evidenciando que é necessário um esforço em pontos chaves como o público, a divulgação e a própria seleção dos filmes a serem exibidos.
O que fica claro com o debate é a verdadeira dedicação à atividade cineclubista em busca de conhecimento e troca de informação entre as pessoas. Como apontado em uma atividade anterior do festival, sobre a distribuição cinematográfica, as exibições em cineclubes não são reconhecidas por órgãos governamentais de audiovisual, mas que, no entanto, possuem uma potencialidade de exibição, discussão, alcance e fomento que nenhuma sala de cinema comercial consegue se aproximar.
É a ideia de “faça você mesmo” sempre criando alternativas aos modelos engessados. Ainda é possível destacar que todo o debate foi transmitido ao vivo via internet pela chamada PósTV, da Rede Fora do Eixo, terminando por evidenciar as iniciativas alternativas aos modelos de comunicação, e possibilitando a discussão não apenas aos presentes como também para qualquer outra pessoa interessada no debate.
* Loiane Vilefort e Jéssica Agostinho são estudantes de Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos e editoras da RUA.
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