A Árvore da Vida (Terrence Malick, 2011)

Por Diego Paulino*

Que A Árvore da Vida, de Terrence Malick, vencedora da Palma de Ouro de Melhor Filme no Festival de Cannes, seria indicado na categoria de Melhor Fotografia no Oscar, disso não tive dúvidas desde que, abismado com a beleza e a qualidade técnica das imagens, saí da sala do cinema, ainda em 2011. O que surpreendeu, de fato, foi a indicação ao prêmio de Melhor Filme, e nos parágrafos a seguir pretendo deixar claro o porquê de minha consternação.

O longa de Malick foge totalmente ao que a Academia está habituada – e mal acostumada – a indicar em suas categorias: A Árvore da Vida desvia ao padrão hollywoodiano: planos longos, uma história não mastigada, exigindo mais intelecto do espectador, e a presença de poucos diálogos são fatores que contribuem para que o grande público não tenha ficado satisfeito com a produção, achando-a “sonolenta”.

Contado de forma não linear, o filme se inicia com a notícia de que o filho do meio da Sra. O’Brian (Jessica Chastain) morrera na guerra, e esse é o pontapé  inicial para que a família O’Brian – com Brad Pitt no papel do patriarca – comece a se desestruturar.  Usando e abusando de alegorias e metáforas, o filme explicita a relação do ser humano e sua pequenez com o mundo e o universo, a função da Obra de Deus e se é realmente uma obra consciente: temos algum propósito maior ou somos fruto apenas de uma coincidência de reações químicas que deram certo?  Perguntas – e não respostas – acerca desse assunto permeiam todo o filme.

Tendo isto como plano de fundo, Malick expõe preceitos cristãos, em que cada ser vivo escolhe levar a sua estadia na Terra por dois caminhos: o da graça, ou o da natureza.  O oprimido e o opressor, e, na diegese do filme, a mãe e o pai. Uma relação de opostos, escolhas e renúncias, mas sempre guiada por uma força maior e sobrenatural – no caso, o Deus cristão e suas formas confusas de agir sobre a Criação.  A história se desenvolve sempre retomando imagens magníficas da origem do universo ao mesmo tempo em que a família é mostrada, desde o nascimento de Jack (Hunter McCracken e Sean Penn, já adulto) até sua adolescência rebelde. É necessário destaque à atuação de McCracken, que consegue se destacar contracenando com Pitt: o garoto é capaz de passar emoções como raiva e frustração somente com um olhar, um gesto. Hunter consegue expressar o que a personagem sente de uma forma tão natural que às vezes assusta.

O filme inquestionavelmente não atinge somente pessoas religiosas. Até mesmo quem não crê em uma força maior é tocado, de alguma forma, pela produção.  Terrence consegue trabalhar assuntos tão clichês de uma forma singela e diferente, e A Árvore da Vida torna-se uma ode à beleza imagética. A trilha sonora, composta por Alexandre Desplat, não deixa a desejar, casando perfeitamente com a fotografia.

Mas então porque o grande público não gostou da produção?

É como disse acima: é um filme diferente, lento, mais exigente do espectador e de sua imersão na diegese. Além de tratar de clichês – a desestruturação familiar, os pais opostos, os filhos rebeldes – de uma maneira que não estamos habituados a ver, a quantidade esmagadora de muitas perguntas e poucas respostas, deixando para que cada um crie seu próprio final e sentido a partir das próprias experiências, contribui para que a produção tenha recebido tantas críticas negativas.

Seja por Jessica Chastain e sua beleza estonteante, seja pela atuação de Hunter McCracken, pelas imagens da Terra em formação ou para apenas ter argumentos quando entrar em alguma discussão: A Árvore da Vida é um filme que merece ser visto, e assim como é tratado em seu enredo, as opiniões quando os créditos subirem pela tela preta ao final da projeção serão opostas: uns vão detestar; outros, venerar.

*Diego Paulino é graduando em Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos.

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