O Axial, projeto concebido por Sandra Ximenez e Felipe Julián, tocou dia 24 de abril no Teatro Florestan Fernandes da Universidade Federal de São Carlos. A banda faz um som “eletroacústico” original, envolvendo uma idéia de “transculturação” tanto nas melodias como nas letras.
Banda Axial no Teatro Florestan Fernandes
O show começa com os músicos tomando seus lugares. Baixo, guitarra semi-acústica, saxofone, clarinete, teclado e dois laptops. Sandra e Felipe estão descalços, ela vai para o teclado e ele toma o seu posto entre os computadores e o baixo elétrico. As músicas geralmente começam com sons de percussão. Como não há bateria ou qualquer outro instrumento de marcação, as batidas são originadas dos laptops comandados por Felipe. Além dessa marcação, outros sons são estrategicamente gravados e introduzidos durante o show, destacando-se na produção musical do grupo, realizada pelo próprio Felipe.
foto: Dani Teixeira
A proposta de “transculturação” logo é apresentada com uma música cantada em haitiano. Tanto nessa, como em algumas outras canções, a percussão é fortemente influenciada pelos ritmos e instrumentos africanos, como atabaques e congas. Uma dessas músicas é “Papaloko”, que mistura a serenidade da voz de Sandra com os batuques nascidos na África. A influência musical brasileira também é forte. A MPB principalmente. Porém, como diferencial, estão sempre misturando ritmos e criando coisas novas. É perceptível que os músicos gostam e tocam MPB, entretanto não existe no set list uma música composta apenas por esse ritmo.
Junto a Sandra e Julián, estão Ivo (guitarra) e Leonardo (saxofone e clarinete). A guitarra raramente é distorcida, a preferência por outros efeitos e a chamada guitarra “limpa” encaixou-se perfeitamente com a proposta e a sonoridade do conjunto. Os instrumentos de sopro são impressionantes. Solos são frequentemente realizados e há uma experimentação constante, servindo de exemplo um solo de clarinete feito com “overdrive”, deixando o som do instrumento levemente distorcido.
Fora do palco, mas não menos importante que os músicos, está Edu Marin. Este é o responsável pela seleção e projeção das imagens durante o show. Ele disse que as imagens já vão prontas para as apresentações, apenas seleciona quais serão utilizadas e trabalha com efeitos em cima das composições.
fotos: Dani Teixeira
Imagens do corpo humano, desenhos pintados na pele e símbolos são frequentemente utilizados. As imagens pintam os músicos em cima do palco e intensificam os movimentos de Sandra enquanto canta ou toca teclado. Há ainda a preocupação com o sincronismo de imagem e som. Os cortes, em algumas músicas, estão organizados com o tempo musical, numa montagem rítmica previamente idealizada.
Em uma das músicas, cantada também em haitiano, Edu projeta uma única imagem de uma janela voltada para o mar. Talvez querendo transmitir o sentimento dos escravos africanos nos navios negreiros, em direção a América e outros continentes. O plano da janela dura toda a música e acaba com um fade out longo, perturbador.
No final do show, Sandra explica o projeto do “creative commons” que a banda faz parte. O projeto envolve mais de 40 países, criando um novo modelo de gestão dos direitos autorais. Ele permite que autores de cinema, música, fotografia, livros, etc., liberem parte de suas criações para a sociedade. Assim, podemos encontrar os dois CDs da banda Axial para download no próprio site deles (www.axialvirtual.com).
O show composto por 11 músicas acaba e é muito aplaudido. Os músicos agradecem e saem do palco, porém voltam cinco minutos depois atendendo aos pedidos de bis. Tocam novamente uma música intitulada “Filha da Palavra”, composta por Sandra Ximenez e inspirada numa exposição da arquiteta Tula Kawasaki em São Paulo.
Juliano Parreira é graduando em Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)