Mostra Audiovisual de Cambuquira (MOSCA) 7

Por Fernanda Sales e Thiago Jacot*

A MOSCA 7

por Fernanda Sales

A MOSCA – Mostra Audiovisual de Cambuquira – chegou em sua sétima edição entre os dias 11 e 15 de Julho, lá em Cambuquira, cidade do sul de Minas Gerais que conta com apenas 12 mil habitantes. Cambuquira está localizada no circuito das águas mineiro, sendo que a cidade recebe muitos visitantes que passam em busca de descanso e tratamentos através das propriedades minerais e medicinais das águas cambuquirenses.  A mostra acontece desde 2005 no Cine Elite e no espaço Sinhá Prado, um espaço cultural que se ocupou de um grande prédio onde antes havia uma das construções abandonadas que a muito fora um dos muitos cassinos de Cambuquira. O espaço Sinhá Prado (que anteriormente já existia como espaço cultural na cidade de Américo Brasiliense no interior de São Paulo) atua com atividades culturais na cidade, sendo a MOSCA um dos grandes eventos – senão o maior – realizado pelo espaço.

Fachada do Cine Elite. Foto por Mateus Rios

Além das mostras de curta-metragens, a MOSCA 7 proporcionou oficinas,  atividades para o público infanto-juvenil, exposições e debates.  Na sétima edição do evento ocorreram cinco mostras, a mostra Brasil, a Internacional, a Infanto-Juvenil, a mostra Cambuquira e a Sexta-feira 13.  Todas elas recheadíssimas de produções que refletiram o audiovisual contemporâneo brasileiro, internacional e cambuquirense! Cada exibição de curtas fora formatada por uma curadoria precisa que elencou filmes com temáticas ou apelos semelhantes. As seções encerravam-se sempre com um debate com o público, sendo que muitas vezes estavam presentes os realizadores de alguns dos filmes, e esse é um dos pontos positivos da MOSCA: seus debates. Vale ressaltar a qualidade das exibições, que estavam primorosas. Muitas pessoas se espantavam ao entrar na sala: pela primeira vez a MOSCA contou com um projetor digital de alta resolução, capaz de projetar vídeos em HD e Full HD com uma qualidade excelente. Estava lindo.

Foto por Mateus Rios

Foram cinco oficinas ofertadas, sendo elas de realização audiovisual, de lightpaint, de dança no cinema, de palhaço e de memória audiovisual. O interessante é que todas as oficinas, realizadas em cerca de apenas três dias, tiveram como resultado um produto final exibido no encerramento do evento. Esse aspecto de ter um produto, uma obra coletiva, no fim do trabalho é aparentemente bastante gratificante para os envolvidos, e demonstrou que ocorreu uma troca de experiências positiva nas atividades desenvolvidas. Houve uma exposição fotográfica, “Instantes de tempo em Cambuquira” e quatro audiovisuais, “Lugares e identidades”; “A Campanha que eu vejo”; “Leaving Dublin” e “Patrimônio – Roteiro Sentimental”. Todas abertas e livres ao público, assim como todo o resto da programação.

Público e produção Cambuquirense

O envolvimento das pessoas de Cambuquira nas atividades é notável. Algumas mostras lotaram o pequeno cinema Elite (que conta com cerca de 200 lugares) e os debates muitas vezes ocorreram de forma acalorada, gerando vastas discussões sobre os filmes assistidos. É impressionante para quem vai pela primeira vez na mostra perceber esse envolvimento que a cidade tem com o audiovisual e com o evento.  Logo percebe-se pessoas que estão assiduamente em todas as mostras, e que, super a vontade, levantam questões – nem sempre amenas- nos debates, votam em todos os curtas assistidos, e, o mais bacana, produzem audiovisual. Sim, na pequena Cambuquira já há grupos formados de realizadores, há também produtoras audiovisuais, que com certeza se consolidaram com o incentivo que o evento anual trás a cidade.  De forma que, nessa edição, foi realizada uma mostra com seis curtas produzidos por produtores locais (Mostra Cambuquira). Desde o começo da Mostra Audiovisual de Cambuquira até 2011 foram produzidos cerca de dezessete filmes na cidade, sem contar todos aqueles realizados em oficinas da própria MOSCA.  O Cine Elite lotou de forma que suas portas não puderam ser fechadas e na noite da mostra Cambuquira várias pessoas assistiram de pé, do lado de fora da sala de cinema, aos filmes da cidade. Momento muito emocionante.   Também foi realizado o “Encontro do Cinema e Vídeo Cambuquirense” que visava contribuir para o debate da realização audiovisual local, juntando os produtores e os interessados para se pensar o desenvolvimento, as diretrizes e a continuidade da realização de filmes na cidade.

Sala lotada na Mostra Cambuquira. Foto por Mateus Rios.

Muito presente também na Mostra Audiovisual de Cambuquira é o público infantil. A Mosca 7 realizou dois dias com duas seções infanto-juvenis,  sendo elas seguidas do Clubinho da Mosca, um espaço no qual as crianças puderam desenhar, fazer colagens, brincar e comer pipoca.  A recreação acaba sendo um belo incentivo para as crianças participarem do evento de forma geral.  Houve seções com a sala lotada de crianças. Criança assistindo a curtas metragens em uma sala de cinema: grande iniciativa para formação de público para cinema em época na qual a internet, a televisão, os jogos eletrônicos, estão tão presentes na vida dos pequenos.

Crianças esperando o cinema abrir para a mostra infanto-juvenil. Foto por Mateus Rios.

Desta forma, a MOSCA 7 de fato realizou o cinema e o audiovisual levando ao público, que se demonstrou muito participativo, uma diversidade enorme de filmes, sendo eles documentários, universitários, animações,  ficções, experimentais e até em 3D. Certamente difundido uma recente produção de audiovisual. Promoveu também a realização cinematográfica da/na cidade e o pensamento sobre essa produção com as discussões, debates e oficinas.

Por quê a Mosca?

Por Thiago Jacot

A princípio, pensar o porquê de uma mostra como a Mosca 7 acontecer em uma cidade pequena como Cambuquira, no interior de Minas Gerais, é estranho. Estamos acostumados com festivais de cinema gigantes, com um grande público e inúmeras produções audiovisuais em exibição. Sim, são tipos de festivais e concordamos com tal fato, também atingem um certo público. No entanto, mesmo com essa produção megalomaníaca, ainda sentimos que falta o essencial, um modelo essencial: A consolidação do audiovisual com o público e de que formas fazer isso acontecer. Temos a impressão que esse é o modelo principal da Mosca. Ela se preocupa com a qualidade e de que formas criar laços entre os filmes e seus espectadores. Assim, entende-se o sucesso dessa Mostra nas serras mineiras. Começa-se pelo essencial e de fato obtém grandes resultados muito importantes para o público cambuquirense. A produção e organização estão de Parabéns! Ansiosamente, aguardamos pela Mosca 8 e pela oportunidade de entrar no sagrado espaço do Cine Elite novamente.

Foto por Mateus Rios

*Fernanda Sales e Thiago Jacot são graduandos do curso de Imagem e Som da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e editores gerais da Revista Universitária do Audiovisual (RUA).

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