Manhattan (Woody Allen, 1979)

Woody Allen em Manhattan: “Don’t be so mature”

Por Sabrina Haick *

Manhattan (1979), de Woody Allen, é um filme que fala de amor, mas principalmente de decepções amorosas, assunto tratado pelo diretor em outros longas, como em Hannah e Suas Irmãs (1986) e Match Point – Ponto Final (2005). O tom é o mesmo como se falasse do que comeu no almoço: da forma mais simples possível. A trama gira em torno de Isaac, Mary, Yale e Tracy, mas o que menos importa é quem vai ficar com quem. O que interessa é o modo como cada um lida com seus sentimentos.

O protagonista, Isaac, interpretado pelo próprio Woody Allen, tenta agir com maturidade desde o início, analisando as situações e procurando descobrir o que é melhor para si. O personagem se relaciona com uma garota mais nova e enfrenta a diferença de idade de modo racional desde o início, encarando o namoro como se seu fim já estivesse escrito. Contudo, depois de ver que suas escolhas não resultaram no esperado, ele deixa a razão de lado e segue seu coração como um adolescente apaixonado. Por incrível que pareça, “Don’t be so mature” é uma de suas últimas falas.

A película em P&B dá um ar mais melancólico para a trama. A princípio, a falta das cores parece tirar a vivacidade do filme, mas o roteiro é o responsável por não deixar isso acontecer. Costurado pelos vários diálogos entre os personagens sobre seus relacionamentos e problemas pessoais, o script sempre apresenta alguma piada do humor sofisticado de Woody Allen. “Sofisticado” porque as inúmeras referências feitas a escritores, pensadores e cineastas podem não fazer sentido para quem não as conhece.

Os prédios da cidade de Manhattan decoram o desenrolar da história de modo frio. São poucas as cenas em que as conversas rápidas não se passam com eles em volta. Uma delas é a que Isaac e Mary conversam sentados em um banco de praça enquanto observam a lua. Nesse momento, existe paz e silêncio, que duram pouco é claro, pois logo são interrompidos pela agitação da cidade e dos sentimentos.

Hábitos fortes da época são retratados de uma maneira que o espectador não espera que sejam. O motivo pelo qual o cigarro está entre os dedos de quase todas as pessoas, por exemplo, é dito por Isaac com espontaneidade e descontração em uma mesa de bar. “No, I don’t smoke, cause it gets you cancer. But I look so incredibly handsome with a cigarette that I can’t not hold one”, ele diz. (Em tradução livre: Não, eu não fumo, porque causa câncer. Mas eu fico tão inacreditavelmente charmoso com um cigarro que não consigo não segurar um).

Por mais que o tema do longa acarrete certa dramaticidade, não existe uma cena que combine imagem e som de forma que o espectador se debulhe em lágrimas. Nada é forçado, tudo é espontâneo, assim como são os sentimentos e suas inevitáveis mudanças.

A estrutura do roteiro, a profundidade dos personagens, as paisagens da cidade, a atração do tema, tudo está em sintonia. Porém, é a falta de um final que conquista o espectador. Afinal, quem não gosta de imaginar o amor?

*Sabrina Haick é graduanda em Jornalismo na PUC São Paulo.

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