*Por Nayton Barbosa
“A vida é melhor contada” Eduardo Coutinho
A frase acima citada foi lembrada pelo cineasta Victor Lopes, durante o enterro do documentarista Eduardo Coutinho. Conhecido por extensivamente ceder a voz a seus personagens e personas, Eduardo Coutinho, revelava em seus trabalhos, mistérios e enredamentos. Nunca por demais ingênuo, seu trabalho dentro dos documentários, suas perspectivas e abordagem trazia algo de interessante. Coutinho fazia acontecer.
Coutinho já disse que escolheu o documentário para fugir de questões como: onde colocar a câmera, como decupar e escolher seus planos, porém, mesmo usando tais artificios, seu trabalho transparece uma franqueza. Não é apenas o uso do artificio, e sim o te-lo e usa-lo de verdade.
A sinceridade de Coutinho pode ser expressa também através dos questionamentos que permeiam os estudos de documentários. O documentário deve ser encarado como um modo de apresentação que estabelece algumas asserções sobre o mundo, para entender essas asserções é fundamental entender como as “vozes” se expressam dentro da obra. E aqui encontramos um ponto crucial para apreciar Coutinho. Ao utilizar a “encenação do eu”, cria uma representação do real, buscando o imaginário dos personagens. Uma generosidade para com o outro, expressa através de uma “voz reflexiva” utilizando-se de observações e entrevistas, com comentários do diretor, indicando o carácter de representação do real.
Coutinho provoca um deslumbramento através da simplicidade do levar de seus personagens, da sutileza por vezes imperceptível. Ver um documentário de Coutinho, é deixar com que sua obra conversem com espectador por si só. Coutinho coloca problematiza a dificuldade de se chegar em um discurso não pronto, não ensaiado, onde os próprios personagens se narrando, se transformam e modificam aquelas que os assistem.
Coutinho foi morto pele seu próprio filho, que disse: “Eu libertei meu pai”. Um corte bruto em uma história, uma voz calada daquele que sempre ouviu os outros. Uma voz calada, que sempre será lembrada. Um Cabra Marcado para Viver para sempre por sua contribuição para a história do documentário contemporâneo.