CepiáXiíCatu no Teatro Florestan Fernandes

CepiáXiíCatu (Eu Coração Dou Bom)

CepiáXiíCatu. Um cumprimento indígena usado por Humberto Mauro é a estranha palavra a qual dá o nome ao espetáculo de Gilberto Mauro e Ricardo Garcia sobre este cineasta, um dos pioneiros do cinema brasileiro. Essa leitura multimídia da obra de Humberto é fruto de um encontro entre os dois músicos, os quais se conheceram em 2004, quando Gilberto convidou Ricardo para tocar em seu disco.

Uma mistura ocorre nas telas: os quatro primeiros filmes de Humberto Mauro (Thesouro Perdido (1927), Braza Dormida (1928), Sangue Mineiro (1929) e Lábios Sem Beijos (1930)) são exibidos lado a lado, divididos em uma estrutura não-linear formada por quatro partes: os momentos iniciais dos filmes, as cenas românticas, os encontros e desencontros, idas e vindas, vilões, brigas e intrigas, e as finalizações dos enredos. Enquanto os filmes se intercalam na tela, os músicos montam no palco a trilha para o que é visto. Parte desse som é gravado, mas grande parcela da música é feita ao vivo, de modo que o improviso também se constitui em um importante instrumento a Garcia e Gilberto.


Cobertura da RUA do show do CepiáXiíCatu no Teatro Florestan Fernandes

Garcia é responsável pela bateria e eletroacústicos , enquanto Gilberto Mauro fica com os teclados e com a sonoplastia. Ambos relacionam-se de maneira simultânea com as imagens, não apenas com os instrumentos tocados. Em uma das intervenções mais curiosas, Gilberto toca e quebra uma viola, tal qual o personagem faz na cena que roda no telão. Interessantes instrumentos chamam a atenção de quem está sentado, como um captador de contato dentro de um aquário com água e luzes, que libera som a partir de certos movimentos feitos dentro dele.

Gilberto Mauro conviveu com Humberto até os 14 anos de idade, é sobrinho-neto do cineasta. Diz que sua música é bastante familiar às imagens de Mauro. Ainda de acordo com Gilberto, a linguagem de sua música é pictórica, cinematográfica: é uma imagem sonora. Até mesmo quem nunca ouviu falar de Humberto Mauro é capaz de entrar na composição imagética e sonora criada no ato, e compreender a leitura que nos é entregue pela dupla de músicos: uma memória bastante viva na película e acesa ao som da música contemporânea de Ricardo e Gilberto.

Juliana Soares é graduanda em Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

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