Cineclube Bamako

O Cineclube Bamako surgiu em 2011 a partir da iniciativa de estudantes de cinema da UFPE que fizeram dele um trabalho de conclusão de curso. Hoje é um espaço não apenas de sessões cineclubistas, mas também ampliado para outros campos, como o da pedagogia e da produção. Seus idealizadores acreditam na sua instância militante, que discute visões diferentes de realidade através do audiovisual de diversos continentes – em especial o africano, cuja sua notável renegação no circuito brasileiro foi o que levou estes idealizadores a questionar e instigar um debate sobre o porquê deste cinema ser sempre escanteado.

Funcionando por uma lógica de financiamento de determinadas instituições, sem apoio por editais, o cineclube conta com uma equipe que, além de integrada por cineclubistas, o é também por educadores, que veem no audiovisual um ponto de referência para a formação pessoal e a disseminação de conhecimento. Convidado para participar da 8ª Semana Universitária do Audiovisual, o Cineclube Bamako promoveu a exibição de “A Noite da Verdade” (2004), primeiro filme de Fanta Régina Nacro, e um debate em sequência, com a presença de alguns dos idealizadores do cineclube, no qual se discutiu, entre tantos pontos, processo de curadoria, trâmites de direitos autorais e leis de incentivo para audiovisual nas escolas.

O filme, fábula sobre a memória, nos remete a problemas da herança colonial em um país imaginário e universal – como o é a El Dorado de Glauber Rocha. Dois grupos étnicos rivais são colocados lado a lado em um jantar para que entre eles seja selado um acordo de paz, e assim põe-se em questão o quão alto é o preço que estes africanos têm de pagar para que exista uma aliança harmônica entre os que até então eram opostos, que até então se digladiavam num solo sujo de sangue e lembranças. A paz tem seu preço,  e em certo ponto do filme, uma das personagens afirma que a alma humana é insondável – e de fato o é, pois aqui vale menos uma asserção sobre certo senso de humanismo intrínseco e determinista ao homem do que uma construção baseada na dor, no passado, na memória. É um registro sensível não sobre o que a alma é, mas sobre o que se torna e pode vir a ser.

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