Dia #2: Mostra SUA 2

Por Jéssica Agostinho*

A Mostra SUA 2, que ocorreu na noite do segundo dia de evento, trouxe seis curtas-metragens universitários, produzidos em diversas instituições. A curadoria, bem como afirmado pela organização ao final do debate, não possui uma linha para a compilação dos filmes, ainda que tentar traçá-la possa ser um exercício interessante. Segue abaixo uma breve resenha sobre os curtas.

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Bovarius Flavus, de Lucas Calmon (UFRJ)

O curta faz um memorando da relação de amizade entre dois senhores – um já muito adoentado e outro, ao qual vemos apenas no final, caracterizado como clówn. O curta segue a história dos dois desde a fase infantil de suas vidas, até o que parece ser os últimos dias de um dos dois. As traquinagens da juventude são expostas na tela e casam-se com o tom nostálgico da paleta de cores repleta de tons terrosos que compõe a arte do filme. A fotografia em planos próximos faz por ressaltar a cumplicidade existentes entre os dos senhores, desde as birras infantis até o último silêncio.

Atrizes, de Daniel Pech (UFF)

Uma mulher, plano próximo frontal, quebra eventual da quarta parede. Ela desarruma aos poucos o cabelo. Logo percebemos que o plano representa um espelho e que o olhar para a câmera é, na verdade, fugidio, de quem não quer encarar seu próprio reflexo. A ausência de trilha musical intensifica a duração estendida do plano, suficiente para começar a imaginar que o curta possa vir a ser apenas esse processo de desarrumar-se. Seria uma experimentação interessante, mas o curta segue. Outro personagem adentra a sala da mulher e, através de um carinho no ombro, sabemos que algo não está bem. Sozinha novamente, ela se despe e se veste de preto – talvez um sinal de luto – e, progressivamente a decupagem revela o espelho e o espaço que consiste em um camarim. O outro personagem retorna, mas o “silêncio” continua preponderante. Os diálogos são poucos e superficiais, não conseguindo acompanhar muito bem a introspecção que se pretende com uma abordagem tão intimista. Frases como “você costumava me trazer flores depois das apresentações” ecoam negativamente, dialogando com nosso imaginário de clichês. Ainda assim e apesar dos problemas de ritmo – os planos passam de extensos para arrastados – o curta consegue traçar uma narrativa coerente, elemento que parece muito esquecido no meio audiovisual universitário.

Gil, de Daniel Nolasco e Marcella Coppo (UFF)

O curta-metragem se estabelece com uma estética documental. Uma voz over narra a história de vida de Gil e, entre os relatos, a morte de sua mãe. A perda pessoal também significa uma perda de parte de sua própria memória, como diz o próprio narrador. As imagens do filme resgatam essas memórias, através de fotos e vídeos de arquivo, encadeados através de uma montagem bastante hábil.

Curta Casa, de Ary Rosa, Glenda Nicácio e Henrique Roza (URFB)

Curta Casa é um filme peculiar. Repleto de elementos curiosos, que acabam por não dialogar muito bem entre si, o curta não consegue se estabelecer com clareza. O início propõe-se poético, com uma câmera que passeia por uma casa e vozes, em over, repetem um texto. Vemos, posteriormente uma travesti, fechada em um banheiro, onde vários experimentalismos se desenvolvem. Sem muitas preocupações com transição, o curta toma uma perspectiva cômica de uma discussão do personagem com seu alter-ego. Não digo aqui que ser claro é, de fato, uma necessidade, mas estabelecer uma proposta coerente é essencial.

Onde está o grande tema?, de Carolini Covre (UFES)

“Onde está o grande tema?” é um videoclipe da banda Velho Scotch que dialoga intimamente com um universo plástico e repleto de texturas. O corpo se estabelece como uma tela de pintura que recebe artisticamente tinta acrílica, em criações singulares. A câmera consegue explorar muito bem essas criações. http://www.youtube.com/watch?v=Lgli-3v41Hg

O que aprendi com meu pai, de Getúlio Ribeiro (UEG)

“Eu tinha 19 anos quando matei pela 1ª vez”, é assim que um assassino começa a narrar, em voz over, as mortes que causara, hora por dinheiro, hora por vingança. O filme não possui nenhuma trilha musical, o que contribui para uma atmosfera apreensiva, mas também dificulta o estabelecimento da tensão nas cenas da morte, fazendo com que, de certa forma, elas percam potência imagética.

* Jéssica Agostinho é estudante de Imagem e Som na Universidade Federal de São Carlos e editora da RUA.

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