Fórum da executiva nacional dos estudantes de cinema e audiovisual

Por Jéssica Agostinho *

Uma discussão necessária e iminente. Qualquer estudante ou realizador conhece a importância da auto-avaliação e do balanço dos processos produtivos como parte fundamental da própria criação e como ferramenta de aprimoramento. Nesse caso, o produto se trata de um encontro nacional de estudantes de audiovisual em fase de expansão e aperfeiçoamento e o espaço para o balanço se deu no Fórum final do evento.

O título escolhido pela organização da SUA, “Fórum da executiva nacional dos estudantes de cinema e audiovisual”, já apontava um direcionamento possível dessa discussão. Sabíamos que não havia articulada uma executiva, uma entidade nacional que tocasse as pautas dos estudantes, assim como sabíamos da urgência dessa articulação. Num contexto recente vimos as mobilizações dos cursos de cinema da UFSC e UFC, mobilizações causadas por motivos semelhantes, mas isoladas em seus espaços. Os estudantes do curso de cinema da UFSC lançaram uma carta que declarava situações precárias de funcionamento e indicava um possível fechamento do curso, ao passo que os estudantes da UFC realizaram paralisações pela reivindicação por equipamentos básicos. Apesar das declarações de apoio suscitadas, a articulação nacional não existia.

Seguindo essa linha de raciocínio, o “tradicional” fórum final cumpriu seu papel e deixou de ser apenas um momento superficial e de escolha da próxima cidade sede da SUA. Partindo da avaliação coletiva da SUA em Niterói, discutimos nossas intencionalidades para com o encontro, almejando uma perspectiva de articulação.

Não pretendo me alongar nas questões apontadas sobre a organização estrutural do evento, mas sim pontuá-las brevemente para que esse relato possa cumprir um papel de registro de uma  importante discussão. Um apontamento recorrente diz respeito à integração entre os diversos estudantes presentes que, segundo a avaliação de muitos, foi mínima e ineficaz. Apesar de dividirmos os mesmos espaços durante os últimos dias, não nos colocamos de fato em contato. Apontado como possível motivo para isso foi a ausência de um Fórum de abertura do Encontro, onde os estudantes poderiam se reconhecer e iniciar um debate que se alongaria para o restante das atividades. A abertura oficial também colocaria a oportunidade para que a Comissão Organizadora explanasse sobre suas propostas conceituais a respeito da temática Processo e Produto, passando por pontos como a criação do curso de licenciatura em cinema na UFF e a pauta da preservação audiovisual. Apontou-se também a necessidade de uma comunicação mais eficiente entre Comissão Organizadora e participantes, tendo sido levantada a possibilidade de pequenas reuniões de balanço diárias do evento, para que repasses e feedbacks pudessem ser aplicáveis imediatamente. Foi também levantada a possibilidade de uma integração maior do evento com a própria cidade sede, tendo em vista o contexto não isolado do curso e a influência natural que a localidade exerce no processo formativo. Outro ponto crucial é o levantamento e manutenção de um histórico da SUA, para que suas edições dialoguem entre si.

A atividade, iniciada às 10h, estava prevista para encerrar-se às 13h, mas a percepção bastante acertada da organização e dos estudantes ali presentes de que aquele espaço de discussão possuía uma importância e relevância singular, proporcionou o alongamento da duração do Fórum. Assim, depois do intervalo para o almoço, retornamos a um auditório cheio de estudantes interessados em debater e partimos para a pauta da escolha da cidade sede.

Três universidades se colocaram dispostas a receber a SUA em 2014: UFPE, UFES e UFPel. A discussão em torno dessa escolha tomou rumos bastante acertados, tendo em vista a necessidade de que o evento seja construído fora do Sudeste, macrorregião que abrigou praticamente todas as edições anteriores, com exceção do evento ocorrido em Brasília. Essa localização tem influência crucial nos estudantes que participam do encontro, sendo que temos pequena participação de estudantes de outras regiões como Nordeste e Norte. A primeira universidade a apresentar um breve panorama de possibilidades de estrutura e acolhimento foi a UFPE e a receptividade dos demais estudantes se mostrou imediatamente favorável. Posteriormente as demais universidades demonstraram seu apoio à UFPE e assim, por consenso, deliberou-se que a 8ª Semana Universitária do Audiovisual se dará em Recife, sediada pela Universidade Federal de Pernambuco.

 As expectativas em torno do próximo encontro tendem para abordagens mais sociológicas do audiovisual, passando pelo documentário etnográfico e relações com movimentos sociais. Tal tendência apontada não se dá por acaso. Desde o início do Fórum, vários estudantes retomavam com frequência a necessidade da organização a nível nacional e assim, discutiu-se seriamente a pauta. Tivemos como proposta a criação de um “Fórum Nacional”, uma articulação que funcionaria como uma pré-executiva nacional, ou ainda como uma executiva provisória. Nessa perspectiva, a entidade de fato seria fundada apenas no ano seguinte, na SUA em Recife, sendo que ela teria atribuições mais amplas e complexas do que a organização das próximas SUAs, como levar a diante as pautas estudantis.

Para que isso fosse possível, cada universidade ali presente indicou três estudantes para comporem o Fórum Nacional e, a partir disso, também serão encaminhadas articulações regionais e, nesse sentido, avançamos muito. Foi deliberado, por exemplo, que as setoriais realizem encontros regionais no primeiro semestre do próximo ano, para que as articulações não se esfriem e para que demandas sejam colhidas e encaminhadas para o encontro nacional. Nesse sentido, a sede para o encontro Sudeste já foi escolhida e se trata da Universidade Federal do Espírito Santo, em Vitória. Para as demais regiões houve alguns indicativos, como a Universidade Federal do Ceará para o encontro Nordeste.

Contudo, esse grupo formado por três estudantes de cada instituição presente já deveria preocupar-se em não apenas encaminhar os próximos encontros, mas em promover questões mais amplas. Foi seguindo essa linha que encaminhamos ali uma série de pautas em comum para que construíssemos posteriormente uma carta de reivindicações dos estudantes de audiovisual. Não foi deliberado o órgão que receberia tal carta primeiramente, mas tivemos os indicativos do Ministério da Educação, Ministério da Cultura e a Secretaria do Audiovisual.

Foram levantados pontos diversos, desde os mais óbvios, como precarização e ausência de equipamentos e estrutura básica até outros mais engajados, como a aplicação das políticas de ações afirmativas nos cursos de audiovisual, nos quais nota-se uma elitização e embranquecimento profundos. Passamos por questões como a desvalorização dos cursos de artes e ciências humanas, desvalorização essa evidenciada pela recente exclusão – ou nenhuma participação sequer – desses cursos no programa de intercâmbio Ciências Sem Fronteiras. Nesse sentido foi levantada a necessidade de programas que coloquem em maior integração os cursos da América Latina.  Levantou-se também especificidades relacionadas ao currículo ideal para uma formação de qualidade, ao regime mais flexível para a contratação de professores não-doutores e à promoção da cultura cinematográfica nas escolas e instituições de ensino. A carta completa ainda será redigida pelos estudantes.

É óbvio que a partir de um balanço geral e, de certa forma, irrigado pelas minhas próprias impressões pessoais, poderiam ser levantados pontos positivos e negativos da 7ª SUA. Entendo perfeitamente – e aqui coloco inclusive as experiências pessoais de quem há muito doa tempo e dedicação para concretizar iniciativas diversas sem, claro, muito apoio – as dificuldades enfrentadas pela Comissão Organizadora. São obstáculos que muitos de nós, estudantes e realizadores independentes, encontramos cotidianamente, como a carência de recursos, o esvaziamento dos grupos de produção ou mesmo a natural inexperiência. Ainda assim ressalto a postura coerente e madura com que a Comissão Organizadora recebeu atentamente todas as críticas levantadas. E destaco, mais uma vez e com imenso prazer, como conseguimos finalmente dar passos concretos e construtivos no caminho de uma organização e articulação que muito beneficiará o cenário audiovisual universitário e, ainda mais, a cultura brasileira independente.

* Jéssica Agostinho é estudante de Imagem e Som na Universidade Federal de São Carlos e editora da RUA.

 

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