2° Festival Latino-Americano Universitário Perro Loco

Agora, convocamos novamente todos os estudantes deslumbrados pela cultura e história dessa América Latina que ainda espera ser descoberta e valorizada (…) E nada mais eficiente que o cinema para cumprir essa tarefa. O cinema é uma língua universal, compreendida por todos, capaz de expressar os sentimentos de uma comunidade de forma única.”

Trecho extraído do site do evento – www.perroloco.com.br

Entender o que é o cinema universitário, como o cenário latino-americano é refletido na tela e fornecer acesso à produção cinematográfica para o fomento de uma pesquisa sistematizada e melhor desenvolvida sobre a área. Essas são as propostas do 2º Festival Latino-Americano Universitário Perro Loco, realizado em Goiânia – GO pelos alunos da Universidade Federal de Goiás (UFG), entre os dias 4 e 9 de novembro de 2008.

Com uma programação recheada de mostras com filmes latinos, incluindo brasileiros, além de oficinas, mini-cursos, apresentações artísticas e uma exposição fotográfica, o festival chega a sua segunda edição com uma identidade visual diferente e novas idéias sobre como retratar a visão cinematográfica latina. Para esse propósito, o festival promoveu diversas mostras de filmes, além de debates e palestras com realizadores e nomes de peso do cinema brasileiro.  A parte da tarde era destinada às palestras e às sessões da mostra competitiva, valendo diversas premiações vindas de júri especializado e popular. Nos outros horários, havia diversas mostras paralelas seguidas de debates com realizadores de várias partes da América Latina, como por exemplo, Andrea Tonacci, realizador dos filmes “Bang Bang” e “Blá, Blá, Blá”, filmes que são marcos do cinema marginal brasileiro.

O público lotou as sessões das mostras do festival

Nas mostras, pude notar a diversidade de visões, olhares, formatos e gêneros que um cenário latino pode oferecer para o espectador. Como a frase inicial defende, o cinema é uma linguagem universal, e a forma como essa linguagem é trabalhada é a qual dá o sentido do filme. O leque de documentários apresentados, de origens latinas tão próximas, porém, ao mesmo tempo, tão distantes de nós, abrem-nos a curiosidade e nos instiga a explorar um pouco mais o cinema dos nossos vizinhos. De traços tão singulares, é possível, apenas assistindo um trecho do filme, perceber sua origem de realização, mesmo sendo animações ou ficções, através da utilização da linguagem cinematográfica adotada em cada país para retratar sua cultura e sua sociedade.

E para ilustrar ainda mais essa diversidade de olhares, havia também uma exposição fotográfica para os visitantes, com o tema “Fronteiras”, e cujo objetivo era retratar justamente essas representações sócio-culturais tão diferentes do cenário latino-americano. Cada fotografia possuía uma forma singular de enxergar uma história marcada por colonizações e lutas incessantes por liberdade. E essas também foram retratadas através de apresentações artísticas dos alunos de Música e Artes Cênicas da própria universidade, apresentados em diversos momentos do festival.

Visitantes observando as diversas fotografias da exposição

Aliado às mostras e às outras atrações, o Perro Loco preparou duas novidades para o festival desse ano: o Encontro dos Festivais Universitários e a Batalha de YouTube.

Reunião dos organizadores dos festivais universitários latino-americanos

Posso dizer que foi um prazer fazer parte desse encontro de festivais universitários. Estavam reunidos representantes dos diversos festivais do Brasil e dois da Argentina: Perro Loco (UFG), Contato (UFSCAR), S.U.A. (Unicamp), MIAU (sem universidade), PUTZ (UFPR), Videvídeo (UFF), Anima e Mostra Internacional de Diversidade Sexual no Cinema, ambos ligados a Universidade de Córdoba.

A proposta era clara: montar uma malha de festivais universitários, visando a troca de experiências, de contatos e fortalecimento da integração entre os festivais. Para todos os representantes, era extremamente essencial uma maior integração entre os festivais, para o próprio fortalecimento do cinema universitário perante a sociedade brasileira e também para facilitar o acesso da população ao que a universidade produz.

É interessante que cada festival, mesmo aparentando que não, possui uma singularidade perante os outros. O Perro Loco era o único festival brasileiro com participação massiva de latino-americanos. O Contato trabalha com o audiovisual além do cinema, como arte eletrônica, televisão e vídeo. A S.U.A. (cujo evento eu representei, juntamente com dois outros colegas) não possui um local específico, ou seja, é itinerante e cada ano uma universidade realiza. O MIAU não nasceu no ambiente universitário, porém só aceita obras com vínculo de alguma universidade, além de possuir diversas premiações interessantes, que fogem do convencional. Já o PUTZ nasceu no meio de uma brincadeira entre alunos e atualmente é o mais conhecido festival da região Sul. O Videvídeo é um dos mais tradicionais festivais universitários do Brasil, com mais de 10 anos de tradição. Anima é um exemplo de festival que nasceu na universidade e saiu de seu ninho para ganhar destaque internacional, sendo considerado um dos mais importantes festivais de animação da América Latina. E para finalizar, a MIDSC nasceu sob forma de protesto e manifestação contra um ato de preconceito sexual de um professor contra um aluno.

A principal questão que permeou todo encontro foi: o que é cinema universitário e, mais especificamente, o que é um festival universitário? E dentro dessa questão, eram colocadas muitas outras, como: o cinema universitário é aquele feito no ambiente universitário ou aquele que possui qualquer vínculo com alguma universidade? Um festival universitário é aquele que é criado na universidade ou que exige participação de trabalhos universitários? Como formar uma unidade de festivais, capaz de se fortalecer perante o cenário do audiovisual brasileiro, ganhando até força política? São questões que só o tempo responderá. O primeiro passo já foi dado: contatos foram trocados, novos festivais serão chamados para participar e a nova data do próximo encontro já foi marcada: no PUTZ de 2009, em junho. Agora resta esperar para surgirem os primeiros resultados. E que esses prenunciem a (finalmente) unidade universitária de festivais.

A incrível Batalha de YouTube, novidade dos alunos da UFG

Chego na festa de quinta-feira, intitulada Viva La Noche, e me deparo com uma projeção com uma interface bem familiar: era uma tela de YouTube. Olho em minha programação e vejo escrito: 21h – Batalha de YouTube. Chamo meu amigo organizador do Perro Loco para me explicar o que era isso tudo. Ele simplesmente me diz: “Espere e veja”. Posiciono-me na frente do palco e espero a apresentação começar.

A Batalha de YouTube é um costume realizado nas festas dos alunos de Jornalismo da UFG e consiste em dois participantes, previamente inscritos, disputam qual vídeo de YouTube selecionado por eles e sob um tema sorteado pela organização, ganha a simpatia do público. Através dos aplausos, o vencedor vai passando de fase até chegar na final, no último dia do festival.

Confesso que os vídeos os quais vi enquanto presente eram bem fracos. Não sou um youtubiano fanático, mas conhecia vídeos melhores para passar com os temas propostos. Mas não importa, o que importa é que a idéia é muito legal. Um dos participantes havia colocado, sob o tema “clipes bregas”, um videoclipe árabe muito famoso na rede. E não é que a galera começou a repetir a dancinha do clipe? Uma cena hilária, só proporcionada por essa atração tão criativa e interessante.

Até logo Goiânia, até o próximo Perro Loco.

Quando chegou ao fim da minha viagem, um dia antes do festival acabar, pensei: “Poxa, vou perder tanta atração nesse último dia, como a divulgação dos curtas premiados…”. Mas logo olhei para trás e percebi: foram três dias de muita aprendizagem. Três dias de muito contato com pessoas novas, estrangeiras ou não. Três dias de muito treino no meu espanhol básico. Três dias de muita reflexão sobre o cinema universitário. Três dias de muita risada do leque de sotaques vindos de todas as partes do Brasil. Três dias de um tour tourístico pela capital de Goiás. Três dias almoçando e jantando no R.U. goiano. Três dias de muita integração. Serão três dias que refletirão algo maior que o tempo pode limitar: a sensação de viver e aprender. Sempre.

Gabriel Ishida, representante da IV S.U.A. – Semana Universitária de Audiovisual, é graduando em Midialogia pela Unicamp

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