Testemunha Oculta (Zé Pintor, 1968)

Por Iuri Leonardo dos Santos*

Sexta-feira, dia 10 de outubro. Sem sombra de dúvida o dia “D” dentre todos os outros dias desse fantástico, e crescente, diga-se de passagem, Festival. E “D” por uma série de motivos, das mais variadas naturezas.

De todas as minhas coberturas, essa será a menos jornalística. Não tem a menor intenção de sê-la. Será a mais pessoal, a mais sensorial nesse sentido. Se fosse me ater a Cobertura pura e simples do evento poderia descrevê-lo em um parágrafo único:

No dia 10 de outubro, em parceria do Festival CONTATO com o Cine São Roque, de Água Vermelha, aconteceu por volta das 22hs após a projeção de um documentário sobre a vida e obra do diretor e de uma apresentação do protagonista do filme em questão a estréia de “Testemunha Oculta”, media-metragem de 1969 sob a direção de José de Oliveira, conhecido como Zé Pintor, sonorizado e finalizado em 2008 por graduandos do Curso de Imagem e Som, dentre eles Carlos Eduardo Magalhães de Aguiar, Felipe Leal Barquete, Flávia de Mattos Salvador, Hiro Ishikawa e Thiago Pedroso, com a colaboração de atores, músicos e outros produtores. Realizada em frente a uma praça pública, contou com a presença de quase uma centena de músicos da Orquestra Experimental da UFSCar fazendo a trilha sonora ao vivo. O evento foi um sucesso!

Entretanto, o que “vive” ali naquele fatídico dia “D” foi bem mais que tudo isso, que a coisa toda pronta. Mais, bem mais do que até eu mesmo podia esperar. E talvez só consiga expressar um pouco dessa experiência compartilhando-a minimamente agora.

Não estava escalado como Monitor nesse evento, mas acabei me oferecendo por achar que seria “legal”. Desmarquei outra Monitoria e fomos, às 10hs da manhã, eu, mais dois monitores do CONTATO, Sami (Thaísa Assami) e Catita (Camila Alves), toda a equipe do CineUFSCar e do Cine São Roque.

Nunca havia ido para Água Vermelha, apesar de sempre ter tido vontade de conhecer o projeto de Cineclubismo de lá (Cine São Roque). A cidade, na realidade um distrito de São Carlos, é uma típica cidade do interior do Estado. Poucos habitantes, tranqüilidade, idosos conversando nas caçadas, crianças brincando na rua. Muito parecida com a cidade natal da minha mãe. Lembranças.

Quando chegamos lá não havia nada indicando que haveria uma projeção fílmica ali, em plena praça pública: nenhuma estrutura, tela ou projetor, muito menos cadeiras. Apenas a rua já interditada e nada mais. Após conhecermos a sede do Cine São Roque, no Armazém Cultura, começamos a trabalhar.

Elipse de aproximadamente 12 horas:

No dia 10 de outubro, em parceria do Festival CONTATO com o Cine São Roque, de Água Vermelha, aconteceu por volta das 22hs após a projeção de um documentário e de uma apresentação do protagonista do filme em questão a estréia de “Testemunha Oculta”,media-metragem de 1969 sob a direção de José de Oliveira, conhecido como Zé Pintor, sonorizado e finalizado em 2008 por graduandos do Curso de Imagem e Som, dentre eles Carlos Eduardo Magalhães de Aguiar, Felipe Leal Barquete, Flávia de Mattos Salvador, Hiro Ishikawa e Thiago Pedroso, com a colaboração de atores, músicos e outros produtores. Realizada em frente a uma praça pública, contou com a presença de quase uma centena de músicos da Orquestra Experimental da UFSCar fazendo a trilha sonora ao vivo. O evento foi um sucesso!

Esta seria a minha cobertura, talvez um pouco mais incrementada para dar mais “volume” caso quisesse me atentar ao resultado em si. Entretanto meu interesse é outro: justamente as 12 horas que pularia em minha cobertura convencional.

Durante este tempo, fiz parte do que chamamos de trabalho em equipe, não daqueles que uns fazem e outros fingem que fazem, ou uns só mandam ou outros inventam desculpas para não fazê-lo. Também não foi daqueles que, de fato, todos apenas fazem e ponto. Na verdade todos fizeram e gostaram de fazê-lo, porque sabiam em algum sentido o que aquilo representaria para si, para os outros envolvidos e, principalmente, para o destinatário daquilo, no caso o público, em específico a Comunidade de Água Vermelha, mérito nesse caso daqueles que vivenciam aquela realidade no seu dia-a-dia e que conseguiram inspirar a todos com o espírito local: Dudu (Carlos Eduardo), Flavinha (Flávia Mattos) e Boques (Felipe Barquete).

Durante este tempo posicionamos, com rigor simétrico, as cadeiras de plástico brancas que seriam o assento do público durante a sessão. Montamos a gigantesca tela na qual seria projetada o filme, carregando os tripés e enchendo sacos e mais sacos de areia que dariam estabilidade a ele em relação ao chão e ainda amarrando as pontas da tela nas árvores. Trabalho artesanal. E seguiria uma lista ainda bem grande de outras coisas que fizemos. Mais o que me interessa no momento é a divulgação maciça do evento para a comunidade, no “corpo a corpo”, literalmente.

Depois de um almoço caseiro delicioso, daquela comida bem de vó, lá mesmo em Água Vermelha, traçamos a estratégia de divulgação que adotaríamos ali, no dia, há menos de 5 horas do evento. Fomos às ruas, é claro. Munidos de impressionantes cartazes do filme feitos pelo próprio Zé Pintor, bem ao estilo daqueles cartazes antigos que ficavam nas portas dos grandes cinemas, e até mesmo de um pandeiro, fomos de casa em casa, tocando cada campainha, batendo palmas, avisando de adultos à idosos. E talvez tenha sido nesse momento que me toquei de como estava feliz com aquilo tudo, mesmo exausto fisicamente. O contato com aquelas pessoas, em sua maioria simples, me fez de algum modo repensar minhas escolhas profissionais, minha motivação como estudante de Cinema e num âmbito maior minha própria vida. Às vezes ficamos tão fechados no chamado mundo universitário que nos esquecemos de ver dos lados. Às vezes como realizadores cinematográficos buscamos tantas referências fílmicas, tanta excelência técnica e idéias bem resolvidas para um roteiro “redondinho” que nos esquecemos de buscar a inspiração nas coisas mais simples da vida. Pode parecer clichê, mas que seja. Até porque se bem aproveitado, de forma criativa, até mesmo o clichê pode ser extremamente interessante e deixar de sê-lo. Entramos, assim, em uma outra “bolha”, essa de difícil percepção por ser a sua e não mais da sua mãe, mas ainda sim uma bolha.

A menos de duas horas da sessão intensificamos ainda mais o trabalho, agora preocupados com os chamados “pequenos detalhes, aqueles que no final das contas, fazem total diferença. E a ansiedade, mas não a nervosa, começou a tomar conta de todos. Foi então que começaram a chegar os primeiros músicos da orquestra. Mais trabalho. Descarregar os instrumentos, recebê-los e assessorá-los da melhor maneira possível.

Faltando uma hora, todas as cabeças estavam voltadas apenas para o evento, única e exclusivamente. Para que tudo funcionasse e que a noite terminasse da maneira feliz como havia sido todo o nosso cansativo dia. Nesse momento chega a figura da noite, não só o responsável principal, mas a fonte maior de inspiração para todos os envolvidos: Zé Pintor, um senhor de uma sinceridade e sapiência cortantes. Como poucas vezes, me calei e passei a exercitar a minha audição: ouvi mais que falei. Que bom!

Às 20hs a praça já estava completamente cheia. Todos os lugares estavam ocupados e as pessoas começavam a se acomodar nas calçadas, bancos e até mesmo na rua, enquanto outras permaneciam em pé. As últimas vans que saíram da Federal acabavam de chegar trazendo mais estudantes, professores e civis em geral. Era um misto de pessoas de São Carlos atraídas pelo Festival com a presença expressiva da comunidade, representada, principalmente, pelas crianças.

Entre alguns contratempos, certa tensão e uma forte corrente positiva…

No dia 10 de outubro, em parceria do o Festival CONTATO com o Cine São Roque, de Água Vermelha, aconteceu por volta das 22hs após a projeção de um documentário sobre a vida e obra do diretor e de uma apresentação do protagonista do filme em questão a estréia de “Testemunha Oculta”, media-metragem de 1969 sob a direção de José de Oliveira, conhecido como Zé Pintor, sonorizado e finalizado em 2008 por graduandos do Curso de Imagem e Som, dentre eles Carlos Eduardo Magalhães de Aguiar, Felipe Leal Barquete, Flávia de Mattos Salvador, Hiro Ishikawa, Thiago Pedroso, e com a colaboração de atores, músicos e outros produtores. Realizada em frente a uma praça pública, contou com a presença de quase uma centena de músicos da Orquestra Experimental da UFSCar fazendo a trilha sonora ao vivo. O evento foi um sucesso!

Emocionante. Lágrimas, aplausos, suspiros de alívio e abraços de felicidade. O evento foi um sucesso!

Mais duas horas de desprodução total do local após a sessão. Muito exaustos, mas ainda mais felizes do que antes pelo resultado, em um clima de descontração e ajuda de algumas pessoas do próprio público.

Carona, merecido banho e cama.

Fora tudo isso, apenas a nítida sensação romântica do rousseaunismo do “Bom Selvagem” em sua devida proporção.

*Iuri Leonardo dos Santos é graduando em Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

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