Por Henry Badaröh *
“Contraponto” foi desenvolvido a partir de um projeto de semestre no Bacharelado em Fotografia do SENAC/SP, em que os alunos deveriam produzir um audiovisual com a temática “memória”. Como a proposta era livre, decidi utilizar a técnica do stop motion, pois recentemente eu havia assistido ao filme La Jetée (1962) do diretor francês Chris Marker, que foi incontestavelmente a principal fonte de inspiração. Escrevi o roteiro inicial em prosa e durante dois ou três dias e fui aprimorando até a pós-produção, acrescentando algo e modificando detalhes.
A história era bem simples e um bocado autobiográfica – devido à minha adolescência perturbada. Por falta de recursos financeiros e pouco tempo para a produção – além do fato de ser um projeto individual – decidi que o roteiro deveria ser posto em segundo lugar, evitando uma trama extremamente elaborada para utilizar apenas um ator, no caso, minha colega de classe Eugênia Fajardo. Priorizei a fotografia, que é realmente minha área de atuação, e tentei dar ao máximo uma atmosfera dos filmes da Nouvelle Vague, com fotografia em preto-e-branco e câmera na mão, na rua – além de ter aproveitado bem o fato de trabalhar com sons e imagens separados.
Depois de vários dias de produção, com alguns problemas de locações e horários, terminei a produção de fotogramas e me atentei à montagem e trilha sonora, pedindo “licença poética” para tomar um still do adorável Bande à Part (1964), de Jean-Luc Godard, e ainda um excerto de áudio do filme La Belle Personne (2008), de Christophe Honoré, com voz da atriz francesa Léa Seydoux. A narração ficou por conta de outro colega de classe, o fotógrafo e videomaker Sérgio Filho. Um detalhe que muitas pessoas comentam é a questão do áudio ser tecnicamente ruim. Eu gostei bastante do efeito causado pelo ruído, por me remeter muitas vezes à uma pessoa reclusa, escondida, ou até mesmo com pensamentos suicidas. Embora a temática inicial apresentada tenha sido a memória, acredito que ela não se perdeu nem um pouco na camuflagem de suicídio que acabei mostrando por fim. Espero ter dado um bom começo nessa área artística que desejo seguir daqui em diante.
* Henry Badaröh é realizador do curta-metragem Contraponto (2011) e aluno do curso de Bacharelado em Fotografia do SENAC/SP.
