Crítica – It lives inside – Não Abra! Dir. Bishal Dutta

Prometendo sustentar um terror indiano com narrativas e elementos nativos da região asiática, Não abra! é uma dentre outras tantas execuções e realizações cinematográficas que acabam por reproduzir enredos homogêneos, vazios, com clichês genéricos e previsíveis, que arruínam qualquer experiência autêntica e fecunda de degustação por parte do espectador: um filme insosso.

Prometendo sustentar um terror indiano com narrativas e elementos nativos da região asiática, Não abra! é uma dentre outras tantas execuções e realizações cinematográficas que acabam por reproduzir enredos homogêneos, vazios, com clichês genéricos e previsíveis, que arruínam qualquer experiência autêntica e fecunda de degustação por parte do espectador: um filme insosso.

Por Helena Zoneti Rodrigues

Não abra! é o primeiro longa do diretor indiano Bishal Dutta em conjunto com os produtores de Corra!, Raymond Mansfield e Sean McKittrick. Premiado na categoria Prêmio do Público (Audience Award) do 2023 SXSW, o longa reitera plots e enredos do cinema de terror norte-americano – e cabe ao espectador enxergar (ou não) nestas “reproduções” qual seria a suposta intenção do diretor: a consagração e veneração do terror norte-americano? Ou uma tentativa de exprimir possíveis focos de resistência de identidades culturais orientais, no caso, a hindu, no meio ocidental? Infelizmente, Bishal Dutta parece falhar nesta assimilação, acabando por reforçar um dualismo que frustra toda estética étnica do filme. 

O terror se materializa na própria experiência de assistir o filme na tela, quando os elementos nativos da Índia (a história, vestimenta, alimento/oferenda, religião, o idioma e a pauta migratória dos personagens) se tornam “fachadas” que mantém de fundo a lógica ocidental para lidar com o “estranho”, o elemento sobrenatural e as entidades envolvidas. Os componentes com o qual o filme deveria despontar em naturalidade acabam emergindo “caricatos” e “generalizados”: cenas que criam uma sequência vazia para o intuito do filme (avesso a proposta de um terror oxigenado de pluralidade). 

Nos deparamos com a história da adolescente Samidha (Megan Suri) e de sua amiga de infância Tamira (Mohana Krishnan) e, inicialmente, o filme atenta à maneira com que cada uma lida com sua origem indiana: Samidha parece buscar uma identidade assimilada à cultura norte-americana no meio social e escolar, afastando-se da religião hindu e consequentemente de seus pais, enquanto Tamira enfrenta preconceitos e a exclusão no ambiente escolar, pelas dificuldades de adaptação ao ambiente. Ambas estão construindo sua identidade ao lidar com desenraizamentos históricos que ultrapassam a singularidade de cada e o “pote” de vidro que carrega uma entidade maligna hindu da qual o título da película acautela (“não abra!”) torna-se elemento simbólico da violência do desenraizamento forçado, visto que, quando aberto por Samidha, ambas precisarão lidar com o maligno Pishach, demônio hindu que se alimenta de almas humanas. Para encará-lo e derrotá-lo, Samidha terá que retornar às origens culturais de seu nascimento, metáfora do autoconhecimento e construção da identidade. 

Porém, a execução deste simbolismo falha predominantemente quando inserido em narrativas e cenas genéricas que resgatam a maneira de lidar com essas problemáticas como nos filmes norte-americanos, esgotando qualquer reflexão da obra: tudo vira uma “mera” luta à la Marvel (com direito a briga corporal) entre duas adolescentes e um demônio, chegando a ser cômico. Além disso, e penso ser este um dos pontos mais graves, é a inexatidão daquilo que realmente é “maligno”: a colocação da responsabilidade da alienação e violência identitária – que na realidade é exercida pela cultura predominante, longe de emergir também em um demônio “hindu” – posta em duas mulheres adolescentes (principalmente Samidha). O filme acaba sendo “um tiro no próprio pé”.

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