CRÍTICA | Nosferatu: uma sinfonia do Horror (1922), F. W. Murnau

Por J. Victor Messias

Redação RUA

Nosferatu: uma sinfonia do Horror (1922), dirigido por F. W. Murnau,  é um monumento. Após terminar o filme sempre preciso recorrer às playlists mais relaxantes que tenho,  trilha sonora impregna nos poros tal qual Orlock, esse nesuferit – sim, esse é o termo mais aceito do que foi erroneamente usado como “nosferatu” –, impregna na sociedade e a corrompe. É justo então assumir: esse é um filme que me dá medo.

Me dá medo por ser uma alegoria medonha ao antissemitismo, me dá medo pelos enquadramentos (Orlock drenando Ellen é um dos meus favoritos, assim como ele encurralando Hutter na câmara), me dá medo pela trilha sonora que me hipnotisa como a Ellen, e me dá medo por Orlock ser a morte encarnada.

O, então, Nosferatu, com “n” maiúsculo, é “O” vampiro, “O” predador, ele é, enfim,”A” morte e “A” decadência. A narrativa o constrói como uma planta carnívora, como um pólipo com tentáculos que aprisionam suas presas, como aranhas que consomem o sangue de insetos presos em suas teias, e mais, ele vive em meio às sombras, aos ratos e aos mosquitos. Ele leva a Peste por onde passa, é ou não de se ter medo?

Mas se ele é o medo, logo, há a sua antítese, a esperança, e ela é Ellen, a verdadeira heroína. Ellen é pura, é amorosa, e a responsável por destruir Orlock. Desde o início ela pressente a influência de Orlock se espalhando, ela tem sonhos premonitórios e até uma ligação psíquica com o que o conde está fazendo.

Ellen vê ele atacando Hutter, sofre de febres e sonambulismo, mas ao final está mais resistente ao conde. Ou é o que me parece ao ver Orlock tentando hipnotizá-la ao final, mas Ellen para em frente a janela, não a abre, ela se volta para Hutter adormecido e pede que ele vá até Bulwer – o Van Helsing da vez – , o poupando de ser atacado, e permitindo que haja uma abertura para que Nosferatu não se recolha antes do primeiro canto do galo.

E essa vitória definitiva vem com um custo: Ellen morre, mas a poética é que ela falece, mas o sol volta a brilhar, as pessoas da cidade se curam da Peste, Lock – o Renfield dessa adaptação – para de ter seus rompantes de loucura. Ela se sacrifica para salvar a todos. Hutter é só o fio condutor de uma ponta a outra, a Morte e a Vida. No fim, Nosferatu é um filme trágico, mas belo.

O Expressionismo Alemão surge em uma nação fragmentada pela realidade, uma fragmentação a nível global, nessa época os países europeus (ocidentais) estavam percebendo o que a Modernidade estava construindo como zeitgeist, e a fabulação da vida, portanto o terreno das artes, principalmente literatura, teatro e cinema se torna um espelho desses sentimentos. 1922 é o ano da Semana de Arte Moderna de 22, não é atoa que essa identidade estava sendo discutida aqui, não é atoa que Drácula (1897), de Bram Stoker, precisava ser adaptado, mesmo que ilegalmente, que é o caso de Nosferatu (1922), na Alemanha. E por isso o final ser um novo raiar do sol é tão potente  – e historicamente preocupante, haja vista o que veio a crescer depois na Alemanha.Esta crítica poderia se estender por mais 70 páginas e não seria o suficiente. Nosferatu (1922) é um monumento, e esses são alguns dos motivos. Mas esse filme não é ponto zero do Expressionismo Alemão, se você sentir uma ânsia gigantesca para entender mais, ver mais do que foi esse movimento, fica a dica: O Estudante de Praga (1913), dirigido por Paul Wegener, te dirá muito mais.

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