CRÍTICA | O Menino e a Garça (2023), Hayao Miyazaki

Por: Gabriel Almeida

Se tem algo que me fascina nos filmes do Studio Ghibli são as doses de realidade e fantasia que, misturadas com um profundo carinho e delicadeza, trazem ao espectador a história que se quer contar sem precisar se apegar aos detalhes. Mas não significa que os detalhes devem passar despercebidos, muito pelo contrário.

O Menino e a Garça me confundiu na maior parte de sua trama, com simbolismos e metáforas tão claras mas ao mesmo tempo tão dúbias, e o aspecto onírico do filme, para mim, foi o maior culpado de tudo. Constantemente parece que estamos assistindo um sonho representado na tela, com eventos sufocantes e tão complexos que nos fazem acordar sem fôlego, com o impressionismo do brilho e da luz que se destacam em meio às paisagens, e com a aleatoriedade criativa digna do estúdio e já vista em diversas obras anteriores – como os periquitos soldados que comem humanos, porque faz total sentido.

E tudo isso são os detalhes que enriquecem a trama, pois a história – sendo extremamente reducionista – se resume, ao meu ver, no processo de superação do luto de Mahito e a aceitação de seu novo lar, e de sua nova mãe. A dose de realismo, contudo, aplicada no contexto geral desse universo particular – desde o Japão da Segunda Guerra até o processo verdadeiro de dor, luto e angústia enfrentado pelos japoneses – deixa ainda mais forte esse processo de onirismo, formando no longa-metragem um espaço único de sinestesia, onde as sensações são representadas em objetos, animais e elementos da natureza, e o “mundo real” pode muito bem ser o mundo dentro da torre.

⭐️⭐️⭐️⭐️

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