CRÍTICA | Peões (2004), Eduardo Coutinho

Por Felipe Tavares

Redação RUA

Lançado há 20 anos atrás, “Peões” recupera momentos da greve dos metalúrgicos do ABC paulista realizada em 1979 e os concilia às eleições de 2002, partindo de relatos de figuras presentes nos dois momentos e aliando-os a trechos de filmagens dos mesmos.

O documentário enfatiza a identificação daquelas pessoas com seus ideais, percorrendo a linha do tempo da greve através de falas dos responsáveis por sua existência, em que a sensação de pertencimento ao movimento é ditada não apenas por presença, mas pela história intrínseca à cada participante. Associados a tal inerência, os closes nos rostos dos entrevistados promovem intimidade aos relatos, de forma que a mensagem vá além das falas, e transite por olhares que, mesmo maquiados pela passagem do tempo, transmitem juventude e ímpeto.  

Com os cenários compostos por salas, cozinhas e quartos, é como se fôssemos recepcionados para um café da tarde, em que o aconchego do lar contrasta com o denso viés político da conversa.  Declarações sobre dificuldades no setor metalúrgico, assim como lembranças de machucados são apresentadas com naturalidade, porém sempre seguidas de críticas à precariedade do ambiente imposto. O conforto da casa até consegue amenizar o peso das falas, mas não apaga o que elas representam, nem o que ajudaram a construir, visto que os comentários realizados em 2002 são ecos de multidões uma vez inflamadas em 1979.

Sendo assim, Coutinho convida os trabalhadores a relembrarem de outros tempos, não como maneira de confrontar o passado, mas de resgatar e perpetuar o sentimento capaz de possibilitar um futuro.


REFERÊNCIAS:

Peões. Eduardo Coutinho. Brasil, 2004, 85 min., son., cor.

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