Da especifidade da narrativa animada: sobre o individualismo como valor no desenho Bob Esponja Calça Quadrada¹

Francisco Cleiton Vieira Silva do Rego*

RESUMO:

Novos gêneros suscitam novas formas de narrar, e foi isso o que ocorreu  com os desenhos animados, que unindo elementos do Cinema, dos Contos de Fadas, da TV, elementos próprios de narrativa e de linguagem. Dessa forma, esse artigo procura estudar como a narrativa animada se forma e é apresentada de maneira particular, isto é, uma nova forma de narrar, de transmitir a história para o telespectador. Através de um estudo dos episódios de Bob Esponja mostraremos como a narrativa desse desenho é estruturada, unindo narrador, personagens e ações de cena personificadas. Dessa forma, se percebe que tudo no desenho animado Bob Esponja indica uma individualização dos valores, as formas das casas, os trabalhos de cada um, o estilo de vida e a privacidade doméstica. Nesse sentido, constata-se que esse desenho apresenta o individualismo como valor, reforçando assim que o desenho animado exprime a sociedade em que está inserido.

Nota introdutória

Este trabalho tem por objetivo delinear a estrutura narrativa no desenho animado Bob Esponja Calça Quadrada, produzido pela Nickelodeon Animation Inc. e mostrar como a animação faz uso de linguagem própria, através de uma narrativa polissêmica, construída tendo como base a junção da imagem, dos sons e do texto produzido nos diálogos entre os personagens.

As ideias discutidas aqui são provenientes da análise de quatro episódios[2] do desenho animado Bob Esponja; mostraremos, então, como a narrativa animada se apresenta e é estruturada. Em um mesmo episódio de Bob Esponja é perceptível todos os elementos da estrutura de uma narrativa, desde a Apresentação inicial até  o Resultado.

Antes da narrativa se transpor para o “contar a” no texto e no vídeo, ela se consolida como a própria concepção de existência, segundo Costa (2000), que é percebida pelo homem como organizada no tempo, ou seja, a vida social é temporalizada, fazendo do presente, do passado e do futuro, concepções cruciais para a percepção da nossa existência. Amparada na percepção de início e fim na natureza (nascimento e morte), se cria começos e fins no convívio social (Costa, 2000). Dessa forma, podemos entender que a narrativa assume um sentido social da própria percepção da realidade, por isso, se torna necessária para diversas construções sociais. Nesse sentido, como a realidade está condicionada a um modo de temporalização, contamos histórias situadas no tempo – de diferentes maneiras, no texto, no cinema, teatro, no vídeo em geral, etc. –, e esse “contar a” significa e é significado pela sociedade.

Aumont et al., em A Estética do Filme (1995), se pergunta se todo filme é um filme narrativo. O autor chega à conclusão, grosso modo, que todo e qualquer objeto, antes mesmo da reprodução, já veicula para a sociedade na qual é conhecido um conjunto de valores dos quais é representante e “conta”, ou seja, conta alguma coisa ao ser posto na imagem, ato que incita uma história, e essa história incita uma narrativa, portanto, todo filme é narrativo. Da mesma forma, poderíamos conceber um desenho animado sem tomar a narrativa como elemento primordial? Nossa discussão vai mostrar que necessariamente a narrativa faz parte do desenho animado, uma vez que o desenho conta uma história estruturada em um enredo através da organização de um tempo, similar, portanto, aos contos de fadas. Nesse sentido, observaremos que a narrativa animada engendra uma forma narrativa específica, pois de acordo com Martin-Barbero (2003), um novo gênero suscita novas formas de narrar.

1. Sobre a especificidade da Narrativa Animada.

Segundo Martin-Barbero (2003, p.208), a narrativa por imagens se inicia com as histórias em quadrinhos (HQs) nos jornais impressos, em que ocorre a primazia da imagem, “desde a ‘visualização’ dos títulos e a redefinição do peso e do papel da fotografia, até o impulso ao desenvolvimento dessa iconografia popular por excelência que será a história em quadrinhos, a narrativa moderna em imagens” (MARTIN-BARBERO, 2003). O sistema de narração se engendra antes mesmo do uso da imagem, contudo, a imagem – e os sons – vai imprimir na narrativa uma nova funcionalidade, pois também fazem parte do contar (Aumont el al., 2003).

Dessa forma, o contar atua sob uma narrativa, que se apresenta estruturada no tempo. Diversos autores classificaram a estrutura da narrativa de formas diferenciadas (Vieira, 2000). Segundo Vieira (2000), essa estrutura na literatura – que pode ser aplicada aos desenhos animados com algumas diferenças – encontra basicamente a apresentação inicial, onde os personagens, e a história são apresentados, a intriga, que é o conflito encadeado, e a conclusão, que apresenta a resolução do conflito. Neste artigo optamos por mostrar essa estrutura de maneira mais fragmentada, mais característica do filme e do desenho animado do que da literatura[3], percebendo, portanto, a apresentação inicial, na qual a história é apresentada; a quebra de uma situação inicial, onde percebemos a causa do conflito que se inicia; o estabelecimento de um conflito, em que este, de fato, é provocado por uma intriga, aqui é o período de maior desenvolvimento da história (Propp apud Vieira, 2000); o clímax, aí a história tem o seu ápice conflitual, se encaminhando pra resolução, que acontece no Epílogo ou Conclusão; e, às vezes, a história pode apresentar também o momento posterior à resolução do conflito, chamado por Todorov (apud Vieira, 2000) de Resultado.

Como se pode perceber, a narrativa é um “contar a história através” do tempo, no entanto, para Goldman (apud Vieira, 2000), essa estrutura pode ser apresentada de maneira não tão organizada, com o Resultado sendo apresentado antes do Clímax, por exemplo. Para o autor, a desorganização ou rearranjo desses elementos não descaracterizaria a narrativa, contudo, esse artifício é pouco usado no desenho animado.

Os desenhos animados da TV vão apresentar a narrativa de forma fragmentada entre episódios, ou compactada em episódios isolados. Diferentemente dos desenhos animados do cinema, os desenhos da TV (animação tradicional às massas) são divididos em episódios de curta duração – raramente excedendo 20 minutos –, que geralmente não apresentam uma continuidade da história, ou seja, as histórias iniciam e terminam no mesmo episódio. Contudo, os desenhos da TV que apresentam continuidade das histórias em seus diferentes episódios, têm de alguma forma um conflito iniciado e uma conclusão mais fragmentada, deixando um gancho para o próximo episódio – característica da telenovela. Já outros desenhos, no caso de Bob Esponja, apresentam uma narrativa seriada, no entanto, encontra episódios com histórias independentes, de modo que pode apresentar ou não uma “noção de continuidade”, que pode ou não ser efetivada.

O gancho na telenovela apresenta-se como um vínculo entre capítulos, subcapítulos ou episódios. Segundo Costa (2000), esse gancho se concretiza como uma quebra e como um elo: uma quebra porque interrompe a narrativa, e um elo porque une essa quebra a um recomeço. Em alguns desenhos animados da TV – como Avatar: A lenda de Aang e Dragon Ball – o gancho também existe, pois todos os episódios se complementam em uma história geral. Já em outros desenhos esse gancho não se efetiva, portanto, podemos considerar como uma “noção de continuidade”, isto é, é insinuado no fim do episódio, após a Conclusão da narrativa, que a história pode se repetir, deixando aberto ao telespectador um espaço para significar essa lacuna final na história. “Can you spare a dime?”, o Resultado do episódio mostra Lula Molusco e Seu Siriguejo numa nova briga similar com a geradora do conflito, fazendo com que haja a insinuação de que a história de Lula hospedado em sua casa vai se repetir, e isso é insinuado com Bob Esponja vestindo um uniforme de doméstica.

Dessa maneira, a serialização da narrativa apresenta uma nova dimensão da história. Segundo Machado (apud Santos Filho, 2008, p.8),

os tipos de narrativa seriada (ou serializada) têm um papel importante na construção do habitus televisual, pois impõem a forma de ser apreciada pelo telespectador. Pode-se categorizá-las como: a) única ou várias narrativas entrelaçadas e paralelas; b) mesma situação narrativa; c) narrativa independente.

Com isso, diferentemente da telenovela que permite a participação do telespectador na finalização da história, o desenho animado é uma narrativa fechada, que é produzida sem a interferência de quem o vê. Nesse sentido, o desenho animado subverte, rompe com as ordens narrativas clássicas, como do romance, do folhetim, dos contos de fadas, e até da telenovela, se ligando mais ao formato de seriado. Como narrativa independente – de acordo com classificação de Santos Filho (2008) –, o desenho Bob Esponja não apela à memória do televidente, cada episódio é independente, de forma que mesmo quando apresenta referência a outros episódios, essa referência é explicada no próprio episódio, de modo que nem os comerciais da TV interferem na narrativa, pois o episódio é transmitido de uma só vez, por causa do pequeno tamanho, de 11 minutos. Mesmo que Bob Esponja apresente claramente ser uma narrativa independente, essa narrativa acaba por apresentar também uma mesma situação narrativa, uma vez que são várias histórias apresentadas independentemente em episódios diferentes, mas que estão sob o mesmo eixo narrativo e o no mesmo ritmo.

Sob um uso recorrente de uma dinâmica bastante acelerada, a imagem é apresentada como se a câmera mudasse de quadro de forma rápida, onde muitas informações são tecidas ao longo de todo o episódio, fazendo de cada quadro, de cada plano detalhe como uma peça de quebra cabeça, que se une no final da narrativa, explicando assim as informações anteriores, artifício cinematográfico como nos mostra Eco (apud Aumont, 1995; Santos filho, 2008).

2. “Demorou tanto que tiveram que chamar outro Narrador”.

Na narrativa escrita o narrador está presente todo o tempo, pois é através dele que se percebe a história, no entanto, no desenho animado (vídeo), onde a voz do narrador não é ouvida todo o tempo, ou em alguns casos ela não é ouvida nunca, poderíamos falar em um narrador no desenho animado, ou essa narração seria feita pela simples ordenação dos passos da narrativa, pelas cenas? E, se há, como ele atuaria? E, qual seria a sua importância para a compreensão da história pelo telespectador?

Nos desenhos animados tradicionais[4], as histórias são geralmente bastante simples, se trata de uma narrativa com 10 a 15 minutos que mostra uma peripécia em que o protagonista está envolvido. No entanto, essa pequena narrativa apresenta conflitos que são desenvolvidos de forma mais elaborada, que culminam em uma conclusão simples. Os episódios de Bob Esponja se iniciam com a apresentação do título do episódio – igual a maioria dos desenhos comerciais –, ele é lido pelo narrador e detém um pequeno ruído no momento da leitura, indicando o clima da história, o gênero, ou até mesmo o tema. Como podemos perceber na figura 1 a exemplo, o título do episódio está disposto sob águas marinhas com fundo preto, aludindo a certo ar fantasmagórico. Em Ghost Host, o fantasma do holandês voador, que vez ou outra aparece nos episódios, não consegue assustar Bob Esponja, por isso, o fantasma entra em depressão e não quer mais sair de casa, incomodando assim na casa de Bob Esponja. O desenvolvimento do conflito se dá por Bob Esponja ensinar ao fantasma a como aprender novamente a assustar, ele faz uso de práticas nas ruas, e o faz assistir um documentário sobre “a viagem ao inconsciente” – expressão usada por Bob Esponja.

Após o narrador anunciar o episódio, sua voz não é ouvida novamente, deixando a cargo das situações, da narrativa, orientar a história. Benjamin (1994), ao falar sobre o narrador na história escrita, evidencia que esse narrador acompanha o leitor/ouvinte, não o deixando solitário. Na animação, mesmo que o narrador não possa ser ouvido enquanto voz, a narração é feita pela ordenação das imagens, nesse sentido, mesmo que o narrador pouco ou nada seja remetido, sua presença permanece, pois toda narrativa presume alguém que sabe dela, segundo Benjamin, e, por isso, a está contando, ao anunciar a história lendo o título do episódio o narrador em Bob Esponja se torna presente e alude a criança para que ele esteja contando para ela.

“Can you spare a dime?” é um dos episódios analisados em que mais se ouve a voz do narrador, além dele anunciar a história, ele também se apresenta no momento que se encaminha para o clímax, quando Lula Molusco abusa tanto da hospitalidade de Bob Esponja, o fazendo servi-lo repetidas vezes, que o narrador anuncia dando a temporalização dos acontecimentos: “demorou tanto que tiveram que chamar outro narrador”. Isso obriga o telespectador a ter a dimensão da gravidade do momento, de que passou muito.

Com isso, percebemos que não é necessário que o narrador oriente a história todo o tempo com a sua voz no desenho animado, pois as imagens vão deter essa independência narrativa, de modo que o narrador se apresenta como um mediador das informações que são apresentadas ao telespectador em Bob Esponja, se tornando assim, fundamental para a imersão na história pela criança, principalmente.

3. Personagens bobesponjianas?

Grosso modo, cada personagem apresentado em um desenho animado tem uma característica particular, como um ethos de atuação dentro da narrativa do desenho. Em um mesmo episódio – nos desenhos mais simples, aqueles de pouca duração sem histórias paralelas em um mesmo episódio –, todos os personagens que aparecem estão em consonância com a história que está sendo desenvolvida. Essa composição do personagem, segundo Dennis (s/d) – pela capacidade polissêmica da imagem –, é formada de forma simples e rápida, com poucos loops e rabiscos, e diálogos entremeando a cenas que o autor criou para contextualizar a imagem com as informações da história.

Como se convencionou socialmente à criança a prática de assistir desenho animado, com a entrada dele no espaço doméstico com a TV, este [5] se consolidou apresentando personagens que eram animais ou objetos com características humanas – os antropomórficos como Mickey Mouse e Gato Félix. Tais personagens, segundo Pacheco (2000), conseguem mais acesso entre as crianças, pois elas estariam em um período em que percebem tudo que tem vida como vida semelhante à humana (Bettelheim, 2007); dessa forma, por exemplo, um cavalo falante é muito mais acessível para as crianças do que um adulto em si. Isso se vê forte ainda hoje, quando a maioria de desenhos destinados a crianças apresentam em alguma medida animais ou objetos antropomórficos (Pereira, 2010).

Na narrativa de um desenho animado pode-se encontrar um protagonista, que detém um conflito habitual consigo mesmo, ou com um antagonista que pode variar ou não, e aqueles personagens “coadjuvantes-protagonistas” que estão em todos os episódios em maior ou menor evidência, além dos personagens provisórios que também são importantes, pois eles aparecem na narrativa para apoiar alguma informação nova, podendo aparecer ou não em outros episódios novamente. Os personagens são caracterizados pelas suas roupas e pelas suas ações em relação aos outros personagens e pelas situações que enfrentam.

Em Bob Esponja, todos esses personagens são utilizados para o contar da narrativa. As ações dos outros personagens vão ser pautadas no universo de Bob Esponja, para contrastar com o seu universo, portanto, Bob Esponja se apresenta como padronizador do desenho.

Como protagonista está o personagem-título, Bob Esponja Calça Quadrada – percebam que o personagem tem um nome e um sobrenome assim como todos os personagens coadjuvantes-protagonistas que aparecem. Bob é uma esponja do mar em forma de esponja de cozinha, um personagem antropomorfizado, que trabalha de cozinheiro chefe em um restaurante de hambúrguer de siri, o Siri Cascudo. Segundo Lima (2009), Bob seria a representação complexa da idiotice e da poesia. Segundo esse autor, o nosso protagonista esponjoso apresentaria uma transformação da ingenuidade e da idiotice “em poesia bem-humorada”. Ele seria “revivescência pós-moderna do Dadaísmo, isto é, ele extrai a anarquia, o ludismo e o nonsense da escola dadaísta, mas tira destes traços todo o peso que os fazia ameaçadores ao status quo, em política e em estética”.

Trazendo essa discussão literária e filosófica para o terreno da sociologia da cultura, percebemos que o criador Hillenburg concebe um personagem inocente ao extremo para transpor, claramente, os extremos das relações que Bob Esponja está envolvido para as consequentes situações que ele tem que enfrentar por causa disso. Nesse contexto, Bob Esponja mesmo em perigo por sua ingenuidade, consegue se salvar; como no episódio em que Sr. Siriguejo o troca por algumas moedas com o fantasma do Holandês Voador, que o leva para passar toda a eternidade com ele. No entanto, Bob Esponja não demonstra nenhuma infelicidade, muito pelo contrário, ele demonstra ser tão tagarela que o Fantasma o devolve por não aguentá-lo ouvir falar mais. Portanto, Bob Esponja seria “ingênuo porque é puro e é puro porque é ingênuo”, transformando “o rotineiro em estranho, o denso em leve, o trágico em bufonaria, o compromisso em jogo” (Lima, 2009).

Segundo o sítio eletrônico spongebob.wika.com[6], Bob Esponja é um personagem infantil e excêntrico, que é imaturo e muito dramático a respeito de problemas pequenos, entretanto, de bom coração e de uma personalidade muito feliz e de sorte. Ainda segundo Lima, Bob Esponja estaria também representando essa zombaria do intelectualismo e do mundo em que ele é apresentado.

Nessa linha de sentido, Lima toma Bob Esponja como um anti-herói, que não se apega a atos heroicos épicos ou que persegue fins somente altruístas. Há tipos diferentes de anti-heróis, como o que persegue a justiça por fins egoístas, vingativos, por matar e por vaidade, se distanciando assim do ato heroico, mas paradoxalmente se aproximando dele ao mesmo tempo, como Severus Snape – personagem da saga Harry Potter de J. K. Rowlling –, que em segredo protege Harry Potter por ele ser filho de sua amada Lilian Potter, mesmo o achando arrogante. Snape revela apenas no final da saga que protegeu Harry em vários momentos, fingindo ser fiel ao vilão da história para proteger ainda mais o filho de Lilian e para se vingar do assassinato dela, cometido pelo vilão Voldermort.

Mesmo que Bob Esponja não participe de uma saga literária do estilo da feita por Rowlling, pode ser caracterizado como um anti-herói na medida – encontra-se em uma narrativa, mesmo que seriada – em que suas boas ações são totalmente ingênuas, sem intenções claras, ele não faz o bem por ser o bem, nem deixa de fazer o mal por ser o mal, daí o conflito nuclear desse desenho animado. Dessa forma, o desenho Bob Esponja caminha suas situações narrativas para o protagonista, no qual é reforçado pelos personagens que podem ser tomados como um tipo de coadjuvantes-protagonistas.

Conclusão

Como pudemos perceber nas descrições dos personagens em maior evidência no sitcom animado analisado neste trabalho, os personagens apresentam extremos variáveis em contraste com o protagonista, que é temática do desenho, de modo a estarem para se relacionar com ele, de modo a mostrar como sua ingenuidade e inocência lida com esses diferentes polos de personalidades, isto é, se apresentam como personagens bobesponjianas.

Nesse sentido, após apreciarmos como a linguagem de um desenho animado se engendra, mostrando posteriormente como uma narrativa em um desenho animado não só é possível como é essência dele, percebeu-se que o narrador, independentemente de ser pouca ou muita referência em um desenho, ele é importante para anunciar seu contar da história, como em Bob Esponja, que sua voz pode variar em participação, nessa ordem, as ações tomam forma narradora da história. Com isso, os personagens se confirmam como parte primordial de um desenho, pois são suas ações que vão dar vida a obra audiovisual animada, assim como na literatura.

Mesmo que haja variação de narrativa enquanto história, de personagens, de forma estética, o desenho animado se enquadra como um gênero, que unindo características de outros gêneros a disposições próprias transmite história de um jeito particular a si. Dessa maneira, conforme indicação de Martin-Barbero (2003), o desenho animado apresenta-se como uma “narrativa de gênero”, e não uma narrativa de autor, que se caracteriza através de categorias literárias ou tradicionais. A narrativa de gênero localiza-se no âmbito da sociologia da cultura em que é possível pensar certas formas de percepção/recepção das formas de narrar. Na qual todas as características dos personagens sugerem um valor individualista das relações e das ações.

* Francisco Cleiton Vieira Silva do Rego é bacharel em Ciências Sociais, pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN; e, membro do Grupo de Estudos Culturais – GRUESC. Currículo Lattes: <http://lattes.cnpq.br/4438529628551741>. E-mail: Cleiton.vsr@gmail.com.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AUMONT, Jacques et al. Cinema e Narração. In: A Estética do Filme. São Paulo: Papirus, 1995.

BENJAMIN, W. O Narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In: Magia e Técnica, Arte e Política. 5. ed. São Paulo: Brasiliense, 1993.

BETTELHEIM, B. A Psicanálise dos contos de Fadas. 21. Ed. São Paulo: Paz e Terra, 2007. pp. 437.

BOUTIN, R. Aspectos pedagógicos do desenho animado Bob Esponja. Dissertação (mestrado em comunicação social). São Paulo: UMESP, 2006.

COSTA, M. C. C. A milésima segunda noite. Da narrativa mítica à telenovela. Análise estética e sociológica. São Paulo: Annablume, 2000.

CRUZ, P. R. Do Desenho Animado à Computação Gráfica: A Estética da Animação à Luz de novas tecnologias. Monografia de Graduação (Bacharelado em Produção em Comunicação e Cultura), Departamento de Comunicação Social, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2006. 150p.

DENNIS, J. P. Queertoons: The dynamics of same-sex desire in the animated cartoon. Journal on media culture.  Available in: <http://www.icce.rug.nl/~soundscapes/VOLUME06/Queertoons.shtml> Access: Nov. 22, 2009.

LIMA, W. O Universo de Bob Esponja: ingenuidade, idiotice e poesia. Rev. Rua. Disponível: <http://www.ufscar.br/rua/site/?p=2409>. Acesso em out. 2010.

MARTÍN-BARBERO, J. Das massas à massa. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2003.

PACHECO, E. D. A relação criança e televisão: entrevista com Elza D. Pacheco. Boletim Técnico da Fundescola, em seus números 39 e 33, de 2000, ano V. (Trechos).

PEREIRA, P. G. Animaq: almanaque dos desenhos animados. São Paulo: Matrix, 2010.

SANTOS FILHO, A. S. dos. Desenho Animado como habitus estético-televisual. In: Anais… I Congresso Internacional em Estudos da Criança – Infâncias possíveis, Mundos reais. Ano 1, n 1. Universidade do Minho, Braga/Portugal, 2008.

SKOBLE, A. J. Lisa e o anti-intelectualismo americano. In: IRWIN, W.; CONRAD, T. M.; SKOBLE, A. J. (Orgs.) Os Simpsons e a Filosofia. O D’oh! de Homer. São Paulo, Madras, 2004.

VIEIRA, A. G. Do conceito de estrutura narrativa à sua crítica. Psicologia: reflexão e crítica, Porto Alegre/RS, 2001, 14(3), pp.599-608.

NOTAS:

[1]Trabalho apresentado em forma de Pôster no II Colóquio Nacional de Linguagem e Discurso, realizado de 1 a 2 de dezembro de 2011 em Mossoró/RN, pela Faculdade de Letras e Artes, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Este texto é parte integrante da minha monografia de conclusão de curso de graduação em Ciências Sociais, que foi defendida e aprovada em 17 de março de 2012, na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.

[2]Can you spare a dime? e Ghost Host.

[3]Nos contos de fadas ou contos maravilhosos, segundo Vladimir Propp (apud Vieira, 2000), a estrutura narrativa apresenta mais complexa, em torno de 32 passos, desde a apresentação do herói, passando pela resolução e volta à perseguição do herói, até a conclusão final.

[4]Segundo Pilling (apud Cruz, 2006) desenho animado tradicional é tomado por algo que conta uma história através da movimentação dos desenhos, produzida em celuloide este tipo de animação contém o que é chamado no meio de “animação de personalidade”. Seriam os desenhos animados produzidos para o consumo de massa.

[5]Os desenhos animados iniciais da TV e do cinema apresentaram personagens antropomórficos, no entanto, existiram, posteriormente, desenhos animados em que os personagens eram simplesmente humanos, crianças ou adultos.

[6]É um sítio eletrônico estadunidense em inglês, que une conhecimentos acerca de diversos assuntos, como uma Wikipédia temática, só que o Wika se mostra mais completo e controlável que este primeiro.

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