Mondo Tarantino

Por Gabriel Alves

Aproveitando o lançamento no Brasil de Django Livre, novo longa-metragem de Quentin Tarantino, o Centro Cultural do Banco do Brasil em conjunto com o Cinusp realizam a mostra Mondo Tarantino, evento que reúne filmes do cineasta e obras correlacionadas. Além dos filmes dirigidos e/ou escritos pelo cineasta (com a exceção de Django Livre, que ainda está sendo exibido nos cinemas), a mostra exibe obras que o influenciaram de alguma forma. São exibidos filmes que, por exemplo, emprestam seus nomes e gêneros a filmes de Tarantino, como Django e Os Bastardos InglóriosO Expresso Blindado da S.S. Nazista, além de longas-metragens que foram usados de referência para figurinos e itens de cena, como O Jogo da Morte (a protagonista de Kill Bill usa uma roupa igual a de Bruce Lee nesse filme). A mostra começou no dia 20 de fevereiro no CCBB e terá seu término no dia 17 de março. No Cinusp, ela se iniciou no dia 25 de fevereiro e termina no dia 15 de março. As exibições estão sendo feitas em 35 mm, Blu-ray e DVD, dependendo da disponibilidade do material nas distribuidoras brasileiras.

Tarantino pode ser considerado um dos diretores mais populares dentre os jovens espectadores de cinema, assinando filmes ousados e ao mesmo tempo fáceis de serem digeridos. A violência, os diálogos casuais e as referências que seus filmes fazem à história do cinema e à cultura pop em geral trabalham juntos para fazer o papel dúbio de esconder e mostrar ao espectador o fato de estar vendo um filme. À primeira vista, parece mostrar, já que o espectador estranha os personagens e o filme em si fazerem tantas referências externas, mas esconde ao transformar os personagens em seres que têm gostos e jeito de falar parecidos com o do público e não androides que falam frases de efeito e parecem estar ali simplesmente para levar a história adiante. Quando o espectador começa a achar que os personagens são vivos é exatamente o momento em que a violência é inserida, fazendo com que a cena seja muito mais envolvente, mas ainda assim demonstrando que é um filme devido à estilização da violência exagerada.

Talvez o maior trunfo da mostra seja pegar um diretor conhecido por fazer referência a outros filmes e juntá-los em um mesmo lugar, abrindo espaço para que, além de apresentar o diretor a quem não o conhece, um espectador que já conhece Tarantino também tenha a oportunidade de saber exatamente de onde vêm tantas referências e conhecê-las a fundo, uma vez que, se não forem pesquisadas, dificilmente chegam ao público geral. A maioria das pessoas sabe, por exemplo, que o diretor faz referência ao western em vários de seus filmes, mas a dúvida fica em saber se essas pessoas já assistiram filmes desse gênero e quais são os elementos que o fazem ser reconhecido em poucos planos. Indo mais além, podemos pensar que talvez essa tenha sido a intenção de Tarantino desde o início: fazer com que o público se interesse por um cinema de algumas décadas atrás e que consiga ver que estes filmes não devem ser jogados fora, e sim vistos como algo que pode ser (e é) incorporado pelas produções contemporâneas e, principalmente, apreciados em sua forma original.

Por outro lado, a mostra peca em alguns pontos ao oferecer apenas uma sala com poucos lugares (por volta de 80 no CCBB), que fazem com que o participante tenha que comprar o seu ingresso cedo para que não perca as sessões. Além disso, os ingressos são vendidos no local apenas no dia da exibição do filme. A projeção também tem seus problemas, pois exibe o filme em uma pequena parte da tela que já não é muito grande e que possui ranhuras que acabam ficando sobre o filme dependendo da luminosidade da cena. A proporção da janela, ao menos, parece estar correta, diferentemente de algumas mostras que acham que o espectador não se importa com isso ou simplesmente não sabem que há alguma coisa errada.

Apesar de não ter conseguido ver tudo o que queria devido à pequena quantidade de ingressos mesmo tendo chegado várias horas antes do início das exibições e nem ter visto as que consegui na melhor das condições, fiquei feliz ao ver que um diretor pode levar tantas pessoas ao cinema mesmo que provavelmente já tenham visto os filmes da programação. De um modo geral, podemos dizer que é uma mostra que oferece ao participante a possibilidade de conhecer mais do diretor e pode servir de trampolim para conhecer outras obras e momentos da história do cinema. Somando-se a isso, o baixo valor do ingresso possibilita que se passe várias horas no cinema e faz com que o paulistano tenha uma opção diária para divertimento e cultura.

* Gabriel Alves é graduando do curso de Imagem e Som e redator colaborador da Revista Universitária do Audiovisual (RUA).

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