Por Henrique Rodrigues Marques *
Nessa quinta-feira, segundo dia de MOSCA, aconteceu a Mostra Brasil III. A sessão teve início às 21 horas e contou com um público um pouco menor em comparação a noite anterior, mas com a mesma empolgação vista ontem.
O curta Pátio, de Aly Muritiba, que esteve na quinzena dos realizadores do Festival de Cannes 2013, foi o responsável por abrir a mostra. Segunda parte de sua “Trilogia do Cárcere” – iniciada com o curta A Fábrica, de 2011, e finalizada com o longa A Gente, que está em fase de finalização – o filme acompanha as horas de lazer de um grupo de presidiários que conversam sobre seus sentimentos, experiências e anseios, enquanto jogam futebol, tomam sol e lutam capoeira, tudo isso pela perspectiva de uma câmera voyeurista, estática e que registra tudo através das grades. Simples, mas faz refletir.
Na sequência, tivemos outro documentário com temática social. Em Braços Abertos, Portas Fechadas (clique aqui para assistir ao filme), as diretoras Fernanda Polacow e Juliana Borges acompanham alguns dias na vida de Badharó, imigrante angolano que vive atualmente na Favela da Maré no Rio de Janeiro. Fernanda Polacow estava presente na exibição e contou que a ideia do documentário surgiu pela vontade de falar sobre o racismo, que é tão presente na nossa sociedade mas não é debatido o bastante. Por isso ela achou que seria ideal analisar essa questão pelos olhos de um estrangeiro, fato que ainda ajuda a enganchar outro questionamento: até que ponto a famosa hospitalidade do Brasil com seus imigrantes é verdadeira?
Quebrando um pouco a tensão levantada pelos dois filmes anteriores, conferimos Linear, uma simpática e estilosa animação que teve como mote inspirador a frase “a linha é um ponto que saiu caminhando”.
Por último, foi exibido o documentário experimental Automoville, de Wayner Tristao, que também estava presente. O vídeo gravado de maneira rústica em formato digital prevê um futuro em que as pessoas serão substituídas por carros. A ideia, conta Wayner, veio enquanto ele morava numa cidade ao norte do México em que, devido a toda a arquitetura da cidade e de seu clima quente, era praticamente impossível se encontrar pedestres.
O encontro de tantos temas interessantes, rendeu um caloroso debate. “Apesar de tratarem de diferentes assuntos, todos os curtas compartilham uma mesma inquietação”, conclui um dos espectadores. E ele está absolutamente certo. O que pudemos ver nesse panorama da Mostra Brasil III foi mais do que uma celebração do cinema nacional contemporâneo, mas uma amostra de que tem muita gente disposta a usar o audiovisual independente como ferramenta de protesto contra as mais variadas causas. E é sempre bom relembrar disso.
* Henrique Rodrigues Marques é estudante de Imagem e Som na Universidade Federal de São Carlos e editor da RUA.