Para encerrar os trabalhos do dia, a Mostra Brasil IV trouxe mais três filmes que, assim como os filmes internacionais, ressaltaram a introspecção de suas personagens, bem como a solidão inerente a muito deles. Tal qual outras exibições, as instalações do antigo cine elite permaneceram repletas de pessoas, ávidas por ingressar nas histórias que ali foram apresentadas.
O primeiro filme a ser exibido nesta mostra fora O Absolutismo das Coisas, cujo diretor, Louis Robin, esteve presente e, ao final da exibição, trocou informações acerca daquele que é o seu primeiro trabalho enquanto diretor. O filme relata a história de Edu, um homem adulto, porém infantilizado, que vive apagado às lembranças da infância, que configura-se na resistência em sair da casa em que nascera mesmo após a mãe vender uma parcela do imóvel para Wilson. Ambos os personagens criam fortes vínculos, ainda que personalidades e vivências sejam distintas. Ao final, o desapego faz-se necessário, não só por uma questão espacial, mas também de amadurecimento do indivíduo.
O segundo filme da noite, A Mão que Afaga, de Gabriela Amaral Almeida, conta as diversas relações com o mundo desempenhadas por uma atendente de telemarketing que possui uma vida extremamente solitária ao lado do filho. A casa, as situações grotescas e até o filho contaminam-se pela solidão de uma vida que, segundo constata a própria personagem, ouve milhares de vozes por semana, mas ainda assim não seria capaz de reconhecer qualquer que fosse a pessoa com quem alguma vez travara diálogo por telefone. Tal filme, ainda que pareça denso, conseguiu tratar o assunto de maneira absurdada, o que fez com que o filme angariasse o tom cômico que arrancou gargalhadas dos espectadores.
O filme que encerrou a noite, Através, de Amina Jorge, lida com a questão espacial como limitação para trocas entre seres humanos. Duas mulheres relacionam-se, sozinhas, emolduradas por um fundo cinza. Aos poucos esse ambiente vai se delineando até demonstrar tratar-se de uma cadeia. Atrás das grades existem histórias, pessoas que sentem-se solitárias e procuram outra solidão para abrigar-se, na tentativa de escapar daquela realidade privativa.
Ao final do filme, houvera extenso debate com o realizador Louis Robin. Diretor e público discutiram não só O Absolutismo das Coisas, mas as relações existentes entre os filmes exibidos na noite. Do filme de Louis em si, foram levantadas questões que versavam desde a opção pela película, até o trabalho com os atores do curta. O assíduo público da MOSCA fez, mais uma vez, a sua contribuição para o evento, permanecendo em peso até o final da discussão.
* Lidiane Volpi é estudante de Imagem e Som na Universidade Federal de São Carlos e editora da RUA.