MOSCA 8 / DIA #4 – MOSTRA BRASIL VIII

* Por Henrique Rodrigues Marques

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O público que escolheu iniciar a noite de sábado conferindo a programação da MOSCA encontrou na Mostra Brasil VIII, exibida as 21 horas, o ciclo de curtas que mais celebrou a cultura popular brasileira. Indo do Rio Grande do Sul a Minas Gerais, passando pelo interior paulista, os três filmes compartilhavam o mesmo fascínio pelo folclore e pela fé. Cada um a sua maneira, retrata o conflito entre o profano e o sagrado e a sua relação íntima de coexistência.

O porto-alegrense Ignácio e Saldanha, de Boca Migotto, brinca com muito humor e sagacidade em cima dessa temática. Dois velhos amigos jogam damas e relembram o passado e, enquanto o jogo acontece e o papo avança, encarnam o papel de “bem e mal”, levantando acusações e zombarias, à maneira como dois amigos íntimos e inseparáveis fazem.

Não menos divertido é o documentário Eu Sou o Coração do Carnaval, dirigido por Marcel Rocha, Jairo Neto, Gabriel de Paula e Ricardo Devecz, que vai até a cidade de São Luiz do Paraitinga no interior de São Paulo pesquisar as origens de seu tradicional carnaval de marchinhas. Através de relatos dos singulares moradores da cidade, os diretores coletam uma série de lendas da região, evidenciando sempre a paixão do povo pelo carnaval e sua devoção à Igreja. O projeto que começou como uma pesquisa por curiosidade, fruto da paixão de um grupo de amigos por marchinhas, acaba se tornando uma linda homenagem à cidade, e uma espécie de metonímia para tantas outras que transbordam de histórias a serem contadas.

Fechando a sessão, A Mulher no Alto do Morro, misto de documentário e ficção dirigido por Cássio Pereira dos Santos, acompanha a saga de um grupo de crianças em Cruzeiro de Fortaleza, Minas Gerais. Levando lanternas de papel e embalados por ingênuas brincadeiras, a turma segue por uma estrada até a casa de uma senhora. Lá, se sentam para ouvir, encantados, as histórias de longínquos tempos. É bonito ver o encontro de gerações e a atenção imaculada com que as crianças ouvem as memórias compartilhadas por sua interlocutora. Destaque para a belíssima fotografia que capta muito bem as lúdicas cores da infância e para a naturalidade das crianças diante das câmeras.

O tradicional debate pós-sessão aconteceu com a presença dos diretores de Eu Sou o Coração do Carnaval, que responderam as curiosidades do público, e confessaram que foi difícil desapegar de tantas histórias que ficaram de fora do corte final.

Vale notar também que todos esses filmes se moldam através da figura do contador de histórias, personagem fundamental do nosso folclore e figura cativa em milhares de praças Brasil afora. No fim das contas, os três curtas aqui exibidos celebram o próprio ato de contar histórias, ao mesmo tempo que prestam um tributo de utilidade pública à cultura brasileira.

 * Henrique Rodrigues Marques é estudante de Imagem e Som na Universidade Federal de São Carlos e editor da RUA.

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