Festival de Cannes

Mercados do Cinema Mundial

Participar do 61° Festival de Cinema de Cannes foi, sem dúvida alguma, a realização de um sonho depositado a mais de 10 anos. Em 1997 quando prestei o vestibular para entrar no curso de Imagem e Som da UFSCar, sonhava em fazer cinema em um país que não produzia cinema. Porém, após pouco mais de 10 anos, o que vejo é uma nova realidade para o cinema brasileiro.

Desde de 1946, logo após a 2ª Guerra Mundial, o Festival de Cannes tornou-se um dos mais aclamados festivais do mundo. Além da glamourosa Mostra Competitiva do Festival, que esse ano foi presidida pelo ator e diretor Sean Penn, diversos outros eventos acontecem em paralelo, como a Mostra “Un Certain Regard”, que privilegia obras que tragam algo original na mensagem, narrativa e estética; a “Mostra Hors-Concours” com grandes produções fora da competição (com exibição do 4° Indiana Jones, por exemplo); “Competição de Curtas Metragens”; “Seleção Cinéfondation” com exibição de filmes de estudantes e jovens criadores e a “Cannes Classics” com a exibição de antigos premiados filmes recém relançados. Além disso, acontece a Semana Internacional da Crítica, a Quinzena dos Realizadores, o ACID (Association du Cinéma Indépeendant pour sa Diffusion) e o Marché du Cinema, um espaço com stand de países, distribuidoras e produtoras de audiovisual que buscam compra, venda e tratadados de co-produção. São mais de 150 filmes exibidos em mais de 40 espaços diariamente durante os 10 dias do festival.

Se para a indústria cinematográfica mundial, Cannes é um espaço para divulgar seu trabalho e fechar novos negócios, para a cidade é o momento de ganhar muitos Euros. Hotéis abarrotados, Bares e Restaurantes lotados e táxis trabalhando 24 horas por dia, transformam a pacata Cannes num verdadeiro sambódromo. Mais de 10.000 profissionais de cinema e mais de 30.000 turistas de todo o mundo lutam na busca de convites para as sessões ou um espaço entre os paparazzi na frente do tapete vermelho do Palais du Festisval.

Se há 10 anos, fazer cinema no Brasil era somente um sonho, hoje o que vi em Cannes foi outra realidade. O Brasil realmente faz cinema. A mostra competitiva do festival foi aberta por Blindness, novo filme de Fernando Meirelles em co-produção com o Canadá e Japão. Entre Clint Eastwood, os irmãos Dardene, Steven Soderbergh Wim Wenders e Lucrécia Martel, na mostra competitiva mais brasileiros: Walter Salles e Daniela Thomas com o filme Linha de Passe e Lula Buarque de Hollanda e Carolina Jabor com O Mistério da Samba. A prestigiada mostra Un Certain Regard contou com a estréia de Matheus Nachtergaele na direção com o filme A Festa da Menina Morta e o jovem brasileiro radicado nos EUA, Antonio Campos com o filme Afterschool. E na “CineFondation”, André Lavaqual apresentou seu curta O Som e o Resto. Lucia Murat apresentou Maré, Nossa História de Amor no “Pavillion des Cinemas du Sud”, Pablo Larrain e seu filme Tony Manero foi apresentado na “Quinzaine des Réalisateurs”.

No “Marche”, com o apoio da Apex e Ancine, o stand de Cinema do Brasil serviu de espaço para encontros de produtores e compradores mundiais com as produtoras brasileiras. Durante o festival, os filmes brasileiros foram exibidos em screenings, cuja missão era achar distribuidores interessados. Tony Venturi, Carlos Reichenbach, Beto Carminatti e Pedro Merege, Isa Albuquerque, Marcelo Galvão, Cris D´Amato, Carlos Gerbase, André Ferezini, Beto Souza, Walter Lima Jr e Pedro Peirano e Ivaro Dias tiveram seus filmes apresentados para compradores de todo mundo.

Ao todo mais de 4000 filmes estavam participando do festival em busca de seu mercado. Filmes de todos os gêneros, formatos e qualidades. Ao analisar a produção brasileira me questiono se o que estamos produzindo hoje encontra espaço para tantas produções de todo o mundo. Apesar da diversidade de filmes brasileiros acredito que não encontramos ainda um gênero ou formato que esteja na mira das distribuidoras internacionais. Como tudo no país, falta uma estratégia de negócios que transforme nossa produção em produtos palatáveis para todos os continentes.

Diego Doimo é diretor da Rocambole Produções e graduado em Imagem em Som na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

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