De Pernas pro Ar (Roberto Santucci, 2010)

Thiago Köche*

Boas comédias nacionais são raras. Os brasileiros já tiveram o tino para comédia na época áurea da Chanchada (entre as décadas de 30 e 60) e a Pornochanchada (na década de 70), mas ou com aquela inocência “Charpliniana”, no primeiro caso, ou aquela apelação à sensualidade brasileira. Uma comédia atual, moderna, despojada, ainda estava por vir. E demorou.

Se Eu Fosse Você (Daniel Filho, 2006) e Se Eu Fosse Você 2 (Daniel Filho, 2009) chegaram perto, mas ainda estavam dentro de um formato Globo de comédia, muito amarrados ao conceito Zorra Total, um programa deplorável e sem graça da emissora ditadora tupiniquim.

Cena do filme "De Pernas pro Ar".

De Pernas Pro Ar (Roberto Santucci, 2010) também é co-produzido pela Globo Filmes, assim como os dois longas-metragens acima citados. Mas a Morena Filmes, produtora majoritária, teve autenticidade para tentar com essa garantia de milhões de espectadores que é a Globo Filmes (e o filme já passou de 1 milhão de espectadores), um roteiro original e com uma raridade da nossa produção: bons diálogos (créditos para Paulo Cursino e Marcelo Saback). A contrapartida da Globo Filmes foi rechear a obra de atores globais. Tudo bem.

Cena do filme "De Pernas pro Ar".

De Pernas Pro Ar fez tudo certo. A escolha dos atores foi primorosa: nunca havia visto Ingrid Guimarães, Maria Paulo e Bruno Garcia em tão boa forma artística. A sintonia dos atores, o enquadramento básico para valorizar a atuação e os diálogos criativos, e, acima de tudo, muito engraçados, garantem a diversão do público e garantem também Santucci como um dos novos nomes firmes na direção de filmes nacionais (que já havia feito bom trabalho em Bellini e a Esfinge, de 2001).

Ingrid Guimarães é Alice, uma marqueteira de uma empresa de brinquedos que tem sua vida à beira do abismo. Ausente com o filho, não dá atenção ao marido João (Garcia) e o sexo, bom, o sexo praticamente não existe. É uma mulher rica, moderna, de sucesso, com bom carro, apartamento, mas falta a essência da vida. Alice só pensa no trabalho, trabalho e trabalho. E João acabou se revoltando – deu um tempo. Para piorar, Alice pega a caixa errada para uma apresentação da nova linha de brinquedos para seus clientes. Ao invés de jogar os novos produtos infantis na mesa numa importante reunião, ela joga vários acessórios sexuais, produtos de sexy shop. Os produtos eram de Marcela (Maria Paula), uma vizinha que Alice julgava uma garota de programa, mas era de fato proprietária de uma sexy shop. Após discussões, Alice e Marcela se aproximam. Alice ajuda a melhorar os negócios de Marcela, e Marcela, a vida sexual de Alice.

Cena do filme "De Pernas pro Ar".

Nunca havia visto de uma maneira tão pura e inocente (se assim posso dizer) a sexualidade da mulher. O orgasmo feminino, a procura de uma sexy shop, a utilização de um vibrador – tudo está lá, de uma forma leve, divertida e acima de tudo, engraçada. O talento de Guimarães garante isso.

De Pernas Pro Ar é moderno – boa direção, bons atores, bons diálogos, assunto corriqueiro e tudo abordado de uma visão do século 21. Não poderia ser diferente – o filme já é um sucesso, afinal, o sexo é universal. Começamos 2011 com um bom título brasileiro.

*Thiago Köche é graduado em realização audiovisual pela universidade UNISINOS.

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