Entrevista com Zita Carvalhosa

Bate-papo rápido com Zita Carvalhosa, produtora paulista, formada em Cinema pela Universidade Paris III (França), fundadora e diretora do Festival Internacional de Curtas-metragens de São Paulo. Foi curadora de cinema do Museu da Imagem e do Som de São Paulo (1988-1995), onde desenvolveu um programa de divulgação do curta-metragem. Atualmente preside a Associação Cultural Kinoforum, que organiza o Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo e mantém um banco de dados de curtas-metragens e festivais de Cinema. Zita veio a São Carlos, a convite do Departamento de Artes e Comunicação (DAC) da UFSCar, para divulgar o Festival para os alunos do curso de Imagem e Som, e aproveitamos para conversar um pouco sobre o preconceito que os curtas-metragens sofrem, os espaços dos curtas nas novas mídias e cinema universitário.

RUA: Você acredita que os curtas-metragens sofram algum tipo de preconceito?
Zita Carvalhosa : Acredito que exista preconceito sobre tudo o que não é conhecido, e penso que o curta sofra um preconceito mais pelo não-conhecimento do que pelo formato em si. Um exemplo, o Curta Petrobras às 6:00, no Espaço Unibanco, teve lotação todos os dias. O Festival Internacional de Curtas-metragens de São Paulo tem uma ocupação de sala que beira os 80%. As pessoas quando vêem curtas-metragens, normalmente gostam muito. O que acontece é que as pessoas são formadas com o tipo de cinema clássico, hollywoodiano, e até mostrar outras formas de cinema, leva um certo tempo. E também não existe muito star system no curta-metragem. Então, partindo da idéia de que o que é importante é o que está na mídia, o curta-metragem não está na mídia, então acaba sendo pouco conhecido por partes da sociedade. Do momento em que existe a circulação, o preconceito diminui. O cinema para internet, celular e Ipod é essencialmente feito em curtas-metragens, pois ninguém consegue ficar assistindo a um filme numa tela pequena, de um Ipod, por exemplo. Então acredito que os curtas estão em um momento de ascensão notável.

RUA: Como você vê o papel do YouTube na circulação dos curtas-metragens?
Zita Carvalhosa : O YouTube só tem curtas-metragens, e as pessoas adoram. O que acontece no YouTube de delicado é a não- troca, tudo é muito individual, é a velha questão da internet como um todo. Estamos testando, no site KinoOicos (http://www.kinooikos.com), ver como o filme é recebido, e perceber a reação coletiva dessa fruição. A circulação no YouTube é enorme, mas não existe uma identificação de autoria. Claro que existem as exceções, como o “Tapa da Pantera”, de Esmir Filho e Mariana Bastos, que lançou os dois no mundo com muito resultado. Não entendo muito sobre YouTube, mas o que sei é que você sempre procura por algo que já sabe que existe, e não necessariamente descobre novas formas. A nova geração está crescendo na frente do computador, com a internet, e cinema na internet é essencialmente curtas.

RUA: A televisão também poderia ser um espaço para essa circulação dos curtas, não?
Zita Carvalhosa : O curta ainda não ganhou a televisão, mas não é tanto pelo cinema de curtas. O cinema em si, no Brasil, ainda sofre muito para ter seu espaço na televisão. Temos uma televisão muito desenvolvida, que está se abrindo para as novas formas de cinema. As televisões precisam trabalhar mais com as produções independentes do audiovisual. Os brasileiros são super-alfabetizados no audiovisual, um exemplo é o trabalho que fazemos com as periferias. Fazemos oficinas com pessoas que tem formação de um dia teórico, um dia para aprender a trabalhar com a câmera, dois dias de gravações e um dia e meio para as edições. Os vídeos finais dessas oficinas são maravilhosos. Eles sabem mostrar suas imagens, suas realidades. Eles gostam de ver suas realidades na câmera.

RUA: Como você analisa os curtas universitários? Conhece algo sobre o curso de Imagem e Som?
Zita Carvalhosa : Algumas faculdades apresentam curtas muito elogiados. Vocês, estudantes de Imagem e Som, tem o privilégio de ter bons professores para conceituá-los. O vídeo que alguns alunos da Imagem e Som fizeram sobre o festival do ano passado ficou muito bom. Aqui em São Carlos, vocês tem uma coisa muito importante que é disponibilidade de tempo porque estão isolados dos grandes centros e suas demandas específicas, e então, precisam se dedicar, estudando nos 4 anos, formando uma bagagem conceitual muito boa. Acredito no cinema de universitário como um cinema de conceito. A vantagem da universidade pública é que vocês têm uma liberdade de se dedicar profundamente no curso. Nos primeiros anos de faculdade, é importante se dedicar ao curso, ao conceito, à procura. Não sei se é muito válida essa coisa de buscar estágio no primeiro ano, quando estudar é o essencial.

RUA: Tem alguma dica para os estudantes de cinema que pretendem se dedicar à realização de curtas?
Zita Carvalhosa : Assistam de tudo, desde seriados, novelas, bons programas na televisão até filmes clássicos e contemporâneos. E depois, conversem sobre o que foi visto, discutam sobre as formas e conteúdos vistos. Estudar sobre o que já foi feito é muito interessante, porque você sabe o que já foi realizado e, a partir daí, pode fazer referências em suas realizações, ou partir para outro lado, criando novas formas de expressão que ainda não foram mostradas, exploradas. Não adianta chamar um star system para atuar em seus filmes se vocês não têm um bom conteúdo, um bom roteiro preparado.

Por Jun Yassuda Júnior

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