MOSTRA SUA 4

 Por Henrique Rodrigues Marques *

Encerrando as atividades da 7ª SUA, aconteceu no auditório Florestan Ferndandes, no campus Gragoatá da UFF, o quarto programa de curtas da edição. Devido ao sucesso do fórum que ocorreu no mesmo local, e acabou se estendendo por mais algumas horas, a sessão agendada para as 14 horas teve que se iniciar as 16 horas.

O ciclo foi aberto pelo curta Carta aberta de Ricardo Myada, da USP. O curta intimista, definido pelo autor como uma vídeo-carta, consiste num apanhado de entrevistas com casais, todos amigos que Myada conheceu durante sua viagem a Bruxelas. Os depoimentos seguem caminhos tão diversificados quanto os idiomas do filme (quatro para 23 minutos de projeção), mas sempre com um tom espontâneo e acompanhados por uma câmera muito bem posicionada. O diretor parece tentar atingir o cerne da “intimidade” com suas perguntas mas, como o próprio reconhece em sua narração em off, o curta acaba antes que respostas sejam alcançadas; mas sobra uma inegável beleza.

Com uma proposta bem diferente, Farol de Diego Blanco de Amorim, aluno da UFRJ, também procura intimidade. Ou um retorno a ela. Em tempos em que fotos são feitas para serem postadas em redes sociais e a maior parte de nossa comunicação é feita com os dedos e não com os lábios, o curta acompanha um jovem que busca as experiências que não foram vividas e os diálogos que não foram ditos. Feito de forma sensorial, o curta encontra sua força em sua parte técnica. A fotografia e a sonorização sinestésicas estão constantemente procurando a claustrofobia, o desconforto e o senso de rotina que perseguem o protagonista.

Já em Tudo posso naquele que nunca aparece de João Arthur, da própria UFF, o espectador embarca em uma montanha-russa de alegorias e misticismo. Com estrutura não linear, o filme mescla imagens de um ritual religioso com uma conversa de bar. Em termos imagéticos a obra atinge o sublime em vários momentos, mas sua montagem é um tanto confusa e carece de algum senso de coesão. E além disso os 25 minutos de duração não se justificam e a obra acaba se repetindo.

Em seguida foi exibido o curtíssima Eu prefiro sem sementes de Marina Kerber da UNISINOS. Nos deliciosos três minutos de duração, a animação com ares non sense e estética kitsch arrancou gargalhadas da platéia e foi um dos pontos altos do programa. Infelizmente Kerber, que foi a única realizadora que não pôde comparecer a sessão, não estava lá para captar a comoção pública que causou.

Por último, fechando com maestria – tanto a Mostra 4 quanto a própria SUA – tivemos o delicado Amado de Will Domingos, também da UFF. No projeto pessoal, que não se declara nem como documentário nem como ficção, o diretor acompanha a busca de seu namorado, Leandro, por registros de seu avô, que foi poeta e nunca conheceu seu neto. Partindo da admiração do rapaz por esse avô idealizado, Domingos acaba fazendo uma linda declaração de amor para Leandro. Com sua câmera voyeur encantada – sempre muito perto, sempre na pele, sempre estimando o corpo do outro – o autor transmite com sutil esplendor a sua adoração pelo ser amado. Meio sem querer, aqui se encontra essa tão procurada intimidade. De encher os olhos e o coração.

Ao final da sessão foi realizado um debate com os realizadores presentes, que levantaram muitas questões entre eles mesmos, tornando a conversa ainda mais proveitosa. O espaço serviu para que Myada contasse mais sobre sua experiência de gravar em Bruxelas e os limites impostos pelo projeto em que participou (que exigia obrigatoriamente uma vídeo carta com voz off, sobre Bruxelas e feito em Bruxelas) e que João Arthur explicasse que a projeção de seu curta foi prejudicada, ficando mais escura do que o original, o que dificultou a compreensão de algumas passagens. Diego Blanco de Amorim falou sobre suas motivações na criação do roteiro e suas escolhas narrativas, ao passo que Will Domingos discorreu sobre as vantagens e os problemas de se captar um conteúdo tão íntimo. O público também participou bastante, e não se inibiu na hora de expor críticas aos realizadores.

Após a conversa os organizadores  fizeram um breve agradecimento, encerrando assim mais uma edição da SUA. Agora nos resta esperar por Recife.

* Henrique Rodrigues Marques é estudante de Imagem e Som e editor geral da RUA.

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