Por Fernanda Sales Rocha Santos*
Um dos principais intuitos das Semanas da Imagem e Som (SeIS), ao longo de suas treze edições, é promover o debate e a reflexão sobre o audiovisual através do contato direto com a produção contemporânea. A conversa com realizadores é, na maioria das vezes, uma forma fecunda de conhecer e aprofundar modos de fazer e pensar o audiovisual na atualidade, tanto para estudantes da área quanto para interessados em geral. Nesta quarta-feira, 24, a SeIS.13 trouxe para São Carlos-SP, em uma sessão no Cine UFSCar, o último lançamento da longa parceria entre Beto Brant e Renato Ciasca, o longa-metragem “Eu Receberia as Piores Noticias de Seus Lindos Lábios”. Junto com a exibição da película 35 mm houve debate com os dois diretores após a sessão – vale ressaltar que a atividade foi gratuita.
O amplo anfiteatro Florestan Fernandes não demorou a ser ocupado por um público diversificado: estudantes do curso de Imagem e Som, estudantes de outros cursos da Universidade Federal de São Carlos, professores da universidade e pessoas de fora do âmbito universitário. O número de espectadores foi alto para os padrões de uma sessão cineclubista. A projeção começou sem atrasos. De saída, uma coisa incomoda no filme: os personagens têm parte de suas cabeças cortadas do quadro. Deu para notar que os enquadramentos, às vezes, eram bastante justos na parte superior, sem grandes “folgas”. Talvez um desajuste na janela tenha intensificado tal impressão na hora da projeção. Todavia, o filme não demora a tomar seu público pela sua narrativa instigante, de forma que logo esse “desajuste” passa a parecer natural.
O filme, baseado em um livro de Marçal Aquino, conta a história de Cauby, um fotógrafo que vive e trabalha em uma pequena cidade no interior do Pará. Ele envolve-se com Lavínia, mulher de um influente líder religioso. Com um cenário pontuado por um contexto político conturbado, a luta das populações ribeirinhas contra os abusos do agronegócio, o aparente triangulo amoroso desenvolve-se. O filme traz personagens densos e, nesse sentido, a relação que se estabelece entre eles é um ponto forte do longa. Por outro lado, torna-se questionável a questão da política, se houve intenção na trama de trabalhá-la de forma mais essencial, mais do que um cenário. Nesse ponto, a conversa com os realizadores expandiu o filme para outros rumos.
Ainda não finalizada a exibição, enquanto os créditos subiam, o público aplaudiu com entusiasmo a experiência. Acenderam-se as luzes e Beto e Renato se dirigiram ao debate. Os diretores foram muito receptivos e pareciam animados com a oportunidade. Trataram de temas como a relação entre a obra literária e a cinematográfica, o processo de produção peculiar de algumas produções da parceria e o trabalho com os atores. Quando questionados sobre como era “dividir” a direção de um longa-metragem, responderam que não dividiam, e sim “somavam”. E dessa forma o debate se deu: os dois somando suas falas.
A curiosidade relativa à produção do filme exibido pareceu conduzir a conversa. No bate papo ficou claro que os dois mergulham em um processo intenso quando estão ainda na época de pesquisa e escritura do roteiro. No caso do último longa, eles viajaram para o interior do Pará, levaram os atores e técnicos, e experimentaram um pouco do universo que queriam contar e construir. Uma informação muito curiosa é relativa ao cronograma de filmagem que seguiu a ordem de cenas do roteiro. Escolha que ajudou em demasia o trabalho dos atores e a continuidade. Segundo os diretores, devido um elaborado planejamento essa escolha não acarretava gastos mais altos. A atuação da atriz Camila Pitanga também chamou atenção do público e os realizadores comentaram sua contribuição. Aparentemente eles deixam espaço para a criação do ator e também dos técnicos. Outro momento interessante foi quando foram questionados a respeito da representação das cenas de sexo, nas quais ocorria uma forte exploração “da beleza” do corpo feminino e, talvez, uma falta de interesse no corpo masculino.
Foram muitas e diversas as questões levantadas, o debate, desta forma, se deu pleno. Tendo em vista a dificuldade de uma significativa parte do cinema brasileiro contemporâneo em chegar a São Carlos através do circuito comercial, esse tipo de evento é uma iniciativa fundamental que deve se perpetuar e multiplicar.
*Fernanda Sales Rocha Santos é graduanda do curso de Imagem e Som da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e é Editora Geral da Revista Universitária do Audiovisual.
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