Abertura da SeIS.13 – III Mostra SeIS de Curtas Metragens: Audiovisual na Rota

Por Thiago Jacot*

Segunda-feira, dia 22. Me parece que pronuncia-se uma espécie de tradição nas aberturas das Semanas da Imagem e Som. Neste ano, na 13ª edição, contamos com a III Mostra SeIS de Curtas Metragens: “Audiovisual na Rota”. Veja, a acepção aqui utilizada da palavra tradicionalidade nem de longe refere-se ao cunho negativo ou mesmo à práticas conservadores. Pelo contrário, é extremamente positivo e bem-vindo. A ocasião da mostra é uma de muitas oportunidades para entrar em contato com o que coletivos, realizadores ou estudantes de cinema e audiovisual estão produzindo pelo país. Além disso, proporciona a experiência coletiva do cinema. De ir ao cinema, assistir e sair de lá debatendo os afetos e os desafetos da sessão.

Abertura SeIS.13 e III Mostra SeIS de Curtas no Cine São Carlos

No histórico da SeIS já aconteceram mostras paralelas e temáticas. Porém, digamos que a prática de tornar uma mostra oficial, baseada em um edital e uma curadoria, cujo cerne temático fosse o mesmo daquele que norteou a organização da semana, de fato nasceu na edição de 2011. Em 2011 tivemos a I Mostra SeIS de Curtas Metragens “Olhares do Brasil”. No ano seguinte, na edição de 2012,  a II Mostra teve a temática “Olhares do Medo”. Em 2013, como escrito acima, é a vez do “Audiovisual na Rota”.

Neste ano, a III Mostra aconteceu no Cine São Carlos, um tradicional cinema de rua, que diga-se de passagem é nosso. Nosso porque é um patrimônio público, administrado através de uma concessão. Dessa forma, temos o primeiro deslocamento: a ocupação de um espaço público. É importantíssimo reconhecer tal postura da organização para levar o audiovisual para outras esferas que estejam fora da universidade. É um evento organizado por alunos do curso de Imagem e Som que, contudo, pretende-se também envolver a comunidade acadêmica e a população da cidade de São Carlos. E temos que ocupar nossos espaços públicos culturais, de relevância artística e de lazer. Foi muito prazeroso ver o cinema relativamente cheio, com públicos diversos.

A semana tem a temática “Na Estrada do Audiovisual”. O primeiro impulso é pensar na relação direta que o evento teria com  o gênero “road movie”, os famosos filmes de viagem, nos quais parte-se de uma premissa de deslocamento geográfico, de estar na estrada, viajando e passando por experiências inusitadas. Neste caso, a verdadeira viagem demonstra ser a de transformações individuais, pessoais e, sobretudo, emocionais. O que se refletiu nos filmes.

A curadoria teve a preocupação de selecionar filmes para compor uma grande viagem em vários sentidos. Assistimos filmes que correspondiam ao road movie como o empolgante “Rastros e Pegadas pela Estrada Real”. Mas também viajamos ao Acre através de uma premissa muito interessante da visão de um nativo do estado e uma turista no documentário “Tua Existência, Minha Voz”. Passamos pelas viagens internas, psicológicas, que profundamente transformam a vida das pessoas, como no caso do sensível documentário “Codinome Beija-Flor” sobre a vida de pessoas com AIDS.

Em uma parada, tivemos o pit stop para um pouco de delíro em “O Método” e “Quinquilharia”, assim como uma viagem interna em “Aminióptica” e “MOKSHA”, sendo estes dois últimos os que eu gostaria de apontar como os mais criativos da noite. Por fim, chegamos até a lua com uma animação, “Para Chegar até a Lua”.

Cine São Carlos

A minha percepção é a de que a mostra pode ser depreendida em dois movimentos distintos. O primeiro, o mais problemático, a partir de uma perspectiva universitária que sofre de um problema de dramaturgia. Na maioria das vezes, salvo raras exceções, as tramas (leia-se distintas formas de narrativa através de imagens) são mal construídas ou mesmo o experimentalismo que cai em um preciosismo estético infundado. Estendendo ainda para o problema que existe com atores nos filmes. Diálogos mal construídos, atores mal dirigidos, enfim, a universidade é e pode ser aproveitada como espaço de aprimoramento técnico e estilístico dos realizadores. Um segundo movimento, são dos filmes que nos proporcionaram “viagens” para vários universos, e que realente nos transportaram para um novo local fílmico, como “Aminióptica” e “MOKSHA”.

Espero que essa iniciativa continue com os anos seguintes. É muito proveitoso escutar as pessoas saindo da sessão e discutindo os filmes, o que gostaram e não gostaram. Para mim, é a abertura de uma semana como a SeIS em grande estilo. A SeIS começou e promete ter ainda muito mais por vir. Vida longa à SeIS, vida longa às mostras.

*Thiago Jacot é graduando do curso de Imagem e Som da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e editor geral da Revista Universitária do Audiovisual.

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