FEMINA – Festival Internacional de Cinema Feminino

Sendo realizado desde 2004, o FEMINA – Festival Internacional de Cinema Feminino, tem como proposta estimular e valorizar o trabalho de mulheres no meio cinematográfico. Sediado desde a primeira edição na Caixa Cultural da cidade do Rio de Janeiro, o festival tem possibilitado o contato do seu público com obras de diretoras do mundo inteiro.
Nessa sexta edição foram exibidos 95 filmes entre curtas, médias e longa-metragens, originários de 25 países. As obras eram exibidas em duas mostras competitivas: Internacional para longas e curta-metragens e Brasileira de Documentários. Completava a grade de programação as mostras Masculino-Feminino (obras com temática feminina, mas feitas por homens), Eu Gosto É de Mulher (filmes gays), Dividindo a Conta (co-direção entre homens e mulheres), Enquadrando Eles (documentários de realizadoras sobre realizadores), Experimental e Infantil. Esse ano o FEMINA apresentou também um bloco especial com filmes que passaram no Films de Femmes de Créteil et du Val de Marne, referência em festivais de filmes feitos por mulheres.

A abertura aconteceu no dia primeiro de junho no Cinemaison, com a exibição do filme Stella, de Sylvie Verheyde. Vários espectadores só ficaram sabendo de tal evento dia 05/06, quando o catálogo do festival foi distribuído. O site também não disponibilizou a informação, deixando dúvidas em quem o acessava, uma vez que no link da programação constava a data do dia 02 ao dia 07 de junho, enquanto a página de abertura indicava “01 a 07 de junho”. O atraso na entrega do catálogo também fez com que o público se informasse tarde demais sobre duas mesas de debates ocorridas em espaços alheios a Caixa Cultural.
No segundo dia do festival, a programação regular que se estenderia até o dia 07/02 começou. Na mostra Masculino-Feminino, os destaques positivos foram os curtas Dossiê Rê Bordosa (de César Cabral) e Os Sapatos de Aristeu (de René Guerra), já conhecido pelos frequentadores de festivais.
Na mostra competitiva de Documentários Brasileiros a obra A Casa do Mortos, da Débora Diniz, impressiona pelo respeito com que trata seus personagens e pela liberdade de criação que dá a eles, o que garantiu a realizadora uma Menção Especial do Juri. Para Limpar Lágrimas, Paulo Leminski, de Cristina Miranda, demonstra domínio apurado da linguagem poética audiovisual. A qualidade dos filmes, porém, variava de um extremo ao outro. Alguns documentários não apresentavam o menor cuidado com técnica ou linguagem. Imagens deformadas, estouradas, granuladas, sem que a linguagem as justificasse, eram frequentes.
Já na mostra Internacional, o curta Corte Seco, de Firouzeh Khosrovani que ganhou o prêmio do FEMINA de Melhor Diretora de Curta-Metragem, trabalha com as representações do corpo feminino no Irã. O Fogo, o Sangue, as Estrelas, da francesa Caroline Deruas, vale a pena ser citado pela fotografia cuidadosa em preto e branco e pela sutileza com a qual coloca seus questionamentos. 26.4 de Nathalie André, eleito o Melhor Curta-Metragem do festival, constrói as sensações da personagem através de uma articulação atenta das imagens, dos sons (muito bem trabalhados) e da expressão corporal da atriz. SuperBarroco, único representante brasileiro na Quinzena dos Realizadores de Cannes, dirigido por Renata Pinheiro, também estava presente. Infelizmente problemas na projeção prejudicaram vários filmes, independente da mídia usada. As legendas atrasavam ou adiantavam com frequência, os DVD´s granulavam às vezes e houve o caso de colocarem um rolo de película invertido.
Sobre os longas, também da Mostra Internacional, o choque trazido por Canção de Baal, da Helena Ignez, foi grande. De acordo com a própria realizadora, presente no festival, o filme trata de “machismo, Brecht e metafísica”. A linguagem, bastante singular, exige muito mais uma entrega sensorial do que um esforço racional do espectador. Uma Semana Sozinhos, da argentina Celina Murga, ganhador de Melhor Longa-Metragem do FEMINA, trata do tédio. É difícil não relacionar o filme com a obra de Lucrécia Martel: o relacionamento intenso entre familiares (nesse caso, só crianças) e a tensão latente são elementos a partir dos quais o filme se constrói. Sete Instantes, de Diana Cardozo, que recebeu o prêmio de Melhor Filme de Estudante, é um documentário mexicano sobre mulheres integrantes do grupo guerrilheiro uruguaio Tupamaros. Um “talking heads” de qualidade, onde o foco está na experiência pessoal por trás da vivência política.
O mostra especial do festival Films de Femmes foi excepcional. O curta Oh, My God!, de Anne Sewitsky, fala de orgasmos com um humor apurado e roteiro bastante preciso. Para tratar sobre problemas de comunicação e a imigração para a Inglaterra, Taxi Wala, de Lola Frederich. Além da animação-documentário Passagens, de Marie-Josée St-Pierre que reconstrói um parto negligenciado pela equipe médica num hospital do Canadá.
Na premiação estavam presentes realizadoras de vários países. Além dos prêmios citados através do texto receberam também Anna Azevedo, Melhor Direção de Documentário por Dreznica; Cocais, a cidade Reinventada, Melhor Documentário; Connie Walther, Melhor Direção de Longa-Metragem e Kara Blake, Destaque Feminino como diretora do A Moda Deliana.
Os sete dias de festival ofereceram uma overdose de filmes feitos por mulheres, nem sempre filmes “femininos” e muito raramente filmes feministas. As conversas com as realizadoras e os debates poderiam ter maior relevância na programação.
A proposta poderia ser melhor aproveitada se a curadoria fosse um pouco mais rigorosa. Questionada sobre isso, Paula Alves, diretora do FEMINA junto com Eduardo Cerveira, respondeu dizendo que a qualidade do festival depende da qualidade dos filmes enviados. Mas permanece a dúvida: não seria melhor menos filmes que fossem escolhidos com um critério mais rigoroso? A curadoria não deveria ter o poder de decidir em prol da qualidade do festival? A divulgação também deveria ser mais eficiente e as falhas na projeção deveriam ser sanadas por respeito ao trabalho das realizadoras que confiam sua obra ao festival.
Apesar das falhas, o FEMINA está cumprindo o seu papel de estímulo da produção audiovisual por mulheres e disponibiliza o espaço para a exibição dos filmes, além de abrir a discussão sobre as relações entre gêneros e cinema, o que já tem uma importância considerável. No entanto, a reflexão deve ser estimulada durante o festival e continuada fora dele.

Bárbara Felice é graduanda em Cinema e Vídeo pela Faculdade de Artes do Paraná (FAP)

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Este post tem um comentário

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    tibiriçá da costa

    por favor avisem data das inscrições para o festival 2011 de voces,pois minha amiga e diretora executiva vai me matar,e voces não querem isso,
    tibiriçá da costa

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