Rebobine, por favor (Michel Gondry, 2008)

Filme Suecado de Gondry

Por Vivian Macedo*

Faltei ao trabalho para ver Rebonine, Por Favor e sabia que ia valer a pena. No Festival do Rio de 2007 o melhor filme que vi foi Sonhando Acordado, também de Michel Gondry. Esperava que esse novo fosse tão bom quanto (mesmo tendo a desvantagem de não ter Gael Garcia Bernal, galã de 1,60 de toda cinéfila cult).

O novo filme estava na competição de sinopses mais exóticas: Certo dia, Jerry (Jack Black), mecânico atrapalhado, tem o corpo magnetizado e destrói acidentalmente todas as fitas de vídeo da locadora onde seu amigo Mike (Mos Def) trabalha. Para garantir a sobrevivência da loja, os dois arranjam uma solução alternativa: filmarem remakes das fitas. Suas inspiradas versões fazem enorme sucesso na vizinhança, que encomenda todo tipo de filme, de King Kong a Rei Leão.

Confesso que a história tem fantasia e absurdo. Principalmente no começo em que você confunde o filme com uma “aventura imperdível da Sessão da Tarde”. Mas, ainda bem, o filme surpreende, assim como “Sonhando Acordado”. Os atores, especialmente Jack Black, se encaixam perfeitamente no papel. Isso só prova minha teoria que nenhum ator é ruim se o diretor sabe o que fazer com ele (vide Vin Diesel em O Resgate do Soldado Ryan, provando que Spielberg é realmente um bom diretor).

O filme melhora quando os dois protagonistas precisam filmar o primeiro remake, que é de Ghost Busters. As piadas obviamente ficam muito melhores para alguém que conhece o filme, mas acho que é engraçado de qualquer maneira. Não é um engraçado besteirol, que se aproveita de outro filme para piadas patéticas (se você não reconheceu, estou falando de Scary Movie). Michel Gondry faz piadas com mais elegância e sutileza.

A partir desses remakes, que eles chamam de filmes “suecados” (é, inspirado na Suécia mesmo), o filme é uma homenagem a diversos títulos famosos. E, principalmente, um aviso que, para fazer um filme legal, basta uma câmera e muita imaginação. Michel Gondry lembra que filmes caseiros podem ser mais interessantes que os hollywoodianos. Filas de pessoas procuram os remakes, pagam caro por eles e recomendam depois.

Claro que hoje é muito fácil: é fazer um filme, colocar no YouTube e ele pode ser (ou não) um sucesso. Ninguém precisa nem pagar para ver. Um exemplo é o curta Laços de Flávia Lacerda que foi visto por 973.629 pessoas. Se esse número fosse bilheteria, ele seria o terceiro filme nacional mais visto de 2007 (atrás de A Grande Família e Tropa de Elite). Rebobine Por favor mostra que fazer um filme legal e de sucesso é relativamente simples, os protagonistas fazem filme de trinta minutos em uma tarde.

Para entender o clima do filme, veja esse vídeo abaixo. Recomendo porque é engraçado ver pelo menos Michel Gondry e seu sotaque francês.

“Rebobine Por Favor” também fala da superação do antigo VHS, como dá para entender pelo título. Engraçada essa escolha, pois acho que, hoje em dia, é mais fácil fazer um filme numa câmera digital ou até com um celular. Acho que o Gondry queria dar um estilo retrô no filme. E também não funcionaria a história do magnetismo apagando DVDs… Tinha que ser uma locadora de VHS mesmo.

Ao terminar o filme, diversas pessoas na sessão bateram palma. Acho que elas estavam tão felizes que acabaram sendo ridículas a esse ponto (eu acho ridículo, faria sentido só se o diretor/ator/produtor/maquiador estivesse na sessão). Se o Michel Gondry estivesse lá, aí eu bateria palmas, beijaria o sapato sujo dele e entregaria um troféu. Afinal, ele foi bicampeão, é o segundo ano consecutivo que ele fez o melhor filme do Festival do Rio.

*Vivian Macedo é graduanda em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

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