Filmfest Hamburg 2011

por Laura Teixeira* 

 

O Filmfest Hamburg (Festival de Cinema de Hamburgo, Alemanha) aconteceu de 28 de setembro a 08 de outubro de 2011, mostrando 151 filmes, todos inéditos em telas alemãs. O Festival chega à sua 19ª edição com a missão de garantir a diversidade cinematográfica através da exibição de filmes de todos os continentes, muitas vezes com poucas chances de serem vistos por aqui.
Não apenas a diversidade de filmes exibidos é importante, mas também o fato de serem mostrados em seu idioma original. É preciso saber que a maioria dos cinemas comerciais na Alemanha (como em outros países da Europa continental) exibe filmes dublados, mesmo para o público adulto. Mesmo assim, cerca de 40.000 pessoas participaram do evento no ano passado, número que, de acordo com a organização, deve ser ainda maior após a contabilização da edição 2011.
Apesar de ofuscado no cenário internacional pela grandeza e importância do maior festival alemão, a Berlinale, o Filmfest Hamburg parece ter estabelecido com a indústria e com o público local uma certa fidelidade. 

Hamburgo é a segunda maior cidade da Alemanha e tem uma importante atividade portuária além de, mais recentemente, ter se destacado por abrigar importantes empresas de comunicação e audiovisual. Isso também ajuda com que o Filmfest Hamburg seja um importante ponto de encontro da indústria cinematográfica. Produtores, diretores, distribuidores e programadores de outros festivais aproveitam os dez dias do evento para fazer contatos e se atualizar. 

Fachada do Abaton Kino

 

As sessões se espalham por seis locais de exibição da cidade – do alternativo cinema de bairro B-MOVIE ao grandioso e comercial multiplex Cinemaxx Dammtor. 

Cinema comercial multiplex Cinemaxx Dammtor

 

No meio termo, temos, por exemplo, o elegante Passage Kino e o Abaton que, com suas três salas e uma programação anual de filmes “de arte” garante também sua posição como sede e centro de atividades durante o Festival.
A programação é dividida em diversas seções temáticas. Nesta edição, novos temas estavam em destaque como “Islândia”, “Paris” ou “Música”. Além disso, outras seções destacavam filmes do norte da Alemanha, documentários sobre meio-ambiente, atualidades francófonas, filmes para televisão, cinema infantil, entre outros.
Entre essas categorias, destacamos “Vitrina”, criada desde 2006 para reunir a programação em língua espanhola e portuguesa. Esta seção, com curadoria do argentino Roger Alan Koza, mostrou esse ano um recorde de participações, com treze filmes ibero-americanos. 

A maior parte deles eram argentinos: Las Acacias, De caravana, En el futuro, El estudiente e Yatasto. Mas também tivemos representantes do Paraguay (Novena), Espanha (Las olas), México (Paraísos artificiales, Vete más lejos, Alicia), Chile (Música campesina), Venezuela (El misterio de las lagunas, fragmentos Andinos) e, finalmente, dois brasileiros: Riscado e Trabalhar Cansa.
Esses últimos foram apresentados pelo programador como duas “exceções” em uma safra fraca para o cinema brasileiro, que tem se destacado mais por documentários do que por filmes de ficção. Essa afirmação pode ser longamente discutida, mas, na prática, entre uma extensa programação internacional, as sessões dos filmes brasileiros não foram as mais concorridas. E uma parte do público presente era visivelmente de compatriotas interessados em saber o que está sendo produzido na terrinha, e não de alemães dispostos a conhecer nossa cinematografia.

 

Brasileiros em Hamburgo
Riscado (2010) é um belo conto de fadas da vida moderna, uma luta pela atividade artística e quase uma declaração de amor a profissão de artista. A parceria entre o diretor Gustavo Pizzi e a atriz (e co-roteirista) Karine Teles é de uma sensibilidade que nos faz entrar no mundo da personagem Bianca de uma forma muito especial. Não é à toa que Karine Teles foi recompensada com o prêmio de melhor atriz no Festival do Rio de 2010.
Já o mundo criado por Juliana Rojas e Marco Dutra  em Trabalhar Cansa (2011)  alterna entre o surreal e as banalidades do cotidiano. O longa de estreia da dupla formada em cinema na ECA-USP segue a linha de seus curtas-metragens anteriores, como Um Ramo (premiado no Festival de Cannes na Semana Internacional da Crítica em 2007).
Essas duas obras, aliás, são exemplo de uma tendência observada na seleção do Festival desse ano: a forte presença de diretores em seu primeiro longa-metragem. De acordo com a programadora geral, Kathrin Kohlstedde, não se trata de uma política específica da programação, mas de uma “coincidência” entre os filmes inscritos e convidados para essa 19ª edição. 

Vários desses diretores inclusive estiveram em Hamburgo para apresentar seus filmes no Festival. Uma das convidadas foi a iraniana Marjane Satrapi, mais conhecida pelo sucesso de Persépolis (Prêmio do júri no Festival de Cannes 2007) que veio apresentar sua segunda aventura cinematográfica – e primeira adaptação em live action de suas histórias em quadrinhos – Frango Com Ameixas (2011).
Apesar de não ter um caráter essencialmente competitivo, o Festival promove uma solenidade de encerramento com a distribuição de nove prêmios por parceiros. Um deles foi a Confederação Internacional de Cinema de Arte (CICAE), cujo júri premiou o longa canadense Monsieur Lazhar (2011) do diretor Philippe Falardeau – que também teve a honra de ser o filme de encerramento desta edição 2011.
A 20ª edição do Filmfest Hamburg acontecerá de 27 de setembro a 6 de outubro 2012 e, para citar o slogan do Festival: “Não perca!” 

Mais informações: www.filmfest-hamburg.de 

Laura Teixeira é aluna do mestrado em Informação e Comunicação da Universidade de Liège – Bélgica.

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Este post tem 2 comentários

  1. Author Image
    Koza

    Thanks; I do like what you have written on Hamburg and on Vitrina. I would like to discuss about Brazilian fiction features: Where are the good titles in 2011, according to you? Roger Koza.

  2. Author Image
    Laura Teixeira

    Hi Koza, thanks for your comment!
    Actually what I understood from your presentation was that you were talking about the brazilian fiction in recent times. And there I would mention for example the films from Karim Aïnouz, or even “É Proibido Fumar” from Anna Muylaert. But concerning only 2011 than maybe you are right, and I’m glad I got to see those films in the Vitrina program!
    Hope to see you in Hamburg next year!
    Cheers,
    Laura

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