Wim Wenders Sabatinado

Depois de quase meia-hora de atraso e uma longa apresentação começa a sabatina a Wim Wenders no auditório do MASP. Na mesa, dois repórteres nervosos da Folha e Walter Salles, admirando o ídolo.

Wenders fala de quase tudo: Brasil, Hollywood, cinema Europeu, diretores marcantes, cinema na internet e como ser um cineasta aos 14 anos.

A primeira pergunta é sobre as vindas do diretor ao Brasil, que revela que sua fixação pelo país começou quando ainda novo, graças a Niemeyer. Wim Wenders revela que seu quarto era preenchido por completo com desenho do arquiteto brasileiro. Sobre fazer um filme no Brasil ele declara seu amor por Brasília e aponta um de seus métodos: o diretor não produz histórias, espera que as coisas as revelem seus contos. Como de costume, ao falar do cinema brasileiro, Glauber Rocha foi o alvo dos elogios, pela liberdade interpretativa e pela abertura de seus trabalhos.

Todo sorridente e caloroso, Wenders revela suas influências cinematográficas. Anthony Mann, que pela primeira vez, ao longo de suas tardes na cinemateca francesa, fez com que ele entendesse o processo de como fazer um filme. A rigidez estética e técnica de Mann encantaram Wenders, fazendo com que ele se envolvesse no processo e desistisse da carreira de artista plástico. A outra influência, que apareceu em Nova York após quatro longas já executados, foi Yasujiro Ozu, com Tokyo Story. Wenders fala também, agora mais sério, sobre a ausência de um pai para o cinema de sua geração na Alemanha devido à presença ainda fresca da propaganda nazista, deixando para Lang o papel de um avô perdido no máximo.

Sobre estilo de produção o diretor conta, rindo, que escreve roteiros falsos para conseguir financiamento, como em Paris, Texas por exemplo. Destaca o prazer em ter liberdade para filmar sem um planejamento fixo, agregando ao longo do processo a história ganha pelos personagens retratados. Questionado sobre “Road Movies” comentou com Walter Salles (pareciam amigos conversando ao longo da sabatina) sobre a vantagem de filmar de maneira cronológica e de poder agregar novas informações ao longo do processo.

Quando falou de tecnologia, Wenders mostrou ter uma visão muito tranqüila e embasada sobre o assunto. Disse que, ao contrário dos pessimistas, não crê que as salas de cinema vão sumir e salientou de maneira brilhante a diferente relação que se estabelece com um filme quando ele é visto em DVD, se tem mais informações, o filme se torna mais seu. Falou para um garoto de 14 anos com sonhos de cineasta que com uma câmera digital e um conhecimento básico de edição já se pode começar, é só colocar os amigos para atuar que pequenos filmes nascerão ao final do processo.

Sobre filmes na internet teve uma opinião dividida. Apontou a vantagem de que mais pessoas poderão ver os filmes, levando as mensagens desejadas mais longe, mas disse também que isso pode tornar alguns filmes financeiramente inviáveis. Deixando claro também que as mudanças de tecnologias são inevitáveis e que o uso de meios analógicos deve diminuir cada vez mais.

O público questionou sobre novos talentos e Wenders declarou seu interesse por filmes com conteúdos únicos, em que se percebe a cultura do povo que o realizou, citando inclusive Central do Brasil, de W. Salles, sentado ao lado. Disse que se um filme não se declara rapidamente ele logo perde o interesse e quando questionado sobre quais filmes abandonou ultimamente, disse, quase diplomaticamente, que não agüenta filmes em que a violência não se justifica.

Em tom de conselho de alguém que já passou pela experiência Wenders disse que o conceito de cinema Sul-americano deve ser criado para que este sobreviva, para manter sua unidade, assim como fez o cinema Europeu.

Wenders foi atencioso durante toda a sabatina, ao ser questionado pelo público, que enviava as perguntas em papéis, fazia questão de saber quem perguntava para responder olhando para a pessoa. Sempre desajeitado, Wenders enroscava o fone da tradução simultânea no cabelo cada vez que o tirava para responder as perguntas. O fone quebrou no meio do caminho. Para encerrar, Wenders foi presenteado por Walter Salles com o filme São Paulo S/A e recebeu uma longa salva de palmas, o diretor saiu sorrindo do palco cercado por seguranças.

Felipe Abreu

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