“ExclamAção”*
Por Iuri Leonardo dos Santos**
“Caçando Ratos”, uma co-produção Equador e EUA dirigida por Vero Shamo-Garcia, trata de dois irmãos que são recrutados por um grupo guerrilheiro para participarem do treinamento militar em plena selva, e que acabam passando por situações limite.
O filme retrata, a meu ver de forma correta, a banalização da violência, mais crítica ainda em se tratando de crianças. Por vezes vemos jovens armados participando da execução de companheiros tidos como traidores, os “ratos” – daí o nome do filme. Desse modo, a câmera na mão relata cenas fortíssimas, que deixam a todos, e me refiro à minha reação e daqueles que assistiram à sessão, perturbados, aliás, incomodados.
Vale ressaltar, ainda, a premiada atuação da protagonista feminina, que emociona a todos com a sua força interior, exatamente com as lágrimas que teimam a vir. Belíssima.
Entretanto, é seu claro tom maniqueísta que julgo problemático. Não pelo fato dos guerrilheiros não se valerem da extrema violência e crueldade até e, muitas vezes, do recrutamento forçado e à força, fatos concretos, mais por essa forçada caracterização (tidos inclusive como pedófilos/estupradores na obra, pendendo à generalização) em prol talvez de uma ação engendrada pelos EUA, parceiro na produção, em sua política de combate aos grupos guerrilheiros na América Latina, com nuances tão mais complexas do que o senso comum nos diz.
Enfim, trata-se de um filme complexo, de temática delicada e que vai visceralmente de encontro ao tema desse ano do festival: Política Viva! Que “exclama ação”. Que exclama discussão.
**Iuri Leonardo dos Santos é graduando em Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)
* Resenha sobre o filme da Mostra Latino-Americana 4 “Limpiando Sapos” (Vero Shamo Garcia, Equador/Eua, ficção, 13′,cor, Beta SP, 2007), publicada no Tablóide Crítica Curta do Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo, projeto do qual o redator-editor fez parte.