MOSCA 8 / Dia #3 – Mostra Internacional II

*Por Lidiane Volpi

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A segunda mostra ocorrida na noite de sexta -feira, cedeu espaço para a segunda edição da mostra internacional que ocorre este ano na MOSCA. Os filmes, muito bem escolhidos pela curadoria da mostra, foram capazes de comover o tradicional público que frequenta as sessões do evento. Versando acerca de perdas, envelhecimento e a perenidade da vida humana, os curtas apresentaram um bom repertório de filmes que falavam de laços, principalmente os familiares.

O primeiro filme, Do que Riem as Hienas?, do espanhol Javier Veiga, exibe a história de um casal no dilema de ter filhos ou não, de forma muito bem humorada. Famílias que mais parecem provir de um comercial de margarina fracassado, invadem a casa do casal tentando cooptá-los a não aderir a maternidade. O próprio marido – como já é clichê nos filmes do estilo, onde o papel maternal tenta sempre se sobrepor – é contra a chegada de uma criança na vida do casal. Mas como o filme é uma tradicional comedia romântica, tudo termina bem – e com um bebê.

Revés, filme que veio em seguida, é uma co-produção entre Espanha e Peru realizado pelo diretor  Gonzalo Perdomo. O curta, em pouco mais de 8 minutos, conseguiu criar o terreno do humor e desconstruí-lo ao final. Durante boa parte do tempo, vemos a saga do protagonista e o discurso que usa para conseguir comprar um caro tecido utilizado para confeccionar ternos. Rimos com a sua engenhosidade em conseguir o tecido. Este estado é quebrado quando, em um plano plasticamente bem construído, vemos o personagem principal, agora no papel de filho, tirar as medidas do pai acamado. As inferências que então provém desta cena demonstram o excelente trabalho de roteiro que o curta teve.

A seguir viera o único filme que destoou da temática da mostra, mas que, ainda assim, mostrou-se uma bem sucedida escolha por parte dos curadores. Luminaris, dirigido pelo argentino Juan Pablo Zaramella, conta a vida de pessoas inseridas em uma sociedade futurista fortemente automatizada. O sonho do protagonista, que cospe lâmpadas em uma fábrica, é fugir daquele local. Seu desejo torna-se real quando é despedido por furtar diversos moldes utilizados para fazer as lâmpadas, e,  amparado por uma colega, consegue construir um balão que leva os dois através da cidade cinza. 

Os dois últimos filmes da noite foram categóricos em explicitar questões de perdas parentais. O primeiro dos dois a ser exibido, Está em Seus Olhos, de Sergio García Locatelli e Sean Schoenecker, narra sob imagens de arquivo, cartas escritas por um filho a um pai que fora tirado de sua presença muito cedo, através de uma fatalidade não descrita, mas fácil de presumir. O belíssimo curta espanhol, Meu Olho Direito, do diretor Josecho de Linares, conseguira comover a platéia Cambuquirense, tal qual o filme que o antecedeu. O curta conta a relação entre avó e neto que, com o passar dos anos, se distanciam. Há espaço para um singelo adeus, ao qual termina em chuva de pipocas coloridas, preferência do protagonista na infância, bem como as balas, a casa e a companhia da avó.

Quando as luzes foram acesas e o debate iniciado, a emoção causada pelos curtas era evidente, tanto na voz embargada quanto nos mais variados depoimentos que as obras suscitaram. Dentre análises estéticas e narrativas, prevaleceu a memória de quem tem ou teve avós, pais distantes, parentes enfermos. Vale ressaltar, mais uma vez, o excelente trabalho de curadoria exercido pela organização da 8ª Mostra Audiovisual de Cambuquira.

*Lidiane Volpi é estudante de Imagem e Som na Universidade Federal de São Carlos e editora da RUA.

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