Mostra Quadro a Quadro

Por  Fernanda Costa, Fernanda Sales Rocha Santos, Mauricio Minoru Iwaoka e Nayton Barbosa*

Durante os dias 1, 2 e 3 de agosto foi realizada, em São Carlos, a Mostra Quadro a Quadro, no Teatro Municipal Alderico Vieira Perdigão. Durante o evento ocorreram oficinas, mostras e atividades ligadas ao cinema de animação, buscando difundir esse tipo de produção ao público, através do contato com trabalhos premiados, oficinas de técnicas variadas, aulas e atividades com animadores brasileiros renomados.  O projeto contou com o apoio do Fundo Municipal de Cultura, da Prefeitura Municipal de São Carlos e com a parceria da RUA.

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Encerramento da Mostra Quadro a Quadro

1° Dia:

Circuito Escola

A atividade “Circuito Escola”, no primeiro dia da Mostra Quadro a Quadro proporcionou a várias crianças, que compareceram ao evento com suas escolas, o contato com curtas-metragens de animação em sessões fechadas para esse público. Além disso, as crianças, em sua maioria da 5º série do Ensino Fundamental, tiveram a oportunidade de exercer o contato com duas técnicas de animação: o Pixilation e o Stop Motion. Esse público mirim podia também se aventurar na prática da produção de pequenos curtas de animação. Com o auxílio de monitores, as crianças animavam objetos de massinha no stop motion e criavam diversas histórias no pixilation. O resultado das oficinas do circuito escola foi exibido no último dia da mostra, na sessão de encerramento.

Oficina de Pixilation:

Oficina de Stop Motion:

Oficina de Recortes

O primeiro dia também contou com uma Oficina de Recortes por Substituição. Ministrada pelos animadores Analúcia Godoi e Pedro Iuá, a atividade consistia basicamente em criar pequenas animações a partir de figuras pré-animadas em sequência, substituindo e fotografando cada etapa.

A atividade se iniciou com uma pequena introdução sobre o cinema de animação e sobre como essa técnica é uma das mais antigas não somente da animação, mas até mesmo do cinema como um todo. Logo após isso, foi explicado como seriam feitas as animações de recortes e estas aconteceriam de dois modos: animação de figuras com a câmera parada e com a câmera em movimento. Para isso, participantes e oficineiros tiveram que recortar e pintar os objetos a serem animados. Essa atividade, porém, tomou muito tempo da oficina como um todo, fazendo com que a animação de fato fosse feita um pouco apressadamente. Mas isso não atrapalhou o entusiasmo dos participantes que pareceram gostar tanto da parte da animação quanto da parte mais lúdica de pintar e recortar os objetos usados.

Mostra Adulta

Ao longo dos três dias, foram exibidas quatro Mostras, focando públicos diferentes. No primeiro dia do evento foi exibida a Mostra Adulta, que trouxe ao público uma variedade de trabalhos, levando desde a reconstrução, através de um dossiê animado, da morte de Rê Bordosa (personagem do cartunista Angeli, que figurava na Revista Chiclete com Banana) à adaptação da clássica fábula infantil Os três porquinhos à realidade brasileira.

Um ponto forte foi a variedade dos trabalhos expostos. O público pode ter acesso a animações que lhes arrancaram boas gargalhadas, como O Homem Coxinha 2, Uma Aventura no Velho Oeste, do animador Eduardo Perdido; a animações como um enfoque diferente, como a produção de Gabriel Bitar,  A cidade e o desenho número 5,  inspirada em uma das cidades invisíveis do escritor italiano Italo Calvino; e a animações de Thomas Larson, também conhecido como Thomate, que através da figura de Atail Menezes, com o seu programa de colunismo social, trouxe à Mostra a comédia com uma pitada de crítica social com as produções O Grande Evento e Rái Sossaíth.

2°Dia:

Oficina de Light Painting

Animar com luzes: este foi o objetivo da oficina de light painting, realizada no segundo dia da Mostra Quadro a Quadro. Também ministrada por Pedro Iuá e Ana Lúcia de Godoi o workshop possibilitou aos participantes animar desenhos feitos de luzes.

Inicialmente, houve uma rápida explicação sobre o cinema de animação e seu funcionamento. O stop motion, técnica utilizada nesta oficina, constitui-se de uma construção fotograma por fotograma (ou quadro a quadro) feita pelo animador. Em cada quadro, este vai realizando pequenas mudanças, que, quando exibidas sequencialmente, dão a impressão de movimento.

Já o light painting (do inglês, light: luz; e painting: pintura), é uma técnica de fotografia, obtida graças às câmeras digitais atuais que permitem aumentar o tempo de exposição da foto a ser tirada, possibilitando desta forma a captação dos rastros de luz deixados nos percursos das lanternas. Assim, é possível criar desenhos com estas luzes, e também desenvolver animações em stop motion com as fotografias obtidas.

Após esta breve introdução às duas técnicas, os participantes foram então convidados a realizar um primeiro teste com as lanternas. Utilizando da melhor forma possível o espaço, cada um foi tentando criar sua própria animação, desenhando no ar quadro a quadro com lanternas coloridas.

Depois, os participantes foram separados em 3 grupos menores, sendo que cada um destes deveria apresentar e realizar uma proposta de animação. Os resultados foram planos divertidos e variados, entre eles uma cômica cena de chuva, e também um jogo de tetris.

A oficina contou com o entusiasmo e a energia dos participantes que usaram de muita criatividade e humor para criarem desenhos de luz no ar, que juntos comporam as animações obtidas na atividade, exibidas na Mostra de Encerramento da Mostra Quadro a Quadro.

Mostra Infantil

A Mostra Infantil, que fez parte da programação do segundo dia, não contou apenas com a presença de crianças. Adultos foram prestigiar o evento mostrando que para se divertir com uma animação a idade não é um empecilho. Nessa mostra, foi possível notar a variedade de técnicas de animação entre os trabalhos. Foram exibidas animações que trabalharam com materiais diferentes, como o caso de Botões, de David Mussel, que com botões, linhas e uma agulha, através da técnica de stop motion, trouxe a temática de superação de seus medos para combater uma ameaça.

A mostra também contou com animações ligadas a histórias infantis já conhecidas, através de releituras, como Seu Lobo, de Humberto Avelar (que em forma de animação, traz uma versão da brincadeira “enquanto o Seu Lobo não vem”), e Josué e o Pé de Macaxeira, de Diogo Viegas (uma releitura de João e o Pé de Feijão).

3° Dia:

História da Animação: Stop Motion

Ministrada pelo animador Fábio Yamaji, ganhador três vezes do Anima Mundi, que além de animador trabalha como diretor, montador e fotografo, a aula teve seu foco na história do stop motion, técnica de animação baseada na fotografia. Fotografa-se quadro a quadro e, assim, a animação se dá através da mudança de posição dos objetos, entre um fotograma e outro, criando a ilusão de que o objeto está se movimentando.

Segundo Fábio, assim como a história do cinema, que para muitos tem início a partir do invento do cinematógrafo dos irmãos Lumière, o stop motion partiria desse momento para se aperfeiçoar a partir do mágico ilusionista George Mélies, que em suas obras utilizava-se de trucagens para criar transformações e desaparecimentos. O stop motion foi o instrumento que possibilitou a criação dessas ilusões, como foi demostrado por Fábio, na exibição de um trecho de Le Voyage Dans La Lune, a obra prima de Mélies. Considera-se tais trucagens como métodos de stop motion, uma vez que o resultado era obtido através de um processo semelhante a essa técnica de animação: filmava-se, parava a câmera, ocorria uma alteração na imagem, filmava-se novamente, para em seguida parar a câmera e alterar de novo a imagem.

Seguindo pela história da animação, a aula passou por Ladislaw Starewicz e suas animações com insetos, como The Beautiful Leukanida, de 1910, uma animação com besouros que espantou os espectadores da época. Fábio não ficou só preso a filmes de stop motion em si, mas passou também por filmes que utilizaram tal técnica como efeito especial, como nas obras de Willis O’Brien e Ray Harryhausen.

Considerado por muitos como o pai dos efeitos especiais, Willis O’Brien utilizou-se da técnica de stop motion em busca de efeitos especiais. No clássico de Merian C. Cooper, King Kong, ele conseguiu levar às telas o gigante gorila que encenava com pequenos atores. Na verdade, não passava de um pequeno boneco animado através de tal técnica. Outro exemplo utilizado por Fábio foi a cena de Jason and the Argonauts, onde Ray Harryhausen animou um exército de caveiras em uma luta com o personagem Jasão.

Buscando sempre exemplificar através de exibições, de maneira geral, a aula ministrada por Fábio Yamaji pôde transmitir um pouco da vasta história do cinema de animação através da técnica do stop motion. As exibições de trechos juntamente com algumas informações acrescentadas por Fábio foram enriquecedoras àqueles que participaram da aula. Para encerrá-la, Fábio exibiu uma de suas últimas animações, O Morro da Guerra Eterna.


Mostra Jovem

No terceiro e último dia, tivemos a Mostra Jovem e, encerrando o evento, a Mostra São Carlos. A Mostra Jovem contou com trabalhos de diversas gerações de animadores, desde nomes já conceituados como os de Marão e Arnaldo Galvão, a jovens nomes que vem se destacando no cenário atual, como o da animadora Rosária, que expôs o seu trabalho Menina Da Chuva.

Além da diversidade de gerações de animadores, a diversidade temática também esteve presente durante o evento. Foram expostos desde trabalhos que utilizaram as mudanças climáticas, como em Bomtempo, de Alexandre Dubiela (Melhor Curta no Anima Mundi de 2011), a trabalhos que exploraram os espaços que existem no coração das pessoas e o tamanho dos espaços que reservamos para cada um. Para o curta de Raoni Assis, Hotel do Coração Partido, esses espaços são hotéis, e Ronaldo, o personagem principal, era especial por possuir um “hotel” maior que os demais.

Bate Papo com os animadores

Contando com a presença de várias gerações do cinema de animação brasileiro, o bate papo com os animadores se deu de forma bem dinâmica. Além das presenças já anunciadas, outros animadores também compareceram, enriquecendo ainda mais o evento, como Ana Lúcia de Godoi e Pedro Iuá. Mediado por Marão, cada animador presente pôde contar um pouco sobre como surgiu seu interesse pela animação, como atualmente está o mercado de trabalho, entre outras questões. Interessante notar como a animação surgiu de formas diferentes para cada um.

Outro ponto interessante foi o cruzamento entre gerações, grandes nomes como o de Arnaldo Galvão poder interagir com jovens nomes como Jonas Brandão e Rosária.

Encerramento e Mostra São Carlos

O encerramento da Mostra Quadro a Quadro exibiu curtas-metragens produzidos nas oficinas de light painting e recortes, assim como os trabalhos realizados em stop motion e pixilation nas oficinas do circuito escola pelas crianças. Depois do encerramento foi ocorreu a Mostra São Carlos, com curtas-metragens em animação de diversos anos e gêneros, realizados na cidade de São Carlos.

Foram onze animações bastante diversas. Tinham trabalhos de faculdade, como O Gato Preto, um Trabalho de Conclusão de Curso de Imagem e Som, do ano de 2010, animações realizadas em projetos sociais, como as do projeto “Animando vidas” e até curtas que foram produzidos com apoio de editais, como é o caso de Dayane e Zé Firo (2009). A exibição teve a sala cheia: participantes das oficinas, crianças e interessados em animação e audiovisual. Por fim, foi realizado o sorteio de alguns DVDs com trabalhos dos animadores que estavam presentes no evento. A Mostra Quadro a Quadro encerrava-se reforçando que em São Carlos há público e potencial para que eventos culturais de qualidade ocorram com frequência.

Equipe e Participantes da Mostra Quadro a Quadro

* Fernanda Costa, Fernanda Sales Rocha Santos, Mauricio Minoru Iwaoka e Nayton Barbosa são estudantes de Imagem e Som na Universidade Federal de São Carlos e editores da RUA.

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Este post tem 4 comentários

  1. Author Image
    Larissa Andrade

    Quadro a quadro.  A essência ilusão de movimento. Viva a animação, sim, dar vida ao ananimado.

    Axé.

  2. Author Image
    Diego Doimo

    muito legal a reportagem!

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