Por Henrique Rodrigues Marques *
A segunda mostra na noite de abertura da Mosca 8 teve início às 19 horas e contou com forte presença do público. Na programação, 3 curtas da recente produção nacional, constituindo um panorama variado tanto em temáticas quanto em localidades. O Afinador, dos paulistas Fernando Camargo e Matheus Parizi, abriu a sessão. O drama, que foi representante oficial do Brasil no último Festival de Veneza, e co-estrelado por Sandra Coverloni (de Linha de Passe) conta a história de um jovem afinador de pianos que trabalha para o pai e sonha ser aceito em um conservatório de música. Através da espera da carta de convocação para uma audição, o filme levanta tensões familiares e anseios pessoais, desenvolvendo esses temas de maneira surpreendentemente profunda em seus 15 minutos de duração. O final abrupto deixou membros da plateia com o desejo de que fosse um longa-metragem.
Em sequência foi exibido o misto documentário e ficção recifense A Onda Traz, o Vento Leva, de Gabriel Mascaro. O projeto sensível se descreve como “uma jornada sensorial” e faz jus ao título. Acompanhando o cotidiano de Rodrigo, um rapaz surdo que trabalha instalando aparelhos de som em carros, o diretor se utiliza de recursos sonoros diversos – de ruídos de carro a vibrações – para criar sensações sinestésicas, combinando esses elementos a belas imagens. O resultado é tocante e honesto.
Fechando a mostra, tivemos o documentário “de guerrilha” brasiliense A Ditadura da Especulação, de Zé Furtado (o filme pode ser assistido clicando aqui). Filmado de dentro dos manifestos de resistências contra as construções de prédios em um novo bairro de Brasília que está tomando o lugar de uma comunidade indígena. O filme corajoso foi produzido sem nenhum patrocínio, fruto da vontade dos ativistas envolvidos.
Os três vídeos, com seus temas fortes, agradaram o público e renderam um interessante debate depois da sessão. E esse fenômeno, uma das peculiaridades mais deliciosas da Mosca, foi notado em todas as sessões que eu presenciei até agora. Mesmo com a ausência dos autores das obras, as pessoas presentes se mostram sempre muito dispostas a discutir os curtas assistidos, num ambiente muito gostoso e produtivo, o que possibilita uma expansão da experiência audiovisual -, que costuma ser bem individual.
* Henrique Rodrigues Marques é estudante de Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos e editor da RUA.