MOSCA – Mostra de vídeos de Cambuquira

No dia 15 de Julho, deste ano, começou a quinta edição da Mostra de vídeos de Cambuquira (Mosca 5), evento o qual marca a retomada da cena cultural nesta cidade, comemorando meia década do fim de uma passividade (ou desconhecimento), perante os caminhos da produção cultural contemporânea.

O evento aconteceu entre os dias 15 e 19 de julho, e contou com 13 sessões de curta-metragens, nas quais  os gêneros de animação, ficção, documentário e experimental, este último, o gênero preferido dos jovens cambuquirenses, foram apreciados, e, em seguida, fervorosos debates foram realizados acerca dessas sessões.Além disso, o evento trouxe, na bagagem, oficinas, espaço- lúdico- infantil (Clubinho da Mosca) e exposições focadas na memória da cidade, a qual, neste ano,comemorou seu centenário de existência Todos esses eventos foram realizados no, cada vez mais recuperado e bem aproveitado ,Cine Elite (abandonado até a primeira edição do Mosca, quando foi reformado), o qual remonta os tempos áureos da cidade mineira, antigo destino de turistas e celebridades em busca de suas águas medicinais. E não posso deixar de citar o Café da Mosca, com muita música e infindáveis prosas sobre o que se passava na sala escura

Esta oportunidade foi a segunda na qual pude participar da Mosca (na segunda como realizador) e logo na sessão de abertura percebi que os rumos desta Mostra traçam um horizonte claro: a potencialização das percepções artísticas dos jovens daquela terra tão conhecida por suas águas.

Poderia gastar linhas descrevendo ótimos filmes que passaram pela tela, como O Anão que Virou Gigante, de Marão, agraciado com o prêmio maior do festival (Juri Popular) no mesmo dia em que abocanhava o terceiro lugar no Anima Mundi carioca – sim o público da mostra, majoritariamente composto por cidadãos cambuquirenses, sabe criticar e louvar a produção audiovisual contemporânea.

Mas, ao falar dos filmes apresentados na mostra, prefiro me ater ao experimental Em uma tarde de abril em Cambuquira, filme de Alexandre Felix que, abusando da crítica à própria cidade, tocou os seus conterrâneos e levou o prêmio de melhor curta experimental.

Desde sua segunda edição, a Mosca recebe filmes realizados na cidade e, em sua grande maioria, experimentais. Seria acaso? É dito pelos próprios jovens da cidade que não havia qualquer demonstração artística na cidade antes da Mostra. A relação destas pessoas com o cinema se encerrava nos filme exibidos apenas na TV. Mas, com a mostra, entre filmes bons e ruins, aquelas pessoas enxergaram inúmeras possibilidades de expressão, de memória, de crítica, em suma, de comunicação. Portanto, muito além do inalcançável padrão audiovisual televisivo.

Com o estímulo da mostra anual na porta de casa, o “fazer audiovisual” tornou-se ferramenta dos jovens “rebeldes” da cidade. Em uma tarde de abril em Cambuquira, Felix acusa a passividade dos cidadãos cambuquirenses, empurra-os para uma renovação da auto-estima e estimula um longo debate sobre a decadência latente nas cidades históricas mineiras.

Não creio que o curta rode por muitos outros festivais, por sua simplicidade técnica e esquizofrenia estética (visivelmente propositais), mas ao assisti-lo na primeira sessão da Mosca 5, fui tomado por uma sensação de que ainda é possível acreditar em um cinema além da indústria ou da arte. Um cinema como ferramenta social.

Rafael Rolim é graduado no curso de Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

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