Mostra #4 – Master Shot

Às 14h30 do dia 06, foi realizada a última mostra de curtas universitários com a presença de realizadores para debate. Intitulada de “Master Shot”, a coletânea trouxe curtas de caráter mais experimental e dialético com outras esferas artísticas e audiovisuais além do universo cinematográfico. Os resultados são oscilantes como o tempo de Recife durante esses dias da SUA, mas eis em detalhes:

Lua Cheia, de Raphael Genuíno (UFES, 2013) é um videoclipe produzido para a banda punk/hardcore capixaba Muleka di Rato. A proposta grotesca de um grupo de caipiras (ao pior estilo redneck americano) que se reúne em período de lua cheia para caçar lobisomens é executada de forma um pouco desleixada. O ritmo caótico (como o da música) transforma tudo em uma grande brincadeira, o que torna mais perdoável o ápice tragicômico do curta: um churrasco de lobisomem.

Rua dos Bobos, de Ohana Souza (UFRB, 2012) traz a proposta estética de trabalhar um cenário livre, sem paredes e traçar diálogo visual entre as linguagens cinematográfica e teatral. Em tom melancólico marcado pela fotografia P&B, pela sonoridade expressiva e pela atuação naturalista da protagonista, o filme é um retrato bonito e sensível sobre alguém à espera: de algo, de alguém, de uma lembrança, de uma mudança. E enquanto a mudança não se manifesta, a rotina é mantida de forma singela, quase boba.

Habita-me Se em Ti Transito, de Claudia Rangel (UFJF) é um documentário que retrata pessoas em situação de rua e sua interação com espaços públicos. O curta propõe uma atmosfera intimista, mas há um certo distanciamento e um tratamento dessas “personagens” como excêntricas que incomoda. Aos poucos, Rangel tenta descobrir porque aquelas pessoas foram parar na rua e nota-se um clima de desilusão generalizado, que acaba por citar – sem problematizar muito – tópicos como prostituição, alcoolismo e vício em crack. O curta tem o estilo simples e de fácil absorção e com sua temática relevante não é de se espantar que tenha sido o mais bem recebido pelo público, único que suscitou palmas em coro durante toda a sessão. Também foi bastante debatido na sessão de perguntas e respostas, principalmente sobre o tipo de abordagem e relacionamento estabelecido entre os realizadores e os entrevistados, e processo de produção (tempo de pesquisa e finalização).

 Após a empolgação momentânea dos presentes com Habita-me, o tédio tomou conta do auditório com os curtas Procurando Rita, de Evandro Freitas (UFRB) e Pele do Lugar, de André Manfrim (USP, 2014). Rita, com seus penosos sete minutos de duração em um plano único e estático, traz a história de Seu Adilson, projecionista do Cine Teatro-Glória, em Cachoeira, BA. Uma homenagem que poderia ser interessante se tornou um curta enfadonho. Seu maior impacto foi servir de interlúdio e presságio para vários espectadores, que saíram do auditório para um café ou para não mais retornar…

 Logo em seguida, Pele do Lugar mostrou a dança contemporânea como ponto de fusão entre as paisagens urbanas e seus habitantes/transeuntes. A identidade cotidiana aos poucos dá espaço à identidade urbana, artificial, a dicotomia da massificação e da urbanização é explorada, assim como a paisagem de um ambiente histórico da cidade de São Paulo (Largo da Batata). São ideias boas que levam o curta a um ponto de coesão muito forte, mas isso não se traduz necessariamente em imagens interessantes. A duração exacerbada acaba conferindo a Pele do Lugar um tom monótono e sonífero. Mesmo assim, o curta acabou levantando muitas questões no debate, embora principalmente voltadas a logísticas de produção do que a sua concepção temática.

 Tejo Mar, de Bernard Lessa (UFF, 2013) é um boy-meets-girl que usa elementos clichês  – estudante estrangeiro conhece garota na noite carioca e, embalados por ritmos populares, surge uma conexão – de forma eficiente, ao explorar um cenário belíssimo (e nada clichê) do Rio de Janeiro como pano de fundo para as dúvidas, a melancolia e a solidão do protagonista, que se vê dividido entre a culpa do seu relacionamento à distância, entre sua rotina no teatro, sua despedida do Rio e entre as sensações despertadas pelo encontro mais recente.

 Fechando a mostra, o curta A Cigarra Canta Durante o Sol, de João Victor Borges (UFF, 2013) é uma reflexão caleidoscópica que tenta poetizar a melancólica vida das cigarras. Fadadas a um fim trágico após seu ápice funcional, Borges suaviza a marcha fúnebre das cigarras-macho com versos nostálgicos que ao mesmo tempo em que alertam para sua finitude, relembram todas as cores e sóis vistos e vividos. Um encerramento propício para as mostras de curtas da 8ª SUA.

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