Mostra: Georges Méliès, o Mágico do Cinema

* Por Matheus Fragata

O MIS – Museu da Imagem e do Som – ofereceu uma oportunidade única para o público durante o período de 7 de julho a 14 de setembro de 2012. Com o lançamento ainda recente do “oscarizado” “A Invenção de Hugo Cabret”, de Martin Scorcese e a memória do filme na cabeça dos espectadores, realizar uma mostra sobre um dos maiores gênios da sétima arte, George Méliès, provou ser uma jogada inteligente. Nessa última semana do evento, a R.U.A. visitou a exposição.

Para quem não conhece, Georges Méliès foi um ilusionista francês muito famoso no século XIX. Quando conheceu a máquina fantástica criada pelos irmãos Lumiére, Méliès maravilhou-se com o poder de criação que aquele novo instrumento poderia realizar. Tentou comprar o cinematógrafo com os Lumiére que negaram a venda, pois não viam futuro para sua criação. Inconformado, Méliès monta sua própria câmera e começa a criar filmes bem diferentes dos que eram produzidos na época. Os documentários deram lugar à magia da ficção de Méliès e, obviamente, seus filmes foram muito bem sucedidos. Graças às inúmeras trucagens de câmera que o cineasta criou, vários espectadores se emocionam até hoje com as obras deste artista visionário. O auge de sua carreira aconteceu com o lançamento de “Le Voyage dans la Lune” em 1902. O curta histórico é considerado uma das obras mais importantes de toda a História do Cinema. Méliès continuou a produzir filmes até 1913 quando seus recursos começar a se esgotar. Graças à pressão do início iminente da Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918), o cineasta acabou perdendo seu público. Praticamente falido e muito endividado, abriu uma loja de brinquedos na estação de trens de Montparnasse com o resto de suas economias. No fim dos anos 20, o cinema ganhou mais importância e destaque na sociedade. Com isso, Méliès foi encontrado por jornalistas curiosos sobre sua filmografia. Então, em 1929, o cineasta retomou seu prestígio ao ganhar um jantar de gala para exibir vários de seus filmes, que foram aplaudidos fervorosamente. Aquela noite foi considerada pelo próprio artista como um dos momentos mais felizes de sua vida. Em 1937, Méliès acabou muito doente e começou sua luta contra o câncer. Um ano depois, o cinema perdeu um dos mais importantes realizadores de sua história. ÉmileCohl, outro artista igualmente importante, também faleceu naquele ano.

Setenta e cinco anos após sua morte, alguns itens originais e outras réplicas foram expostos no MIS. Eles conferem vida aos dois andares muito bem decorados da mostra. Cada um com um esquema de iluminação sofisticado para conferir a delicadeza, idade e a fragilidade de algumas das peças expostas. A mostra é dividida em seis seções: Méliès mágico; Méliès mágico e cineasta; O estúdio Méliès; O universo fantástico de Méliès; A Viagem à Lua. Cada uma delas retrata uma parte importante da vida do cineasta. Textos são suspensos por entre os corredores da mostra sendo que eles contêm informações pertinentes sobre a vida e o sucesso deste realizador, apesar de sua abordagem ser pouco criativa, afinal trata-se de painéis pintados em vermelho contendo apenas o texto corrido. Em seu lugar, uma visita agendada com um guia teria sido uma experiência bem menos maçante e, talvez, até mais atraente para outros públicos.

Na verdade, a grande maioria dos objetos disponíveis são réplicas – algumas já contam com mais de cinquenta anos de história, ou reimpressões totalmente restauradas de cartazes, fotos da época, desenhos de produção, etc. Os poucos itens originais, porém valiosíssimos, são algumas peças de figurino, alguns desenhos e uma carta escrita em inglês de Méliès para um jornalista que havia lhe feito um questionário. Ainda assim, teria sido muito interessante conhecer as peças originais que foram duplicadas com a devida restauração.

Este é o cenário montável onde era possível gravar seus curtas.

Mesmo com mais de 500 filmes finalizados, muitas obras de Méliès se perderam no tempo. Entretanto, isso não justifica a quantidade pouco satisfatória de curtas que a Mostra oferece ao visitante. Havia menos de dez filmes disponíveis – todos em formato digital, visualizados através de projeções ou televisores. Também senti a falta de guias – não me lembro de ter visto um membro da equipe durante a visita, para responder as perguntas dos mais curiosos sobre como Méliès fazia os efeitos visuais tão marcantes de seus filmes e outras dúvidas a respeito do cineasta.

Entretanto, o maior destaque de toda a mostra é a seção dedicada ao curta “Le Voyage dans la Lune” a qual recebe uma decoração diferenciada e um espaço muito criativo para exibir o curta mais famoso de Méliès. Os visitantes assistem “A Viagem à Lua” dentro de uma espécie de bala de canhão inspirada àquela que aparece no filme. Na mesma seção, também há uma coletânea de desenhos reimpressos e restaurados do departamento de artes conceituais que o diretor pintava cuidadosamente ao planejar os cenários repletos do curta. Vale ressaltar que esse foi o filme mais pirateado na época por norte-americanos, a ponto do cineasta abrir um escritório em Nova Iorque para proteger sua obra-prima

Outro destaque muito interessante é o cenário montável criado pela produção artística do evento. Lá é possível gravar seu próprio filme de, no máximo, trinta segundos utilizando todas as técnicas marcantes do diretor. Entretanto, o semblante pouco convidativo do responsável pela área desencoraja os mais interessados. Claro que isso não impede as crianças de brincarem com o local.

A Mostra “Georges Méliès, o Mágico do Cinema” foi muito interessante de visitar. Lá, pude ver alguns filmes que desconhecia e conhecer um pouco mais do processo de criação desse diretor visionário. Foi uma oportunidade única ver os desenhos de Méliès, os cartazes charmosos e as fotos da época. Apesar de ter sido um tanto mal aproveitada e pouco criativa em alguns aspectos. Por exemplo, os já citados painéis vermelhos apenas com texto corrido – uma ironia já que a criatividade do cineasta não conhecia limites –, torço para que a mostra volte para o Brasil em um futuro próximo. Só que desta vez, quem sabe, melhor financiada. Mas ficam aqui os meus parabéns pela primorosa iniciativa da realização desse evento que permitiu a muitos brasileiros, terem contato com este mestre da sétima arte, um homem que, em seu tempo, já sonhava com a lua enquanto outros seguiam para o caminho de uma das mais abomináveis guerras que mancharam eternamente a história da humanidade.

* Matheus Fragata é graduando do curso de Imagem e Som da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e Editor Responsável pela Cobertura da R.U.A. É editor do site Noite Americana.

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