Terry Gilliam é um cineasta que, essencialmente, foge do que estamos acostumados a ver no cinema. Seus filmes nunca foram estrondosos sucessos de bilheteria, mesmo aqueles que podem ser considerados exceções, como Os Doze Macacos. Além disso, algumas de suas produções foram marcadas por conflitos com grandes estúdios de Hollywood. Em contrapartida, Gilliam é bastante cultuado e reconhecido por ter um estilo inconfundível e original, sobretudo no que diz respeito ao aspecto visual de seus filmes, que quase sempre são completamente submersos em um universo onírico. O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus segue esta linha, na medida em que compõe um universo completamente novo e interessante, trazendo o que se esperaria de um filme de Gilliam, e transbordando originalidade ao mesmo tempo. Apesar do roteiro um pouco confuso, os temas que são apresentados são dignos de nota, bem como o fato de que se trata da última produção do saudoso Heath Ledger, cuja súbita morte em 2008 quase pôs tudo a perder.
O Dr. Parnassus do título é o líder de uma espécie de trupe circense que se apresenta pelos arredores da Londres atual. Vivido com maestria pelo veterano Christopher Plummer, o ancião sobe ao palco na companhia de Valentina, sua filha (a atriz e modelo Lily Cole), o mágico Anton (Andrew Garfield) e o anão Percy (Verne Troyer). O show oferece aos espectadores um passeio fantástico por um mundo imaginário, mas esconde uma realidade não tão agradável: Dr. Parnassus adquiriu a imortalidade, e, por conta disso, tem uma dívida a ser paga com o próprio Diabo (Tom Waits), precisando ganhar uma aposta que envolve almas humanas. Cada alma perdida significa estar mais perto da derrota, que significará a entrega da alma de Valentina ao demônio. O aparecimento de um estranho (Heath Ledger) que é salvo da morte pela trupe, e uma nova aposta para renegociar a dívida anteriormente contraída
acabam por trazer mudanças a este panorama, fazendo com que a disputa entre Parnassus e o Sr. Nick (Waits) fique mais acirrada e dramática. Nesta breve exposição, é possível notar que o roteiro possui alguns meandros que não são muito simples de se acompanhar, sobretudo no que diz respeito ao personagem misterioso de Heath Ledger. Mas, felizmente, isto não compromete o resultado final.
A escolha do elenco é acertada, a começar por Plummer, que entrega atuações inspiradas. Outro destaque é para o jovem Andrew Garfield, que rouba a cena em alguns momentos. Heath Ledger faz uma ótima despedida, e Johnny Depp, Jude Law e Colin Farrell, que foram chamados para gravar as cenas de Ledger que ficaram faltando, também não decepcionam. Desses três, Farell acaba surpreendendo, talvez pela parte da história que cabe a ele. Não se pode deixar de mencionar, ainda, o cantor e compositor americano Tom Waits. E é sempre um prazer ver Tom Waits atuando em qualquer filme que seja. Sua voz gutural e lendária consegue dar credibilidade a qualquer personagem, sem que o cantor precise se esforçar muito.
Na parte visual, Gilliam mais uma vez consegue deixar o espectador boquiaberto. As novas tecnologias digitais, utilizadas em excesso e sem critérios por outros diretores, são aqui empregadas para criar efeitos impressionantes, que, antes de qualquer coisa, servem à história. É fascinante acompanhar como Gilliam incorporou tais adventos ao seu estilo, mas o essencial ainda está lá: as cores vívidas, os enquadramentos estranhos e os ângulos de câmera nada convencionais, em mais uma bem-sucedida parceria com o habitual diretor de fotografia Nicola Pecorini. É como se ele quisesse que seus personagens fossem vistos de outra forma. Não que isto seja necessário, uma vez que as criações do realizador britânico já são por si só estranhas – exemplos não faltam – mas ainda assim é algo que os torna ainda mais inquietantes e diferentes.
Se cinema e sonho estão intimamente ligados, aqui a relação ganha contornos literais. Com seu espelho, Parnassus convida os espectadores a adentrar seus próprios sonhos, dentro do “imaginário”. O show ambulante de Parnassus oferece a realização dos desejos inconscientes, ao mesmo tempo em que enseja a exposição de uma história qualquer. Seria isto o próprio cinema, uma grande metáfora desta arte onírica por excelência? Aliás, convém lembrar que Terry Gilliam já fez parte da “trupe” de comediantes do Monty Python, e hoje é um diretor de cinema, ou um contador de histórias. Encontra-se aí um paralelo com o próprio Dr. Parnassus, que durante o filme enfatiza a necessidade de as histórias serem contadas – ao ponto de o destino do universo estar ligado a este fato. Alguém, em algum lugar, continua a contar histórias, e, conseqüentemente, a mover o universo. Mesmo que não haja ninguém prestando atenção, como ocorre com o líder da trupe em diversos momentos. Gilliam sempre carregou essa característica um tanto quanto quixotesca, de lutar por sua visão criativa com unhas e dentes, mesmo que os filmes não fizessem sucesso. Falando em Quixote, talvez seja conveniente lembrar também que The Man Who Killed Don Quijote é o nome do projeto que nunca chegou a ser concluído por Gilliam, por diversos problemas. Será que vai ser terminado algum dia? Fica a pergunta.
Arthur Souza Lobo Guzzo é graduado em Comunicação Social pela PUC-Campinas e em Ciências Sociais pela Unicamp
assisti o filme e achei muito interessante acho que os atores (christopher plumer) (heath ledger) (verne troyer) (andrew garfield)e(lily cole) estavam otimos esse filme teria que ter ganhado o oscar mais ficaria melhor se (ledger) nao tivesse nao tivesse morrido e o roteiro nao tivesse sido mudado mais mesmo assim (terry gilliam) fez um otimo trabalho dirigindo esse filme quero parabenizar os atores pelo otimo trabalho e (ledger) pelo belo trabalho em seu ultimo filme.