Semana de Audiovisual da ECA-USP

A SAV (Semana do Audiovisual da ECA) deste ano aconteceu entre os dias 6 ao 10 de outubro, e procurou abordar, como de tradição, assuntos ligados às primeiras impressões sobre o meio audiovisual. A temática desta nona edição foi Produção e Crítica. A partir deste tema principal, foram surgindo questões, como qual seria a relação entre produção e a posterior critica, desde a verdadeira função do crítico até possíveis impactos das resoluções do meio acadêmico nas produções cinematográficas.

Um dos curtas apresentados nas projeções matinais, Espalhadas no Ar, de Vera Egito, foi tido como um filme redondo e bem feito, que conseguiu a simpatia da maioria do público de acordo com a própria Vera. Ora, vendo-a daquele jeito calmo falando sobre o que a fez começar a fazer cinema, tive a impressão de que o TCC bem sucedido foi uma consequência natural do talento como um dom divino; mas logo após essa primeira impressão, ela contou dos problemas e desafios para realizar trabalhos da ECA (onde entrou, segundo ela, sem ter a menor experiência com a câmera), citou aspectos bons de Espalhadas como fruto tanto do que foi aprendido na faculdade quanto das experiências por fora, ajudando a tirar aquela impressão de que os filmes são produzidos dentro da mentalidade “bolha” da universidade. Aqueles que acabaram de entrar no ramo, como eu, começam a ter uma noção de que todo mundo passa por uma evolução, por um período de aprendizado.

Noção que é confortadora, principalmente para o estudante de arte, que ouve para todo lado que artista bom só é bom porque recebeu como dom do próprio destino.

Da projeção de TCCs, recomendo Procura-se (Rica Saito), ótimo documentário, renovador e criativo, que estreou no É Tudo Verdade!, no começo do ano. Conta a história de Mário Rocha, mas acaba sendo mais um estudo sobre gerações, sobre o que as gerações passadas deixaram e sobre o que esperam de nós.

Compareci à mesa de Mercado Audiovisual, que me interessou tanto pela proposta de discussão do tema quanto pelas pessoas chamadas: Adhemar Oliveira, diretor responsável pelas salas da rede Unibanco de Cinema; André Sala, diretor da Sony Pictures e da Buena Vista; e Carlos Augusto Calil, professor do CTR-ECA e Secretário Municipal da Cultura.

Foi uma discussão, acima de tudo, didática. André Sala explicou o sistema de distribuição de um filme com uma simpática apresentação de powerpoint (“Todo mundo tem preconceito com o meu powerpoint!”), ao que se seguiu, pelo que me lembro, uma discussão sobre o processo de escolher os filmes que passam em cada sala, levada principalmente por Adhemar Oliveira. Carlos Augusto Calil arrematou a discussão, que, se tivesse uma conclusão, seria que o cinema brasileiro precisa de competitividade. Os tempos são outros, não estamos nos tempos do Glauber. Precisamos de filmes competitivos!

O auditório Paulo Emílio estava com capacidade máxima de pessoas, todas para assistirem ao bate-papo com o badalado diretor de Ensaio sobre a cegueira. Fernando Meirelles foi otimista, principalmente em relação ao papel do cinema na formação de uma identidade cultural para o brasileiro; comparou com o western para os americanos, com Kurosawa para os japoneses, e deixou entender que, além de fazer, fazer bem feito é fundamental. Com perguntas demais para tempo de menos, foi respondendo de forma sucinta, falando mais sobre o novo Ensaio Sobre a Cegueira, evitando responder algumas questões mais profundas ou complicadas e dando significativos conselhos aos jovens cineastas. Um dos pontos altos foi a crítica de Meirelles à televisão; disse que não consegue assistir a programação da televisão aberta de hoje, e questiona se aquilo que passa na tevê é mesmo nosso reflexo como povo. Frisou o fazer bem feito ao invés de inventar sempre novas fórmulas mirabolantes, para criar uma cultura brasileira mais sólida.

Falou sobre a sua carreira, sobre a passagem pela publicidade e a transição para a televisão e o cinema (“Eu senti vontade de fazer uma coisa diferente, e fui fazer cinema.” Simples assim). Formado em Arquitetura pela FAU-USP, respondeu mais de uma vez a pergunta que não quer calar: “é realmente necessário ter uma formação acadêmica para entrar no ramo do cinema? É muito difícil, para quem é formado em outras áreas, a penetração no mercado audiovisual?”

A resposta, simpática e politicamente correta, não diz nem sim nem não. Contou que, para ele, talvez tenha sido melhor não ter feito uma faculdade de cinema que lhe apresentasse “fórmulas”, “receitas” de como se fazer cinema; lhe pareceu mais rico o aprendizado pela experimentação. Mas diz que talvez a formação acadêmica teria lhe dado mais base teórica, da qual comenta sentir falta.

Resta um questionamento, levantado por Roberto Moreira, em uma de nossas aulas: Fernando Meirelles e Laís Bodansky tiveram uma sessão de bate-papo exclusiva. A atenção exclusiva foi dada para diretores, e as perguntas direcionadas como se fossem eles os únicos responsáveis pelos filmes que realizam. Será que um produtor brasileiro não merecia uma sessão de bate-papo exclusiva também? Um roteirista, para comentar a falta de competitividade dos roteiros brasileiros? Bráulio Mantovani é o único que tem destaque no mundo, e tem trabalho acumulado para os próximos oitenta anos. Não seria hora de chamar atenção para esse aspecto do cinema brasileiro?

A SAV é um evento para unir o meio do audiovisual e discutir seus problemas, em busca de conhecimento, de respostas. Para isso, temos que quebrar bolhas de preconceito de faculdade para faculdade, as bolhas da universidade para com o mundo real, e os conceitos formados de que o reconhecimento é dado somente ao diretor, sendo que o filme é um produto de muitas mãos.

Deixo aqui minhas impressões, e espero que ano que vem possamos contar com uma cobertura mais detalhada.

Para saber mais detalhes: http://www.sav2008.blogspot.com/

Catarina Bassoti é graduanda do curso de Audiovisual da USP

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