Sercine – Festival Sergipe de Audiovisual

* Por Claudio Pereira

Como produzir filmes com baixo ou zero orçamento? Como fortalecer a cena audiovisual em Sergipe? Como formar público para ver o que tem sido realizado? Como preservar a memória audiovisual dos poucos filmes do estado? Como montar um festival sem incentivos financeiros consistentes? Essas foram perguntas que, implícita ou explicitamente, foram pautadas no Sercine – Festival Sergipe de Audiovisual, que aconteceu entre os dias 9 e 13 de julho de 2013, em Aracaju.

Em sua terceira edição, o festival homenageou os 30 anos do longa-metragem Sargento Getúlio, filme baseado no livro homônimo de João Ubaldo Ribeiro e inteiramente rodado em Sergipe. Dirigido por Hermano Penna e estrelado por Lima Duarte e pelo notável ator sergipano Orlando Vieira, o longa foi exibido, na noite de abertura do evento, para um pequeno público que compareceu ao tradicional Teatro Atheneu.

Faço aqui duas observações antes de seguir falando sobre os espaços que participei no Sercine. 1ª) É notório que existe um comportamento bem estranho e contraditório aqui em Aracaju. Os futuros produtores e diretores audiovisuais, que deveriam demonstrar maior interesse por eventos dessa natureza, não participam efetivamente dos espaços que aqui são montados. E talvez um dos grandes desafios dos organizadores do Sercine, e de outros eventos parecidos aqui realizados, seja entender qual a melhor estratégia para atrair os colegas e estudantes da área. 2ª) Não vou entrar aqui na seara da falta de incentivo por parte das secretarias estadual e municipal de cultura, mas vale pontuar que, de acordo com a organização do festival, para que ele fosse mais uma vez realizado, os mesmos contaram muito com a “brodagem” dos amigos e com o apoio simbólico de algumas poucas instituições que acreditam nesse tipo de projeto. Aplausos para todos aqueles quem entendem a importância desse tipo de iniciativa.

Durante o festival estive em uma oficina de “Preservação e Memória Audiovisual”, que foi ministrada por Silvia Franchini, mestre em memória social pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Foi um momento oportuno para se ter um panorama do que tem sido feito e discutido no Brasil quando se fala em preservação de bens materiais e imateriais ligados ao audiovisual. Muitos dos que participaram, assim como eu, tiveram nessa oficina um primeiro contato sobre esse assunto e nesse sentido penso que os organizadores do evento foram bem sucedidos na realização desse momento.

Uma das coisas que mais me agrada em eventos de Audiovisual e Cinema, obviamente, é assistir aos filmes. Adoro ver vários curtas-metragens seguidamente, um atrás do outro. Acho muito boa a sensação de estar imerso naquela “alta dose” de imagens em movimento. Durante três noites estive nas mostras “Universitária” e “Nordeste” para matar essa vontade. A cada noite fui surpreendido positivamente por bons trabalhos e inevitavelmente por alguns filmes com resultados bem questionáveis. Confesso que nos momentos em que esses filmes ruins apareceram me segurei para não sair da sala de exibição.

Destaco que os filmes ditos “universitários” foram os que mais me deixaram uma boa impressão. Foi bom perceber como os colegas das mais diversas escolas de cinema do país estão realizando de forma séria e coerente. Vi trabalhos muito bem estruturados e que talvez aponte para uma nova geração de realizadores empenhados em produzir trabalhos realmente relevantes para a cinematografia brasileira.

Dentre os filmes dessa categoria três me chamaram muito atenção: Quando o Céu desce ao Chão, de Marcos Yoshi, da USP. O curta mostra a relação de uma jovem atriz com as pessoas que a cercam e com a cidade de São Paulo. Estética e fotograficamente o filme é muito bem realizado.

Máquina Zero, do colega aqui da UFS, Sivirino Júnior. O filme fala sobre um rapaz que vai a um barbeiro e pede que o mesmo raspe sua cabeça. O barbeiro fica intrigado com essa decisão e começa a formular várias hipóteses de porque o rapaz fez essa escolha. Apesar de pecar nas composições imagéticas o filme tem como trunfo um roteiro interessante que leva a um desfecho divertido.

E o curta Lembranças de Maura, dirigido por Bruna Lessa, da Anhembi Morumbi. No filme, que nessa categoria foi escolhido como melhor pelo júri oficial do Sercine, acompanhamos o convívio de uma menina com sua avó portadora de uma doença degenerativa. A obra é tecnicamente bem feita e a direção das atrizes é um grande destaque.

Vale pontuar que o festival ainda exibiu três longas-metragens convidados (Jards, de Erik Rocha; Os Últimos Cangaceiros, de Wolney Oliveira; Eles Voltam, de Marcelo Lordello). Realizou uma “Mostra Informativa de Cinema Infantil” e uma “Mostra de Acessibilidade”, bem como promoveu duas mesas de discussão (“Memória, Cinema e Ditadura”; e a mesa “Produção Audiovisual para TV ‘O Caso Estação Periferia’”), espaços esses que infelizmente não tive como participar.

Espero que apesar de todas as dificuldades enfrentadas pela equipe do Sercine, para realizar essa edição, o festival tenha vida longa. E principalmente espero que os estudantes, produtores e realizadores audiovisuais de Sergipe produzam muito mais filmes e enxerguem a relevância desse evento como espaço de troca e importante janela de fruição de suas obras.

 

* Claudio Pereira é graduando em Audiovisual pela Universidade Federal de Sergipe (UFS).

Author Image

RUA

RUA - Revista Universitária do Audiovisual

More Posts

RUA

RUA - Revista Universitária do Audiovisual

Deixe uma resposta