VI SUA – Dia #1 – Mesa 1

Mesa I: A universidade na construção do pensamento


O primeiro evento oficial da SUA 2012 abordava a criação do primeiro curso público e universitário de cinema no Brasil, passando pelas crises sofridas na UnB e chegando aos ecos na atualidade.

Por Jéssica Agostinho*

A primeira Mesa proposta pela organização da VI Semana Universitária do Audiovisual (SUA) teve início às 16 horas e 30 minutos, no Memorial Darcy Ribeiro, popularmente conhecido como “Beijódromo”, na Universidade de Brasília (UnB). A Mesa visava relembrar as origens do curso de cinema na UnB, pioneiro nas Universidades públicas brasileiras, abordando também as crises impulsionadas pelo Golpe Militar que culminaram com o fechamento do curso. O evento contou com a mediação de Dani Marinho e a presença de Vladimir Carvalho, Marcos Mendes e Sérgio Moriconi. Em um contexto nacional, pertinente ao perfil da SUA – um encontro de estudantes de audiovisual do Brasil –, o relato do cinema em Brasília promove a reflexão acerca dos pontos em comum que podem existir com outros cursos, de outras localidades.

Memorial Darcy Ribeiro


A importância desse primeiro evento não precisa ser justificada quando se tem em mente o pioneirismo incentivador que envolve o curso de cinema na UnB. Vladimir Carvalho, cineasta e documentarista, parte essencial do desenvolvimento do cinema na Universidade de Brasília, contextualizou a criação da cidade na década de 1950 e do papel fundamental de Darcy Ribeiro na educação do Distrito Federal. Abordou a importância das ações de nomes como Paulo Emílio Sales Gomes, Lucila Bernardet, Jean-Claude Bernardet, Dib Luft e Nelson Pereira dos Santos. A ida de Paulo Emílio para Brasília, segundo Vladimir, está diretamente ligada com a criação e crise da Cinemateca Brasileira, que recorria à UnB para o abrigo de suas obras. Essa relação seria grande impulsionadora para a criação do curso de cinema.

Vladimir Carvalho- SUA 2012

Sérgio Moriconi trouxe para o debate sua experiência enquanto estudante da UnB. Tendo chegado à Universidade em 1974, narrou a impossibilidade de estudar a arte que o inspirava, dada à extinção do curso. Mencionou os 50 anos de Brasília, completados em 21 de abril, e a clivagem que o Golpe Militar trouxe à cidade e à sua produção cultural e intelectual. O golpe de 1964 afetou diretamente as disciplinas da área de humanas e provocou o êxodo de grande parte dos docentes, o que influenciaria a criação de cursos de cinema em outras localidades brasileiras e o seu fechamento na UnB. Narrando as experiências pessoais que envolviam as dificuldades para a realização de seu primeiro filme, Ceilândia 76, Sérgio falou sobre a importância das lutas e reivindicações para que o estudo cinematográfico renascesse.

Marcos Mendes - SUA 2012

Encaminhando o evento para sua finalização, Marcos Mendes abordou, de forma emocionada, os precedentes que levariam Darcy Ribeiro a impulsionar a criação do curso de cinema na UnB, chegando a seus ecos na atualidade. É importante lembrar, como Dani Marinho o fez, que muitos dos recursos didáticos utilizados em diversas Universidades brasileiras tem origem no ideal de Darcy Ribeiro, inspirado em moldes americanos.

Na sessão de perguntas ainda foram abordados temas como a importância da interdisciplinaridade do estudo e da formação humanística, além do engessamento universitário provocado pelo academicismo.  A atmosfera confluente de Brasília marcou a primeira Mesa da SUA 2012, que, a partir dos relatos locais, permitiu que os estudantes presentes, “corresponsáveis pelo país” – na palavra de Vladimir Carvalho – pudessem refletir sobre as influências nacionais.

Mesa 1 - SUA 2012

*Jéssica Agostinho é Editora Geral da RUA e estudante de Imagem e Som na Universidade Federal de São Carlos.

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