XII SOCINE

Certamente, a SOCINE é o encontro de estudiosos na área de cinema mais glamoroso do meio. Há uma certa aura em torno deste evento, onde os pensadores brasileiros que nos acostumamos a ouvir falar na graduação se encontram para divulgar suas pesquisas, ouvir o trabalho de seus pares, bem como fazer contatos e até colocar a conversa sobre o último filme de Bressane em dia. Foi nesse clima que embarcamos em um ônibus para fazer parte da história do pensamento crítico cinematográfico do país.

Para quem ainda não conhece – ou já ouviu falar, mas não conseguiu realmente descobrir no que consiste a SOCINE – faço um pequeno resumo. A Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual (são dois campos separados?) foi criada há 12 anos com a proposta de promover o encontro e o troca de experiências e estudos no campo do audiovisual, sendo formada hoje basicamente por professores, alunos e teóricos da área de cinema e comunicação de diversas cidades e universidades. O seu encontro anual é promovido com este mesmo objetivo. Há, desta forma, todo um movimento na organização deste evento durante um ano inteiro, a contar a partir do  anterior. Neste ano de 2008, o encontro anual da SOCINE foi realizado em Brasília, nas dependências da UNB, entre os dias 15 e 19 de outubro.

Textos referentes à XII SOCINE:

Corpo e olhar: a violência na representação da violência, por Juliana Panini
Mesa: Cinema e gênero, por Suzana Bispo
Mesa: Cinema, barbárie e nazismo, por Suzana Bispo
Mesa: Cinema, música e som, por Juliano Parreira

SOCINE: A convergência dos estudos em audiovisual (mas nem tanto)

A UFSCar, em seu primeiro ano de Pós-Graduação em Imagem e Som, teve uma participação significativa na apresentação de trabalhos. Foram 14 comunicações ao todo, contando-se professores, alunos e ex-alunos, seguramente uma marca recorde na história da universidade e é, sem dúvida, um ponto muito positivo. Somando-se aos alunos da graduação que se aventuraram pelas terras do cerrado brasileiro, o ônibus da UFSCar, em uma jornada um tanto quanto cansativa de 14 horas a partir de São Carlos, passando por Minas Gerais, Goiás e cidades-satélite do Distrito Federal, chegou à capital federal na madrugada que antecedia o início dos trabalhos do evento.

As dependências da FINATEC, fundação que dá suporte à UNB, realmente eram absolutamente confortáveis para as 8 mesas concomitantes que ocorriam em cada horário. Os sotaques de todo o país se misturaram em mais de 240 comunicações diferentes e distintas em tema, abordagem e estilo de apresentação. E se há algo de estranho em alguns dos comunicadores mais importantes do país é a dificuldade em se comunicarem pela fala. Foram tantas as leituras literais de textos prontos que, em maior ou menor grau, tornaram comunicações potencialmente interessantes em leituras tediosas e intermináveis. Ainda que por motivos compreensíveis – o tempo curto de 20 minutos para cada fala obriga o interlocutor a maximizar e condensar as informações mais importantes sem muita dispersão – acaba sendo um ponto a se melhorar na realização de eventos do gênero.

Outra questão que já levantei em um parágrafo anterior é a clara divisão, dentro do evento, entre o que se entende por “cinema” e o “audiovisual”. Fica claro que a inserção do termo “audiovisual” prevê a abordagem de um campo muito maior que o cinema e que a sigla SOCINE perderia parte de seu sentido se a entidade somasse ambos em um termo só. Contudo, essa divisão fica evidente também na divisão das mesas organizadas e no interesse que estas abarcam. Temas como jogos eletrônicos, televisão e mídias digitais como um todo tendem a compor mesas periféricas, atraindo somente um pequeno grupo de entusiastas destas áreas. Os pontos altos em público e repercussão, sem dúvida nenhuma, ainda ficam por conta de apresentações que abordam o grande cinema. Ajuda também o fato dos nomes cânones do audiovisual no Brasil ainda estarem absolutamente focados nesse assunto, pois falas de personagens imponentes como Ismail Xavier e Rubens Machado são acontecimentos únicos por si só. Todavia, pode-se pensar em uma forma mais orgânica de fazer estes dois nichos dialogarem um pouco mais para que os estudos audiovisuais no país não se resumam a castas fixas e incomunicáveis, eixos de uma mesma área que não conversam em suas semelhanças e muito menos em suas particularidades.

Um grande exemplo desta divisão está nas duas palestras especiais do evento, realizadas por personalidades estrangeiras – um dos EUA e outro da França. Focados especificamente nos estudos clássicos do cinema mundial, como a montagem paralela de Griffith, estes bons nomes conhecidos internacionalmente não passaram da fala básica que qualquer aluno de graduação ouve no primeiro semestre de história do audiovisual ou de teoria do cinema. Parece que a presença destas figuras traz mais imponência pelo nome e pelo local de onde vieram do que realmente pelo que vieram falar.

Independentemente dos pontos a se melhorar neste que é apenas a décima segunda edição do evento, a experiência de se participar do encontro da SOCINE é inexoravelmente única e importantíssima na vivência de quem pretende estudar os textos audiovisuais, ou mesmo para quem se entende como realizador ou comunicador. A diversidade de opiniões é extremamente rica e os debates e diálogos provocados por pesquisas muitas vezes inesperadas, tais como a de fan films ou de seriados americanos, ou outras vezes previsíveis, como a variedade de falas centradas em filmes como foi o caso neste ano de Tropa de Elite, são fantásticos. As figuras que conhecemos ao longo da viagem, as aventuras que um grupo de perdidos pode ter em tão pouco tempo em uma cidade seca, quente e de algumas pessoas mal-humoradas também são únicos, mas esse já é um assunto para se tratar pelos corredores e mesas de amigos. O que realmente importa nesta pequena análise do evento ocorrido em Brasília deste ano é a constatação de uma grande articulação que a área de estudos de cinema no Brasil desenvolveu durante os anos e como esta organização precisa evoluir para, de fato, abarcar todas as demais vertentes do grande campo do audiovisual.

Paulo Roberto Montanaro é mestrando em Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

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