Em sua sexta edição, o Vídeo Festival São Carlos 2008 aconteceu entre os dias 12 e 15 de novembro, com objetivo de proporcionar o alcance a um audiovisual de qualidade a um maior número de pessoas. O evento, organizado pelo SESC São Carlos e pela Prefeitura Municipal de São Carlos foi beneficiado pela recém inaugurada Sala de Exibição “José Saffioti Filho”, o Cine São Carlos. Esta, que agora é a maior sala de exibição do município, com cerca de 600 lugares, faz parte do Centro Municipal de Audiovisual “Eng. Gisto Rossi”, no Centro da cidade. Com a revitalização, foi possível então dividir as sessões com o já consolidado Cinema do SESC.
Além do novo espaço, um diferencial desta edição do Festival foi o destaque das sessões especiais. As já tradicionais sessões de curtas-metragens também foram apresentadas de forma diferenciada: apesar de concorrer dentro de cada uma das categorias (Ficção, Documentário, Experimental, Videoclipe e Animação), os filmes foram divididos em quatro programas mistos para exibição. Desta forma, o espectador pôde ver todos os “gêneros” em uma mesma sessão, o que se mostrou mais dinâmico e representativo da diversidade das obras selecionadas.
Alguns destaques ficaram por conta da projeção do filme “Encarnação do Demônio” e do esperado debate com seu diretor, José Mojica Marins. Na ocasião, a figura de José Mojica se confundia com o próprio personagem Zé do Caixão, a começar pela capa e pela cartola que portava. Os fatos e histórias contados também fizeram com que não fosse fácil separar o criador do personagem. O coquetel temático oferecido na seqüência ajudou a criar o clima de macabro proposto pelo filme. O cinema de terror também foi tema de um debate no Cine São Carlos no dia seguinte.
Outro grande momento do Festival foi o lançamento no dia 15 do filme “Sábado à Noite”, primeiro longa-metragem são-carlense. O roteiro foi produzido em uma oficina com jovens da cidade, e resultou em uma história baseada no dia a dia local. Diferentes locais e tribos estão representados nesta colagem de situações de uma noite são-carlense. O êxito da produção de baixíssimo orçamento em finalizar o filme foi prestigiado por um público que lotou o Cine São Carlos no sábado à noite – entre curiosos, entusiastas, equipe, elenco e figurantes. “Sábado à Noite” mostrou ser possível a realização de projetos ambiciosos, e fica como exemplo para futuras produções na cidade.
Também foram ministradas oficinas de Roteiro (com Fernando Bonassi) e de Direção de Arte (com Mônica Palazzo), além de palestra com Lourenço Mutarelli sobre o livro e o filme “O Cheio do Ralo”, como proposta do papel formador do Festival, não se restringindo apenas às exibições de curtas e longas-metragens.
Muitas vezes o ponto alto de um Festival com caráter competitivo é sua premiação, e desta vez tivemos como vencedores os curtas “Passo” (Animação), “A tal guerreira” (Documentário), “Reisado Miudim” (Ficção) e “Sentado na beira do rio” (Videoclipe). Já na categorial “Experimental” foi premiado o curta-metragem “Aeroporto”, produzido por alunos e ex-alunos do curso de Imagem e Som da UFSCar. O curta é um instigante retrato do não-lugar, de chegadas e partidas do aeroporto, com bonitos planos e interessante relação das imagens e dos sons.
Nesta edição também foi reformulada uma categoria específica, o “Prêmio Cidade de São Carlos”. Podiam se inscrever filmes de qualquer gênero e formato, desde que produzidos na cidade. O filme vencedor foi “Contos de Fada”, um trabalho interessantíssimo realizado por um grupo de alunos do curso de Imagem e Som da UFSCar no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). São fragmentos e histórias criadas em conjunto com os pacientes, em uma narrativa não usual que mistura fantasias e imaginação.
Há alguns meses o Vídeo Festival São Carlos divulgou que esta seria sua última edição com este nome e formato. Em 2009 ele será “atualizado para as recentes vertentes do audiovisual brasileiro”, como diz o programa desta edição. Isso mostra uma preocupação de seus organizadores em um diálogo com o que está sendo produzido e exibido nacionalmente, ao mesmo tempo em que procura se integrar e dialogar com a produção local. Essa preocupação para ambas as direções é importantíssima em um momento no qual cresce a cada ano o número de festivais audiovisuais no país. Buscar sua especificidade e sua integração na cena local é fundamental para a sobrevivência do Festival, ao mesmo tempo em que esta não deixa de ser uma oportunidade única para a presença de filmes e convidados especiais na cidade.
O diálogo com o público e com os realizadores locais é essencial, ainda mais neste momento próspero em que contamos com a presença de diversas produtoras e cineclubes, além da sala de cinema de rua recém resgatada. A articulação entre esses atores também está se esboçando com a consolidação do Conselho Municipal de Cultura e mais especificamente da Câmara Setorial do Audiovisual, instância na qual sociedade civil e poder público podem dialogar e traçar rumos não apenas para a produção, mas também para fruição audiovisual.
Esperamos que a ponderação entre o local e o global possa ser um dos caminhos para um novo festival que irá surgir a partir do próximo ano na cidade de São Carlos. Fica o desejo de um Festival que consiga atingir um público cada vez maior e também provocar debates e reflexões sobre o fazer cinematográfico no interior do estado.
Laura Teixeira é graduanda em Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)