FEVIS 2008: Festival de Vídeos da Imagem e Som

O FEVIS, Festival de Vídeos da Imagem e Som, foi um evento que aconteceu em São Carlos no dia 26 de novembro, consistido em 3 mostras de obras distintas. Os vídeos participantes foram captados por uma curadoria que selecionou filmes de diferentes temáticas, todos realizados por alunos do Curso de Imagem e Som, da Universidade Federal de São Carlos. Aliás, esse era um dos poucos quesitos obrigatórios: os filmes inscritos deveriam ter sido produzidos pelos estudantes após sua entrada no Curso de Imagem e Som, partindo da idéia do público notar possíveis evoluções com o passar dos anos.

A organização do FEVIS foi feita por Camila de Carvalho Alves, Ana Caroline Bittencourt, Thaisa Makino, Soraya Helena Abrão e Jun Yassuda Júnior, todos alunos do ano de 2007 da Imagem e Som. O dia 26 foi todo pensado no Festival, desde as sessões até a festa de encerramento e entrega dos prêmios.

A primeira sessão foi tematizada por vídeos curtos, com muitos calouros participantes. Dentre os vídeos minuto, mereceram destaque Uata Ueist, de Felipe Carreli e O mágico e o gato, de Danson Knetsch e Fausto Kutka. Uata Ueist explora o visual preferencialmente, com doses de experimentalismo, tanto em enquadramentos como na montagem. Já O mágico e o gato traz um pouco de comicidade em uma temática um tanto simples, se pensarmos nos inúmeros filmes engraçadinhos e pseudo-poéticos.

Um fato interessante ocorrido na primeira sessão foi a exibição dos vídeos De Pinga em Pinga, de Matheus Cury, Felipe Carreli e Felipe Passarini, e Reflexo, de Yasmin Bidim, Camila Kussaba e Matheus Chiaratti, que foram concebidos durante a Noite de Kino, do Festival Internacional de Curtas-metragem de São Paulo deste ano. Os estudantes da UFSCar desenvolveram, com recursos próprios, todo o vídeo, com uma temática inicial proposta pelo Festival: Política Viva!. O vídeo De Pinga em Pinga baseou-se no gênero documentário, com vários depoimentos de pessoas de diferentes classes sociais e ideológicas, que falaram sobre o assunto política, mas sem talvez, uma uniformidade no tema. Apresentou ainda bons enquadramentos, como um plano médio de uma lata de alumínio “empacada” na escada rolante. Já o vídeo Reflexo partiu para o lado poético do tema, analisando (ou não) de uma forma performática o tema proposto. Uma seqüência, no mínimo, inusitada, é o que a personagem começa a discursar em praça pública. O áudio do discurso não nos é apresentado, evidenciando-se um possível vazio do discurso da mulher, que como muitos, não têm o que dizer. Juntando-se a isso, ninguém parece a ouvir. Ainda bem.

O não inédito Contos de Fada também participou da primeira sessão. O vídeo, com longos planos-seqüência, mostra a apresentação de uma peça de teatro feita por atores amadores. O vídeo carrega consigo uma simpatia natural do espectador com o tema do vídeo, mas peca em técnica durante um extenso caminho, como luz estourada e excesso de movimentos de câmera (todos com câmera na mão). Esses defeitos prejudicam no sentido em que nos sentimos desconfortáveis assistindo ao vídeo, não pelo tema retratado, tão delicado, e sim pela técnica um tanto deficiente.

A única comédia (ou seria um drama irônico?) foi A princesa Cida, de Gabriela Nogueira e Thiago Rigolino. O vídeo traz uma garota com vestes de princesa, em uma sala de espera, conversando com outro rapaz. O vídeo traz tiradas sarcásticas, mas erra na arte. Uma coisa é assumir o escracho como estética da arte, que seria muito bem encaixado no vídeo, mas outra é o abandono da arte, como aparenta já nos primeiros minutos do vídeo.

A segunda sessão do Fevis apresentou vídeos mais complexos, seja pelo conteúdo ou pela técnica (e/ou produção). Dentre os vídeos que merecem destaque está Um conto de solidão, de Essi Rafael. O Vídeo ganhou em primeiro lugar pelo júri popular, com boa fotografia e arte cabível ao tema e opção estética.

O eleito em segundo lugar, pela preferência do público que assistiu ao Festival, foi o divertido Fale cum ela!, de Anna Kuhl e Elisa Carareto. O vídeo em pixelation foi um dos poucos descomprometidos com causas existenciais, e agradou, com imagens engraçadas e simples. Traz ainda, no fim, um funk engraçadinho cantado por uma voz feminina ainda mais divertida. Merecedor de um primeiro lugar, com certeza.

A arte foi, finalmente, bem representada pelo bom Quando o Mundo Mudou, de Priscyla Bettim e Alessandra Zini. Com enquadramentos clássicos, o vídeo se destaca mesmo pela arte muito bem trabalhada e representada. Sem uma narrativa consistente, o vídeo poderia perder-se em tanta subjetividade, mas a graça está justamente na beleza de imagens que nos são mostradas, com um rapaz, em seu quarto-mundo, que estuda e procura por algo invisível (ou desinteressante). O cuidado com cada detalhe, como os livros, todos de cores lúdicas, poderia servir de exemplo aos outros realizadores, que, tomada as medidas proporções, parecem sempre deixar de lado a arte de seus filmes.

Na terceira sessão do Festival, tivemos um especial só com vídeos de Animação. Entre eles estavam o ótimo Pra Chegar até a Lua, de José Guillermo Hiertz, que foi exibido em 35 mm, e A Traça Teca, de Diego Doimo, que virará um longa-metragem. Os dois filmes foram muito bem aceitos pelo público, tanto pela história simples e carismática, de insetos “engraçadinhos”, e também pela ótima técnica.

E foi na terceira sessão que tivemos a pré-estréia do TCC de 2003, Um Lugar Comum, de Jonas Brandão. O filme foi finalizado em película 35 mm só em 2008, dado os conhecidos e caros meios para se finalizar um filme nestas condições no Brasil. Com o CineUFSCar cheio, o filme foi bem recebido pelo público, mostrando grande aceitação a animações por parte dos espectadores do Festival. Vale lembrar que os filmes da terceira sessão não entraram em votação de escolha do publico.

E como cerimônia de encerramento, tivemos o show do cantor Bonnie Prince Billy e da banda Aeromoças e Tenistas Russas. A entrega dos prêmios ocorreu entre os shows dos artistas.

O Fevis foi válido não só para os calouros, que assistem a evolução (ou não) de seus veteranos ao longo dos anos, e sim, também, para toda a Universidade, que vêem o que acontece no mundo da Imagem e Som, sendo que existe uma grande probabilidade de muitos nem saberem que na UFSCar existe um curso de Audiovisual. Esperar grande técnica (ou ainda, técnica perfeita) é uma ilusão, se notarmos a falta de estrutura do curso, porém ver como os estudantes fazem cinema nessas mesmas difíceis condições é estimulante e respeitável.

Jun Yassuda Júnior é graduando em Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e curador das sessões do Fevis 2008.

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