When You’re A Stranger (Tom DiCillo, 2009)

Sabrina Haick*

MR Mojo Risin

Em meio a muita música, álcool e ácido, “When You’re Strange” (2009) conta a história do The Doors desde o seu surgimento, em 1965, até a morte de seu líder, Jim Morrison. Dirigido por Tom DiCillo e narrado pelo ator Johnny Depp, o filme é positivamente comparado com “The Doors”, de Oliver Stone, lançado em 1991.

Segundo os integrantes vivos da banda, Ray Manzarek (guitarra), Robby Krieger (teclado) e John Densmore (bateria), o filme de DiCillo consegue captar de maneira mais profunda a personalidade complexa de Jim em relação à obra de Stone. Talvez isso se deva ao fato de que a película inteira é composta de arquivos originais, alguns deles se tornanando públicos pela primeira vez.

Foto promocional do filme "When you're Stranger - A film about The Doors"

O uso de tais arquivos acentua a atitude documental do filme, quebrada apenas nos instantes em que trechos de um vídeo muito intrigante de Jim são inseridos. Entre festas, ensaios e shows, Morrison aparece dirigindo um carro numa estrada vazia de um lugar desconhecido, o que acaba funcionando como uma boa metáfora. Como no início do filme, quando Johnny Depp anuncia a morte de Jim, o vocalista aparece bêbado e acelerando o automóvel sem medo, como se anunciasse o seu fim. No seu aniversário de 27 anos, após as misteriosas mortes de Jimi Hendrix e Janis Joplin, o próprio havia afirmado: “Estão procurando pelo terceiro”.

Importantes acontecimentos da história do The Doors são retratados na obra. Um deles é o incidente do show no Miami’s Dinner Key Auditorium, em 1969, do qual Jim foi expulso por supostamente mostrar seu pênis para mais de 10 mil pessoas, que pediam incessantemente pelos solos psicodélicos de “Light My Fire”. No entanto, algo parecido já havia ocorrido logo no início da carreira da banda, fato também retratado no filme. A primeira vez que Jim proferiu frases de incesto no meio de “The End”  em uma apresentação pequena e na qual o The Doors foi proibido de voltar ao local. “Mommy, I want to fuck you all night” talvez tenha sido a primeira das grandes polêmicas de Morrison.)

“When You’re Strange” parece separar a história do The Doors em duas fases: antes e depois da forte dependência alcoólica de Jim. Seu gosto pela bebida nunca foi novidade, mas piorou depois de sofrer uma bad trip de LSD. Assim, sua relação com os outros integrantes da banda enfraqueceu e suas performances no palco se tornaram completamente imprevisíveis.

Jim Morrison era o "Mr. Mojo Risin" sedento da atenção de todos a sua volta. O Documentário de Tom DiCillo retrata muito bem isso.

O enfoque em Morrison se faz quase inevitável, já que sempre foi o preferido das câmeras, que, por sua vez, foram totalmente aceitas por ele. Na voz de Johnny Depp, ouve-se que Jim possuía uma certa necessidade de atenção para existir, o que não se pode negar. Não foram poucas as vezes que o Lizard King passeou entre o público antes do show, como se procurasse absorver algo precioso deles. Era um egocêntrico destemido, que chegou até a misturar as letras do seu nome e cantá-las repetidamente: “Mr. Mojo Risin, Mr. Mojo Risin, Mr. Mojo Risin”.

Assistir ao incrível sucesso, aos malucos escândalos e à triste e inesperada morte de Jim fica fácil ao som de clássicos como “Love Me Two Times”, “Riders On The Storm”, “Touch Me” e “L. A. Woman”. Um filme de uma boa história, para ouvir uma boa música e se sentir estranho como Jim se sentia.

Sabrina Haick* graduanda Jornalismo na PUC São Paulo.

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