Bang Bang com Coca e Batata Grande (Fernando Rodrigues, UFSCar, 2010)

Entrevista com o diretor Fernando Rodrigues sobre o curta metragem Bang Bang com Coca e Batata Grande (UFSCar, 2010).

Por Fernanda Sales*

1) Como começou o seu envolvimento com o audiovisual? Que papel teve a universidade nisso?
Comecei a me interessar por audiovisual na sexta série quando a câmera VHS do meu pai quebrou. Como era muito caro para consertar, ele acabou me dando ela para eu brincar. Por sorte descobri que era possível gravar se ela estivesse ligada no vídeo cassete. Desde então, passei a fazer vídeos com bonecos de Power Rangers. Por outro lado, nunca fui cinéfilo ou tive uma assiduidade para ver filmes, gostava mesmo era de fazer. A universidade para mim teve o papel importante de me colocar em contato com mais gente que gosta de fazer e pensar cinema o que me possibilitou um pensamento mais profundo sobre essa arte.

2) O curta Bang Bang com Coca e Batata Grande foi realizado para a disciplina “Realização Audiovisual II”, havia alguma exigência inicial do professor(a) para esse projeto? Qual foi o ponto de partida?
Existia uma demanda que a peça audiovisual não ultrapassasse dez minutos e que fosse realizada em três dias. Entretanto isso não simbolizou desafios. O curta foi inteiro rodado em um dia e meio e sequer passou perto dos dez minutos. A idéia havia nascido de uma cena excluída de outro roteiro e foi desenvolvida em cima do intuito de fazer um falso documentário. Um detalhe importante deste curta é que tudo foi planejado para ser feito do modo mais simples possível. Enxugamos o roteiro ao máximo para restar somente aquilo que era essencial. Acho que essa é a grande virtude do curta: ser simples, direto e eficaz.

3) O curta foi escrito e dirigido por você, fale um pouco de suas influências e referências que se refletem de alguma forma no filme.
Eu sempre tive uma visão um tanto quanto pessimista do mundo. Acho que no geral a sociedade infelizmente tende para o mal. Isso não me torna um acomodado e nem me faz deixar de tentar ser uma pessoa decente, mas por outro lado não me dá brecha para acreditar que TUDO irá dar certo. Muitas vezes, o nosso cotidiano mergulha em um caos por fatores imprevisíveis que fogem do nosso controle. Pensando nisso, eu comecei a olhar para o nosso cotidiano de gravação. Quanto imprevistos acontecem e como as pessoas estão expostas a um stress intenso. Aí entrou uma outra característica minha: exagerar e estereotipar tudo. Pensei em como seria uma situação extrema de gravação que levasse as pessoas a fugirem do controle e fazerem algo totalmente impensado. Um filme que foi uma inspiração para mim foi Noite Americana, do Truffaut. Sem querer dar uma de cult, esse filme foi uma referência importante pelo modo como ele misturava as cenas do real-ficcional (o pseudo-making-of), do ficcional-ficcional (a gravação dentro da gravação) e o quase real (imagens do making of de fato do filme). Com certeza a influência desse filme foi importante na decisão de usar somente planos sequência e bastante depoimentos forjados no filme.

4) Como se deu a formação de equipe para o curta? Como você vê a formação de uma equipe limitada a sala de aula?
Desde o primeiro ano eu tive a felicidade de me identificar com algumas pessoas. A Estela Carbonel, o Ivan Franco e o Plínio Rozani são hoje muito mais do que grandes amigos, são parceiros de tudo na minha vida. Pessoas que interpenetram em todos os estágios da minha vida (exceto na minha relação com minha namorada), até minha mãe manda ovo para eles na páscoa. Hoje não tem como muito pensar em um set ou em uma festa de aniversário minha sem eles. Trabalhar com essas pessoas com certeza é a grande alegria de ter vindo para São Carlos.
No Bang Bang não foi diferente. Mais uma vez nós trabalhamos juntos e, obviamente, discutimos e nos acertamos para chegar um resultado final que eu acho sensacional. Para isso, nós contamos também com a ajuda de outras peças que se juntaram na equipe e também foram fundamentais que são o Gustavo Fonseca e o Wilson de Paula, sem contar em todos os assistentes, os quais são a base que realmente tornam possível o filme.
Honestamente não vejo grande problema em trabalhar somente com as pessoas da Imagem e Som. Tem muita gente boa aqui, muita gente que se esforça para suprir as adversidades do curso e do audiovisual.

5) Quais as maiores dificuldades que você, como estudante universitário de audiovisual, enfrenta para a realização de seus projetos?
Tempo e dinheiro, ou seja, dinheiro ao quadrado. Trabalhar com orçamento minúsculo ou inexistente é muito complicado. Várias vezes uma cena não fica boa e não é culpa de ninguém. Só não havia como fazer mesmo. Por outro lado, eu sou adepto do faça o possível e adapte o impossível. Sempre procuro moldar previamente o roteiro e as situações para fazer o melhor trabalho. Nunca fico me enganando que serei capaz de fazer o que não posso, por outro lado sempre estou me levando ao limite. Acho que é isso que faz o trabalho valer a pena: saber que fizemos o máximo, não o confortável.

6) Fale um pouco do que está fazendo agora, no que está envolvido atualmente, e de suas perspectivas profissionais.
Nesse momento estou envolvido em três projetos que tem me empolgado muito. O primeiro, o qual estamos gravando agora se chama Os Mal-Agradecidos, do Lucas Abrahão, no qual faço direção de fotografia. As primeiras diárias foram muito “da hora” e acho que será um trabalho do qual irei me orgulhar bastante. Também estou fazendo direção de fotografia no Seu Arlindo vai à Loucura, do Raoni Reis, pelo qual irei me graduar no curso de Imagem e Som. É um roteiro fantástico da Érika Kogui e pelo modo como as coisas vão será o grande portfólio para toda a equipe. Por fim, não consegui deixar de realizar mais uma direção esse ano. Estamos em fase de produção do curta metragem Delivery, no qual repito a mesma equipe do Bang Bang, mas desta vez com a Bianca Chinaglia e o Celso Moretti na arte e som, respectivamente. O projeto está muito bem encaminhado e estamos muito felizes de realizar nosso primeiro curta metragem 100% financiado com dinheiro de patrocinadores e apoios.
Esse ano eu também decidi me dedicar ao estudo da pós-produção e animação 3D, espero depois da faculdade trabalhar nessa área. Isso porque a animação 3D permite que você faça tudo que quiser, o seu limite é o seu conhecimento. Depois que tive alguns problemas de saúde ano passado, decidi rever a forma como trabalhava. A correria de produção e desprodução acaba cobrando muito da minha saúde e da de qualquer um. Acho que vou ter uma qualidade de vida maior na animação. Entretanto, não penso em abandonar totalmente os sets, principalmente, na direção de fotografia. Direção e Produção é mais difícil que eu dê seqüência depois da faculdade.

Queria terminar a entrevista dedicando não só esse trabalho, mas todos os já realizados aos meus queridos amigos/equipe que sempre estão do meu lado quando preciso. Obrigado mesmo.

Bang Bang com Coca e Batata Grande from Fernando Rodrigues on Vimeo.

*Fernanda Sales é graduanda do curso de Imagem e Som da UFSCar.

Nova seção da RUA! Agora a Revista Universitária do Audiovisual vai selecionar curtas universitários para serem apresentados junto com entrevistas exclusivas contando o processo de produção e filmagem. Curtas metragens produzidos por universitários de todo o país podem participar, entre em contato com a RUA (rua@ufscar.br) e envie o seu curta também!

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